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Cimeira de Negócios Angola-EUA: O silenciamento de dissidentes na véspera do evento - Emanuel Santos

Segundo informações fornecidas por fontes anônimas, bem como queixas cada vez mais presentes em redes sociais, bloguistas e influenciadores que vivem em Angola relatam que a polícia, à paisana, está a visitar seus domicílios sem aviso prévio, numa nítida tentativa de intimidação na quixotesca luta contra as chamadas “fake News”, isto é, boatos, em verdade toda e qualquer informação indesejável ao governo. A polícia insiste que, embora a lei das notícias falsas ainda não tenha sido aprovada, a responsabilidade penal é determinada pelo artigo 40 da Constituição Angolana, de acordo com o comunicado.

De acordo com um documento divulgado pela polícia, essas medidas foram tomadas pelo governo em meio à próxima Cimeira de negócios EUA-África, que em breve acontecerá em Luanda. O policiamento, monitoramento e repressão política sempre é aumentado quando grandes empresários estrangeiros planejam visitar Angola, a exemplo do que aconteceu durante a visita do ex-presidente americano Joe Biden. Esta medida pode ser interpretada como uma tentativa do regime do MPLA de manter boas aparências num momento em que os holofotes da mídia estão voltados para o encontro e se dá a visita de convidados de alto escalão na Cimeira.

Em várias democracias existe o direito à livre expressão e manifestação, inclusive contra governantes ou visitantes indesejados, contra qualquer um que seja persona non grata. Pode o povo de Angola tolerar em seu território líderes que adoram a guerra como meio de resolução de questões internacionais? Deve o povo de Angola se calar ante os representantes de um país que financiam o reino da destruição num país pacífico como o Irã?! O regime trama a repressão contra manifestações pacíficas, manifestações essas que deveriam ter a participação inclusive da juventude do MPLA, que reivindica o legado anti-imperialista de Agostinho Neto, mas que agora querem fazer o papel de servos de aniquiladores de nações. A polícia, em vez de juntar-se ao povo, pratica maus tratos, infiltração nas redes sociais, e sequestro de cidadãos que ousam criticar o governo.

A Assembleia Nacional, que em uma democracia deve representar o Povo, legislar e controlar o Poder Executivo, tornou-se uma extensão do poder presidencial e não estabelece nenhum óbice às ações arbitrárias do Poder Executivo.

A guerra de informação do governo de Angola contra seu povo, em nome da chegada de convidados indesejáveis, é outra face dessa opressão. O serviço de inteligência do Estado há muito tempo não lida com questões de segurança nacional, mas sim com a criação de páginas falsas, perfis manipulativos (os chamados trolls) e canais de propaganda totalmente focados na disseminação de notícias falsas em apoio ao governo.

A questão é, tudo isso pelo quê? Hoje o Corredor do Lobito é administrado por empresas envolvidas em escândalos internacionais de corrupção, com casos transitados em julgado – a Mota-Engil, a Trafigura, integrantes do Consórcio LAR. A via férrea em quase nenhum benefício traz para as populações em seu entorno, mas apenas para os lucros das grandes corporações da Europa e dos Estados Unidos. A população em si é prejudicada pela poluição e agora até pela cólera, transmitida por trabalhadores imigrantes que muitas vezes trabalham sem um contrato de trabalho e condições sanitárias adequadas, transmitem a doença às populações locais e sobrecarregam quase inexistente rede hospitalar. E este governo quer impedir a sua população de protestar?

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