Uma família em Luanda, que pediu anonimato, denuncia o Hospital do Capalanga, no Município do Mulenvus, por alegada negligência médica que resultou na morte de um recém-nascido, na sequência de uma cesariana recusada pelo médico em serviço. O caso ocorreu na noite de 26 de Junho de 2025, e tem gerado indignação nas redes sociais e entre familiares da vítima.
Segundo o relato do esposo, a sua mulher deu entrada na unidade hospitalar por volta das 18 horas, já em trabalho de parto. Com o evoluir da noite, as dores intensificaram-se, e a parturiente implorou, em lágrimas, pela realização de uma cesariana.
O pedido, contudo, não foi atendido: “O médico cirurgião que estava de serviço disse que estava cansado, que já tinha feito muitas cirurgias naquele dia. A dor da minha esposa foi ignorada. A vida do nosso filho foi deixada para segundo plano”, contou o denunciante, visivelmente abalado.
Foi apenas na manhã seguinte, por volta das 8 horas,
que, graças à atenção de um enfermeiro, o estado grave da paciente foi novamente
reportado ao médico. O parto foi então realizado, mas o bebé já apresentava
síndrome de aspiração de mecónio, uma complicação provocada pela demora na
assistência cirúrgica.
“Poucas horas depois, recebemos a pior notícia das
nossas vidas: o nosso bebé não resistiu.”
O Hospital do Capalanca terá alegado, segundo os
familiares, que foi a própria paciente quem recusou a cesariana — uma afirmação
classificada pela família como “uma inversão cruel dos factos” e uma tentativa
de desresponsabilizar os profissionais de saúde envolvidos.
“Hoje não temos forças. Apenas dor. E a profunda
revolta de ver vidas inocentes ceifadas pela negligência e pelo desrespeito à
dignidade humana. Não queremos vingança. Queremos justiça.” lê-se na denúncia.
A situação relança o debate sobre a responsabilidade
médica nas unidades públicas de saúde em Angola e sobre a impunidade que,
segundo activistas e utentes, continua a proteger profissionais e instituições,
mesmo em casos graves de negligência.
A família dirige ainda um apelo directo à Ministra da
Saúde, Dr.ª Sílvia Paula Valentim Lutucuta, pedindo medidas concretas:
“Quantas mães e pais precisam perder os seus filhos
para que se exija responsabilidade nas unidades hospitalares públicas? O que
mais precisa acontecer para que a vida dos angolanos valha algo diante do
Estado?”
A equipa do O Decreto tentou, sem
sucesso, contactar a Ministra da Saúde para obter um posicionamento oficial
sobre o caso.
0 Comentários