A cerimónia oficial de abertura da 17ª Cimeira de Negócios Estados Unidos da América-África aconteceu na manhã desta segunda-feira em Luanda, com Chefes de Estados e de Governo a prestigiá-la e mais de dois mil presentes, entre investidores, banqueiros, dealers, empreendedores e criadores de diferentes segmentos, além de políticos e diplomatas.
Foi o arranque de um diálogo que os organizadores esperam venha a aproximar
os Estados Unidos da América a África, numa visão nova e inspiradora que
privilegie o investimento directo de companhias americanas no continente.
Disse-o, de resto, o Chefe de Estado angolano, João Lourenço, ao assinalar a
transição da presença americana em África de um registo assistencialista para
“uma presença mais orientada para o investimento privado, inovação e construção
de parcerias robustas”.
O discurso do Presidente da República de Angola, em versão integral, é o
que se segue:
“ Excelências Chefes de Estado, de Governo e Chefes de Delegações;
-Sua Excelência Mohamed Youssuf, Presidente da Comissão da União
Africana;
- Suas Excelências Vice-Presidente da República, Presidente da Assembleia
Nacional e Presidentes dos Tribunais Superiores;
-Excelentíssimo Senhor Embaixador Trot Fitrel, Oficial Sénior do Bureau África
do
Departamento de Estado;
- Excelentíssimo Senhor Massad Boulos, Conselheiro Sênior para os Assuntos
Africanos, Árabes e do Medio Oriente;
- Excelentíssimo Senhor Thomas Hardy, Director da Agência de Comércio e Desenvolvimento dos EUA;
-Excelentíssima Senhora Florizelle Liser, Directora Executiva do
Conselho Corporativo para África;
- Distintos Membros do Executivo;
-Excelentíssimo Governador da Província de Luanda;
- Distintos Presidentes do Banco Africano de Desenvolvimento, da
AUDA-NEPAD», do Banco de Comércio e Desenvolvimento, do Banco Árabe de
Desenvolvimento e da Cooperação Financeira Africana.
-Caros Convidados;
-Minhas Senhoras, Meus Senhores
É com elevada honra que me dirijo a todos vós, na qualidade de anfitrião desta
Cimeira empresarial, um espaço privilegiado para continuarmos a edificar um
paradigma económico baseado numa visão de parceria estratégica com vantagens
recíprocas para o desenvolvimento das nossas nações e povos umbilicalmente
ligados por um passado histórico comum, a África e os Estados Unidos da
América.
Hoje mais do que nunca, o continente africano posiciona-se como um dos grandes
motores de fomento do crescimento global, com uma população jovem, inovadora e
activa, recursos naturais abundantes e crescente integração dos seus mercados.
África apresenta-se como um espaço privilegiado de oportunidades de
investimento e crescimento.
Ao longo da última década, assistimos a profundas transtormações económicas em várias regiões africanas.
Reformas estruturais têm sido implementadas para tornar os nossos países mais
atractivos ao investimento, com foco na transparência, na integração regional,
na estabilidade macroeconómica e na diversificação das nossas economias.
O que está a acontecer em países como Angola, onde a economia voltou a crescer
de forma consistente a uma taxa de 3,5% no primeiro trimestre deste ano, é
reflexo de uma tendência mais ampla no continente, que se reflecte na afirmação
da resiliência e dinamismo económico dos nossos países.
No entanto, para desbloquear plenamente o nosso potencial, devemos intensificar
e acelerar ainda mais os processos em curso de integração económica
continental.
Precisamos de corredores logísticos mais funcionais, regras comuns que
facilitem a mobilidade de capitais, mercadorias e pessoas.
O fortalecimento da Zona de Comércio Livre Continental Africana é, por isso,
uma prioridade estratégica e representa uma extraordinária oportunidade para a
partilha de infra-estruturas, conhecimento, mercados e atracção de
investimento.
Para torná-la uma realidade e garantir o desenvolvimento económico e social de
África, o continente vem lutando por conseguir junto das instituições
financeiras internacionais como o Banco Mundial, Fundo Monetário
Internacional, de outras congêneres e da banca, condições mais justas e
favoráveis de financiamento e crédito para o necessário investimento público em
infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, portuárias, de energia e água, de
tecnologias
de informação e comunicações.
Minhas Senhoras, Meus Senhores,
Os laços económicos entre África e os Estados Unidos da América têm potencial para crescer de forma significativa.
As oportunidades de investimento privado directo estão em áreas-chave que
correspondem tanto às prioridades do continente como às vantagens comparativas
das empresas norte-americanas, na qual destacamos as energias renováveis, a
agroindústria e segurança alimentar, perante uma disponibilidade de milhões de
hectares de terras aráveis, abundância de recursos hídricos, bom clima, grande
oferta de mão de obra jovem e uma necessidade crescente de modernização
tecnológica e das tecnologias digitais, onde a inovação africana se cruza com a
capacidade de investimento americana para criar
soluções escaláveis.
