O lĂder da UNITA fez uma denĂșncia grave. TĂŁo grave que, em qualquer democracia (funcional ou pretensa), deveria accionar todos os mecanismos institucionais do Estado. Trata-se de um alerta que soa como um clarim de urgĂȘncia nacional, digno de anĂĄlise e debate na mais alta pauta polĂtica, pelo pĂąnico que causa e pelo que revela sobre o estado do nosso Estado. Insinua, perversa e capciosamente, que o PaĂs estĂĄ Ă beira do abismo.
Adalberto Costa JĂșnior (ACJ) acusou, durante uma intervenção pĂșblica recente, o Executivo de perseguir atĂ© militantes do partido no poder dentro dos hospitais. Uma acusação perturbadora que, se verdadeira, abala os fundamentos do Estado. Exige resposta imediata. E, se for falsa, reclama sanção polĂtica e judicial exemplar.
O silĂȘncio institucional, neste caso, Ă© o pior de todos os sinais. Quem cala,
consente. E, se o Executivo nĂŁo se pronunciar, cauciona, por omissĂŁo, o dito do
lĂder da oposição.
O presidente da UNITA afirmou, por sua conta e risco: “A perseguição que o
actual Executivo faz aos seus prĂłprios companheiros leva a que hoje muitos
ilustres do MPLA tenham medo de ir aos hospitais, por recearem morrer ali
devido Ă perseguição polĂtica.” Cada palavra tem peso prĂłprio. E o risco do que
foi dito Ă© ainda maior, sobretudo se for exigido ao autor que apresente provas
e este nĂŁo conseguir fazĂȘ-lo.
Mas, se a acusação for verdadeira, não pode ser descartada como retórica partidåria nem como manobra mediåtica.
Ă uma denĂșncia que exige apuramento cĂ©lere, rigoroso e conduzido por entidades independentes. O Executivo tem o dever moral, polĂtico e legal de responder ao paĂs com a urgĂȘncia proporcional Ă gravidade do que foi afirmado. A Ordem dos MĂ©dicos de Angola (OMA) tem, igualmente, a obrigação de se pronunciar.
Se nĂŁo se trata de um golpe de marketing polĂtico ou de uma encenação para
fabricar factos, o que disse ACJ deve ser levado muito a sério. Caso contrårio,
deve ser responsabilizado com todo o rigor da lei. A acusação de ACJ é
demasiado grave para ser ignorada. Brincar com o medo e a dor de um povo nĂŁo Ă©
apenas irresponsåvel, é sinónimo de sabotagem institucional disfarçada de
retĂłrica. Ă uma forma de terrorismo polĂtico e social que mina a jĂĄ frĂĄgil
relação entre os cidadĂŁos e as instituiçÔes pĂșblicas.
A ser verdade que atĂ© militantes do partido no poder tĂȘm receio de entrar
num hospital e nĂŁo sair de lĂĄ com vida, entĂŁo Angola jĂĄ nĂŁo Ă© um Estado. Ă
apenas uma estrutura de poder com aparĂȘncia de legalidade, onde o medo
substituiu o Contrato Social e a confiança nas instituiçÔes foi extinta por
força de perseguiçÔes selectivas e cumplicidade sistémica.
O que foi dito é de extrema seriedade. Deve ser escrutinado pelos órgãos competentes. ImpÔe-se a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os factos.
E, caso a denĂșncia nĂŁo se comprove, a conclusĂŁo serĂĄ devastadora: O presidente
da UNITA tentou minar a relação entre médico e paciente num gesto politicamente
irresponsĂĄvel, com o objectivo de alarmar o PaĂs e disseminar o medo.
Isso Ă© inaceitĂĄvel num Estado de direito. Ă uma tentativa de corroer as fundaçÔes da RepĂșblica.
De insinuar que a independĂȘncia nacional colapsou. De sugerir que o corpo clĂnico traiu o “Juramento de Hipocrates”, que as batas brancas e os estetoscĂłpios foram transformados em instrumentos de perseguição polĂtica. Em polĂtica, nĂŁo vale tudo.
Existem limites legais, morais e democrĂĄticos.
A seriedade da acusação exige provas insofismåveis por parte de quem acusa
e uma resposta institucional Ă altura. O silĂȘncio, neste contexto, pode ser interpretado
como consentimento ou, pior ainda, como confirmação tåcita de que existe um
plano nĂŁo declarado para eliminar opositores no leito dos hospitais pĂșblicos.
O Executivo tem a obrigação de vir a pĂșblico dar uma explicação cabal e convincente. Quando os hospitais se tornam espaços de medo e retaliação, jĂĄ nĂŁo estamos a falar de democracia.
Estamos a falar de algo muito mais prĂłximo de uma distopia.
Perante o que foi dito, o mĂnimo que se exige Ă© transparĂȘncia, investigação independente e responsabilização institucional. O PaĂs nĂŁo pode continuar a viver entre rumores e silĂȘncios cĂșmplices, enquanto cresce a percepção de que os hospitais foram contaminados pela lĂłgica da repressĂŁo polĂtica. Cabe Ă sociedade civil, Ă Imprensa e Ă s organizaçÔes de defesa de Direitos Humanos exigir respostas. Expor factos e romper o cerco do medo. O silĂȘncio, neste caso, nĂŁo Ă© neutralidade: E abdicação.
Angola nĂŁo se pode dar ao luxo de abdicar da verdade. Porque quando a polĂtica
invade a medicina, resta Ă (pretensa) democracia angolana provar que ainda
respira.
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