O general Kopelipa afirmou que o Estado angolano não sofreu prejuízos por ações do Gabinete de Reconstrução Nacional. Segundo ele, o gabinete cumpriu os projetos que lhe foram atribuídos, sem qualquer conduta lesiva.
"O Estado não foi, em circunstância alguma, lesado em nenhuma conduta
do GRN, porque realizou os projetos mandatados e aprovados pelo Conselho de
Ministros. [Sobre o] que não foi executado não podem ser assacadas
responsabilidades ao GRN", afirmou o general angolano, no segundo dia de depoimento
no âmbito do julgamento em que é acusado dos crimes de tráfico de influências,
branqueamento de capitais, peculato, burla por defraudação, falsificação de
documentos, associação criminosa e abuso de poder.
O GRN foi uma entidade criada para coordenar e implementar os esforços de reconstrução do país após a Guerra Civil, que terminou em 2002. "Kopelipa" é arguido no processo cujo julgamento decorre no Tribunal Supremo, em Luanda, desde o passado dia 10 de março, juntamente com Leopoldino Fragoso do Nascimento "Dino", Fernando Gomes dos Santos, Yiu Haiming, e as empresas Utter Right International Limited, Plansmart International Limited e China International Found (CIF) Angola.
Interrogatório intenso com momentos inusitados
O interrogatório ao antigo homem forte do ex-Presidente de Angola José
Eduardo dos Santos (já falecido) arrancou segunda-feira e prosseguiu esta
terça-feira, prevendo-se o seu término na quarta-feira (04.06).
Na sessão de hoje, Manuel Hélder Vieira Dias Júnior "Kopelipa",
que foi diretor do GRN entre outubro de 2004 e maio de 2010, voltou a ser
interrogado pelo coletivo de juízes, liderado pela juíza conselheira relatora
Anabela Valente, pelo Ministério Público e pela defesa.
Tal como aconteceu na segunda-feira, o arguido respondeu de pé, durante
mais de quatro horas, com um curto intervalo de dez minutos, a todas as
questões que lhe foram colocadas, com respostas meticulosamente dirigidas à
"veneranda juíza presidente da causa", quer fossem feitas pelos seus
auxiliares, Ministério Público ou a defesa, chegando a arrancar sorrisos da
sala ao questionar ao tribunal se tratava por "advogado ou causídico"
o seu representante legal.
Isabel dos Santos diz que foi usada num teatro anticorrupção
O tribunal voltou hoje a insistir na relação entre o GRN e a CIF, se concedeu
um empréstimo de 150 milhões de dólares à China Sonangol International Limited,
sobre a atribuição de terrenos à CIF e sobre a construção de novas
centralidades no âmbito do programa nacional de urbanismo e habitação.
"Kopelipa" explicou que o Governo, com o objetivo de dar resposta
à "necessidade gritante" de habitações no país, colocou em marcha um
programa de construção que avançou inicialmente com a edificação, por privados,
de condomínios, em Talatona, mas os preços impraticáveis deixaram de fora os
cidadãos comuns, passando as habitações dos 100 mil dólares (87,9 mil euros)
previstos para 500 mil (439,5 mil euros) a um milhão de dólares (879 mil
euros).
Entrega de bens da CIF ao Estado foi voluntária, diz arguido
Segundo o arguido, foi com a intenção de "corrigir o tiro", que o antigo Presidente angolano decidiu acautelar nos projetos seguintes uma "bolsa pública", dirigida à classe dos funcionários públicos, que ficou à responsabilidade do GRN.
Sobre a entrega voluntária ao Estado, como avança a acusação, dos bens
pertencentes à CIF, o arguido aclarou que foi por solicitação da
Procuradoria-Geral da República que contactou os acionistas integrantes da
sociedade para assim procederem, tendo sido emitida uma procuração para o
efeito.
O arguido, antigo ministro junto da Presidência e chefe da Casa Militar,
ressaltou que foi na qualidade de mandatário, e não como proprietário das
empresas, que participou no processo de entrega dos bens ao Estado.
"Como cidadão, entendi que era útil a minha colaboração e fui falar
com eles, levou algum tempo para entregarem os bens. O CIF era composto pela IF
[Investimentos Financeiros] e duas empresas chinesas. Consegui o contacto com a
empresa angolana, mas não com as chinesas", vincou.
Kopelipa nega proximidade com empresários chineses
"Procedi à entrega, à noite, e reconheço que não li o que
assinei", disse o arguido referindo-se ao documento que lhe foi entregue
pela PGR naquela noite para assinar, sem estar acompanhado de um advogado, acabando
por rubricar o documento "julgando que estava em conformidade" com o
mandato que lhe foi conferido.
Questionado pelo magistrado do Ministério Público se, como diretor do GRN,
lhe ocorreu em algum momento a ideia de denunciar atos praticados pela CIF à
PGR, "Kopelipa" respondeu que não lhe chegou ao conhecimento nenhum
ilícito e, se houvesse, "seria o primeiro a denunciar".
O Ministério Público quis também saber se o arguido tinha conhecido
pessoalmente "a madame Lu Fong" e o empresário chinês Sam Pam, o
intermediário dos negócios entre Angola e a China no período pós-guerra.
"Kopelipa" respondeuque teve alguns encontros com ambos, mas não
tinha "uma boa relação" com os mesmos.
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