A iniciativa de outorga de medalhas pelos 50 anos da independência foi, sem dúvida, acertada. O Presidente João Lourenço está de parabéns pelo gesto nobre e patriótico: o reconhecimento público daqueles que se entregaram de corpo e alma à causa da libertação nacional.
Contudo, se a iniciativa é louvável, a sua implementação, em certos casos, não o é. O processo tem sido manchado pela exclusão ostensiva de figuras incontornáveis do nacionalismo angolano. (Há quem diga que, para encerrar com chave de ouro as celebrações dos 50 anos, Holden Roberto e Jonas Savimbi serão homenageados no dia 11 de Novembro).
A expectativa é grande. Boa parte dos angolanos deseja que tal se
concretize, para que se faça justiça, uma vez que os angolanos conhecem a sua
história e os seus verdadeiros protagonistas. Sabem quem é quem. Quem foi
perseguido pela PIDE e os que foram Bufos. Sabem quem foram os vizinhos presos
por razões políticas durante o regime colonial; conhecem também os que foram
mortos, os deportados e os que conseguiram fugir para além-fronteiras.
Um dos que foi preso na famosa cadeia do Missombo foi o nacionalista
Zeferino Chipeio. Enquanto o nacionalista Armando José Chilala foi um dos
deportados para o Tarrafal. Já o pastor João Moco, do Centro Evangélico da
Esokela, localizado no Monte Belo/Bocoio, foi barbaramente assassinado em Abril
de 1961, quatro ou cinco dias depois de ter sido transferido para a terrível
cadeia Mombaka, actual Comarca do Lobito. Segundo o seu filho, Dr. Júnior,
antigo Vice-Ministro da Reinserção Social do Governo de Angola, tudo aconteceu
na mesma fase em que a PIDE-DGS prendeu e fuzilou o pastor Gaspar Kakunda
Vanhãle.
os que conseguiram fugir para além-fronteiras, entre vários, destaco o meu
avô, Marcolino Nhany, a quem, depois de a mãe Rebeca me ter contado a sua
história, passei a chamar-lhe Pastor Revú. Ele é referenciado pelo missionário
americano Lowrence W. Henderson na sua obra A Igreja em Angola, publicada em
1990 pela Editorial Além-Mar, em Lisboa. O pastor Revú surge ao lado de outras
figuras marcantes da história da Independência de Angola, como José João
Liahuka, Alexandre Magno Chinguto, Jerónimo Wanga, Ruben Sanjovo, Victor Afonso
e Jorge Valentim.
Ele foi um revolucionário convicto. Já nas décadas de 1950, quando fundou o
seu Centro Evangélico de Kangombe, em Kassongue, sua terra natal, ligado à
Missão Evangélica de Elende, do pastor Ngonga Liahuka; usava os púlpitos para
denunciar as injustiças do colonialismo. Por isso, foi perseguido e vigiado
pela polícia política, facto que precipitou a sua fuga para o estrangeiro.
Antes de abandonar o país, o pastor Revú andou escondido nas matas da
Missão de Elende/Ukuma, com a cumplicidade do nacionalista Vitorino Solunga.
Mais tarde, transferiu-se para Benguela, de onde organizou a sua fuga, no dia 4
de Setembro de 1962. Para não ser identificado, utilizou uma identificação
falsa passada pelo nacionalista Alfredo Kaputo, então funcionário da
administração da Katumbela. Chegado à fronteira, contou com o apoio do
nacionalista Jonatão Chingunji, que o ajudou a atravessar.
Dois anos depois, em 1964, partiu de Kinshasa para o Congo-Brazzaville, na
companhia do Dr. Savimbi e demais companheiros, na sequência das desavenças com
a UPA-FNLA. Em Brazzaville, participou em programas religiosos da rádio Angola
Combatente, que os seus filhos escutavam a partir de Benguela.
Mais tarde, regressou ao então Congo Belga, onde foi acolhido pelo
nacionalista Jeremias António Bandwa, que, em 1965, também escapou, por um
triz, das mãos da PIDE e, às escondidas, conseguiu atravessar a fronteira,
levando consigo a esposa e os filhos.
Esses nomes de nacionalistas, e outros que ainda virão, não podem ser
esquecidos. Por tudo quanto fizeram pela independência nacional, merecem ser
homenageados.
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