O ex-presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, foi ouvido nesta terça-feira (1) por juÃzes de instrução do Tribunal Judicial de Paris, no âmbito de um processo aberto a seu pedido, no qual denuncia o que considera ter sido um “sequestro arbitrário” após o golpe de Estado que o afastou do poder em agosto de 2023.
A audiência teve lugar no Pólo de Crimes contra a Humanidade da justiça francesa. Bongo, que se apresentou como parte civil (vÃtima), formalizou acusações que incluem tortura, maus-tratos e detenções ilegais sofridas por ele e por membros da sua famÃlia após a queda do seu regime. A queixa foi protocolada meses antes, quando o ex-chefe de Estado ainda se encontrava sob restrições em Libreville.
Em maio de 2025, Ali Bongo deixou o Gabão rumo a Luanda, Angola, acompanhado pela esposa, Sylvia Bongo, e pelo filho, Noureddin Bongo Valentin, que estavam também detidos desde o golpe. A libertação da famÃlia foi viabilizada por motivações humanitárias, invocando questões de saúde, num processo que envolveu mediação diplomática do presidente angolano, João Lourenço.
A estadia em Angola durou algumas semanas, até que Bongo viajou para Paris para formalizar e sustentar judicialmente a sua denúncia.
Fontes próximas ao processo indicam que os juÃzes franceses já reuniram elementos considerados relevantes, incluindo testemunhos, datas e contexto polÃtico da detenção de Bongo e sua famÃlia após o golpe militar liderado por Brice Oligui Nguema, hoje chefe de Estado do Gabão.
Os advogados de Bongo classificaram a audiência como “um passo importante na luta por justiça” e declararam que esperam que o caso sirva de alerta internacional sobre a forma como transições de poder estão a ser conduzidas em determinados paÃses africanos.
O governo gabonês atual rejeita as alegações e reafirma que todos os
procedimentos judiciais contra membros da antiga elite presidencial seguem os
trâmites legais e respeitam os direitos humanos. A Procuradoria de Libreville
indicou que os processos contra Sylvia e Noureddin Bongo continuam ativos e que
sua libertação é provisória.
A queixa apresentada em Paris, por sua vez, poderá ter repercussões
diplomáticas e jurÃdicas se as autoridades francesas decidirem avançar com
investigações formais contra figuras do atual governo gabonês.
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