Diante da escalada no Médio Oriente, o continente africano deve optar por uma diplomacia de paz e de lucidez
A história acelera-se perigosamente no Médio Oriente. Desde o dia 21 de
Junho de 2025, os Estados Unidos da América entraram oficialmente em guerra ao
lado do Estado de Israel contra o Irão, atingindo as três principais
instalações nucleares iranianas. Uma réplica balística do Irão não se fez esperar,
e o mundo encontra-se suspenso perante uma escalada cujo desfecho ninguém
consegue prever.
Face a esta atmosfera tensa, os países africanos devem abraçar a
responsabilidade diplomática, salvaguardando os seus interesses vitais.
Trata-se de uma crise com repercussões à escala mundial, caso se prolongue e se
estenda para além da região do Golfo. Os preços mundiais da energia subiram e o
barril de petróleo já atingiu os 80 dólares, ameaçando as economias dependentes
das importações. As cadeias de abastecimento estão perturbadas, os mercados
financeiros fragilizados e as tensões militares agravadas no estreito
estratégico do comércio mundial.
Para os países africanos, essas perturbações criam vulnerabilidades
acrescidas: subida dos preços energéticos, incertezas orçamentais e riscos de
segurança agravados, caso os grupos extremistas que operam na África Ocidental
explorem a instabilidade regional.
Uma posição de neutralidade activa e construtiva, neste contexto, não é
sinónimo de silêncio, mas de um engajamento firme a favor da paz. Tendo os seus
próprios problemas prioritários por resolver, e perante estas contendas, não é
aconselhável que o continente se deixe arrastar pela lógica de formação de
blocos ou alianças militares estrangeiras. A África deve reafirmar o seu
compromisso com o respeito pela soberania dos Estados, a resolução pacífica dos
conflitos e a primazia do Direito Internacional.
Não é exagerado relembrar que a postura diplomática deve ser acompanhada de
realismo estratégico. Os governos devem antecipar as consequências económicas
deste conflito: ajustamento orçamental, garantia dos abastecimentos energéticos
e aceleração da transição para fontes de energia locais (gás natural, energia
solar).
Para os países africanos da África Ocidental que vivem sob ameaça
terrorista, é indispensável reforçar os dispositivos de monitorização
estratégica de informação e de coordenação regional, face a eventuais ameaças à
segurança.
A África tem o dever histórico de ensaiar uma resposta continental a esta
crise. Trata-se de erguer uma voz africana independente, construtiva, capaz de
recordar às grandes potências a sua responsabilidade histórica na preservação
da paz mundial.
Num mundo cada vez mais fraturado, a África deve assumir a capacidade de
desempenhar um papel moderador, credível e respeitado. Este é o momento de
afirmar essa singularidade. Fazer ouvir a nossa voz não é um luxo: é uma
necessidade, para defender a paz, preservar os nossos interesses, proteger as
nossas economias inseridas no comércio internacional e reforçar a nossa
credibilidade internacional.
Temos o dever de estar, sem ambiguidade, do lado do diálogo e da
responsabilidade.
É nossa convicção que é na diplomacia lúcida, soberana e humana que reside
a verdadeira grandeza da nossa África. É aí que se joga o papel do continente
nesta nova fase da história mundial. É a nossa convicção.
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