Destacamos também os minerais estratégicos, incluindo os minerais críticos
para a transição energética global, cuja exploração responsável pode
transformar as nossas economias e sociedades.
Neste capítulo, esperamos mais do que capital, contamos com parcerias que
se enquadrem na soberania dos nossos países, que valorizem o conteúdo local,
que promovam a transferência de conhecimento e que contribuam para a geração de
empregos qualificados.
Excelências,
Minhas Senhoras, Meus Senhores,
Este Fórum deve ser visto como uma peça importante nas relações económicas entre África e os Estados Unidos da América.
África já não é apenas um continente de grande potencial de riqueza mineral, de
recursos hídricos e florestais, de crescimento demográfico inigualável, é cada
vez mais um continente de decisões transformadoras e projectos concretos.
Pretendemos e estamos a trabalhar para electrificar e, consequentemente,
industrializar nossos países, acrescentando valor às nossas matérias-primas,
aumentando a oferta de postos de trabalho, para evitar o êxodo dos nossos
jovens que constituem nosso maior activo, fazerem a perigosa e humilhante
travessia pelo Mediterrâneo com destino para a Europa e outros lugares na busca
de emprego e condições de vida.
Do Norte ao Sul e do Atlântico ao Índico, multiplicam-se investimentos
estruturantes que estão a moldar um novo panorama económico africano, desde o
Corredor do Lobito, que vai ligar por linha férrea o porto do Lobito no oceano
Atlântico, ao porto de Dar-Es-Salam no oceano Índico e promete transformar o
comércio intra-africano e intercontinental, às zonas económicas especiais em
expansão no continente, passando pelas iniciativas em curso para desenvolver cadeias
de valor regionais em sectores como os minerais críticos, a agricultura e a
energia, apenas para citar alguns.
Paralelamente, a transformação digital do continente africano está em curso e a grande velocidade. Start-ups e plataformas tecnológicas surgem diariamente, impulsionadas por uma juventude criativa e resiliente que encontra no digital uma via de inclusão, empreendedorismo e empregabilidade.
Com mais de 70% da população africana abaixo dos 30 anos, não é exagerado dizer que o futuro da inovação global terá também a impressão africana, o que de alguma forma já vem acontecendo.
Num mundo marcado por instabilidades geopolíticas persistentes do Leste Europeu ao Médio Oriente, o continente africano, apesar de algumas bolsas localizadas de conflitos armados ou de tensão política, atirma-se como um parceiro de estabilidade e visão de longo prazo.
As conjunturas externas reforçam ainda mais a urgência de aprofundarmos os nossos laços de confiança, cooperação económica e segurança estratégica, onde o papel dos Estados Unidos da América é incontornável, por terem um papel único à escala global.
Ao longo das últimas décadas, a presença americana em África tem evoluído,
passando de uma presença marcada sobretudo por assistência, para uma presença
cada vez mais orientada para o investimento privado, inovação e construção de
parcerias robustas.
No entanto, gostaríamos que o investimento privado directo americano no nosso continente não se limitasse apenas à extracção de recursos minerais convencionais e raros, ao sector energético do petróleo e gás, mas que se interessasse também por outro tipo de indústrias transformadoras, pela indústria do ferro e do aço, do alumínio, do cimento, da agropecuária, da indústria naval, do automóvel e do turismo.
Empresas americanas que hoje operam em África, incluindo em Angola, encontram um ambiente de negócios cada vez mais aberto, que protege o investidor privado estrangeiro, com governos empenhados em facilitar, desburocratizar e criar as condições para que seja o sector privado a liderar a economia.
Para o empresariado norte-americano, África está pronta, os nossos governos
estão preparados para ser facilitadores e o nosso sector privado está
disponível para construir alianças que gerem lucros, mas também prosperidade
partilhada.
Minhas Senhoras, Meus Senhores,
As novas dinâmicas fazem-nos perceber que é tempo de substituirmos a lógica da ajuda pela lógica da ambição e do investimento privado. É tempo de olharmos para África como uma parceira credível, que tem muito para oferecer, mas que carece de capital financeiro e de know-how, interessada em juntar sinergias em benefício mútuo.
Os Estados Unidos da América, que nunca esteve envolvido na colonização dos
países africanos, deve ter uma visão diferente, descomplexada sobre o
continente e, por isso, considerar que o desenvolvimento de África com a vossa
contribuição, será
benéfico para a América e para o mundo.
Se unirmos forças, juntos temos a chave para a solução das duas principais
crises que afectam negativamente a economia mundial, a crise alimentar e a
crise energética.
Uma vez mais, sejam todos bem-vindos e disfrutem da beleza desta cidade capital
Luanda, da generosidade e acolhimento dos angolanos. Experimentem a nossa
música, dança, culinária e recantos naturais únicos.
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