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ACJ acusa executivo responde com silĂȘncio - Jorge Eurico

O lĂ­der da UNITA fez uma denĂșncia grave. TĂŁo grave que, em qualquer democracia (funcional ou pretensa), deveria accionar todos os mecanismos institucionais do Estado. Trata-se de um alerta que soa como um clarim de urgĂȘncia nacional, digno de anĂĄlise e debate na mais alta pauta polĂ­tica, pelo pĂąnico que causa e pelo que revela sobre o estado do nosso Estado. Insinua, perversa e capciosamente, que o PaĂ­s estĂĄ Ă  beira do abismo.

Adalberto Costa JĂșnior (ACJ) acusou, durante uma intervenção pĂșblica recente, o Executivo de perseguir atĂ© militantes do partido no poder dentro dos hospitais. Uma acusação perturbadora que, se verdadeira, abala os fundamentos do Estado. Exige resposta imediata. E, se for falsa, reclama sanção polĂ­tica e judicial exemplar.

O silĂȘncio institucional, neste caso, Ă© o pior de todos os sinais. Quem cala, consente. E, se o Executivo nĂŁo se pronunciar, cauciona, por omissĂŁo, o dito do lĂ­der da oposição.

O presidente da UNITA afirmou, por sua conta e risco: “A perseguição que o actual Executivo faz aos seus prĂłprios companheiros leva a que hoje muitos ilustres do MPLA tenham medo de ir aos hospitais, por recearem morrer ali devido Ă  perseguição polĂ­tica.” Cada palavra tem peso prĂłprio. E o risco do que foi dito Ă© ainda maior, sobretudo se for exigido ao autor que apresente provas e este nĂŁo conseguir fazĂȘ-lo.

Mas, se a acusação for verdadeira, não pode ser descartada como retórica partidåria nem como manobra mediåtica.

É uma denĂșncia que exige apuramento cĂ©lere, rigoroso e conduzido por entidades independentes. O Executivo tem o dever moral, polĂ­tico e legal de responder ao paĂ­s com a urgĂȘncia proporcional Ă  gravidade do que foi afirmado. A Ordem dos MĂ©dicos de Angola (OMA) tem, igualmente, a obrigação de se pronunciar.

Se nĂŁo se trata de um golpe de marketing polĂ­tico ou de uma encenação para fabricar factos, o que disse ACJ deve ser levado muito a sĂ©rio. Caso contrĂĄrio, deve ser responsabilizado com todo o rigor da lei. A acusação de ACJ Ă© demasiado grave para ser ignorada. Brincar com o medo e a dor de um povo nĂŁo Ă© apenas irresponsĂĄvel, Ă© sinĂłnimo de sabotagem institucional disfarçada de retĂłrica. É uma forma de terrorismo polĂ­tico e social que mina a jĂĄ frĂĄgil relação entre os cidadĂŁos e as instituiçÔes pĂșblicas.

A ser verdade que atĂ© militantes do partido no poder tĂȘm receio de entrar num hospital e nĂŁo sair de lĂĄ com vida, entĂŁo Angola jĂĄ nĂŁo Ă© um Estado. É apenas uma estrutura de poder com aparĂȘncia de legalidade, onde o medo substituiu o Contrato Social e a confiança nas instituiçÔes foi extinta por força de perseguiçÔes selectivas e cumplicidade sistĂ©mica.

O que foi dito é de extrema seriedade. Deve ser escrutinado pelos órgãos competentes. ImpÔe-se a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os factos.

E, caso a denĂșncia nĂŁo se comprove, a conclusĂŁo serĂĄ devastadora: O presidente da UNITA tentou minar a relação entre mĂ©dico e paciente num gesto politicamente irresponsĂĄvel, com o objectivo de alarmar o PaĂ­s e disseminar o medo.

Isso Ă© inaceitĂĄvel num Estado de direito. É uma tentativa de corroer as fundaçÔes da RepĂșblica.

De insinuar que a independĂȘncia nacional colapsou. De sugerir que o corpo clĂ­nico traiu o “Juramento de Hipocrates”, que as batas brancas e os estetoscĂłpios foram transformados em instrumentos de perseguição polĂ­tica. Em polĂ­tica, nĂŁo vale tudo.

Existem limites legais, morais e democrĂĄticos.

A seriedade da acusação exige provas insofismĂĄveis por parte de quem acusa e uma resposta institucional Ă  altura. O silĂȘncio, neste contexto, pode ser interpretado como consentimento ou, pior ainda, como confirmação tĂĄcita de que existe um plano nĂŁo declarado para eliminar opositores no leito dos hospitais pĂșblicos.

O Executivo tem a obrigação de vir a pĂșblico dar uma explicação cabal e convincente. Quando os hospitais se tornam espaços de medo e retaliação, jĂĄ nĂŁo estamos a falar de democracia.

Estamos a falar de algo muito mais prĂłximo de uma distopia.

Perante o que foi dito, o mĂ­nimo que se exige Ă© transparĂȘncia, investigação independente e responsabilização institucional. O PaĂ­s nĂŁo pode continuar a viver entre rumores e silĂȘncios cĂșmplices, enquanto cresce a percepção de que os hospitais foram contaminados pela lĂłgica da repressĂŁo polĂ­tica. Cabe Ă  sociedade civil, Ă  Imprensa e Ă s organizaçÔes de defesa de Direitos Humanos exigir respostas. Expor factos e romper o cerco do medo. O silĂȘncio, neste caso, nĂŁo Ă© neutralidade: E abdicação.

Angola nĂŁo se pode dar ao luxo de abdicar da verdade. Porque quando a polĂ­tica invade a medicina, resta Ă  (pretensa) democracia angolana provar que ainda respira.

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