Vivemos um momento crucial na história da juventude angolana. Actualmente, assiste-se a uma concorrência positiva entre os jovens, motivada pelo mérito, reconhecimento e desejo de promoção nos âmbitos profissional, académico e pessoal. Este fenómeno é, à partida, louvável. Representa uma geração que se recusa a aceitar o conformismo e que procura incessantemente qualificar-se e destacar-se nas respectivas áreas de actuação.
Contudo, paralelamente a este avanço, emerge um comportamento contraditório: a ausência de solidariedade entre os próprios jovens. Se por um lado o mérito e o esforço individual são cada vez mais celebrados, por outro, assiste-se a uma crescente fragmentação e a um espírito de competição que por vezes roça a hostilidade. Os jovens tornaram-se mais lúcidos, sim, mas também mais insensíveis uns com os outros. Há uma escassez de empatia e de construção colectiva de caminhos que poderiam beneficiar a juventude como um todo.
Esta realidade aproxima-se do ideal liberalista de autores como Jordan Peterson, que defende que a mudança no mundo começa quando cada indivíduo cumpre com as suas tarefas quotidianas e assume responsabilidade pela sua própria vida. Segundo Peterson, “arrume o seu quarto antes de tentar arrumar o mundo” – uma metáfora para a auto-disciplina como pilar da ordem social. A sua mensagem é válida: o desenvolvimento pessoal é essencial. No entanto, esta lógica, quando levada ao extremo, pode fomentar o isolamento e a indiferença social.
A vida em sociedade exige mais do que competência individual. Como lembra Zygmunt Bauman, vivemos numa “modernidade líquida”, onde os laços sociais tornaram-se frágeis e descartáveis. A busca desenfreada pelo sucesso pessoal, quando dissociada do compromisso com o outro, enfraquece o tecido social. Emile Durkheim, um dos pais da sociologia moderna, já advertia que a coesão social é o que permite à sociedade funcionar harmoniosamente. Quando os indivíduos vivem apenas para si, sem solidariedade mútua, surgem anomias e desequilíbrios que afectam a todos.
Em termos práticos, a fragilidade dos vínculos sociais pode transformar-se em ameaças concretas. O jovem que cumpre exemplarmente com as suas responsabilidades diárias não está imune aos perigos da degradação social à sua volta. Um vizinho entregue ao consumo de drogas, por exemplo, continuará a representar um risco à segurança e estabilidade do bairro, mesmo que todos os outros residentes sejam cumpridores das suas obrigações.
Assim, a mensagem que devemos transmitir é clara! O mérito individual é necessário, mas não suficiente. O progresso de uma sociedade exige cooperação, solidariedade e uma visão comum de desenvolvimento. Como defendia Amartya Sen, prémio Nobel da Economia, a liberdade e o desenvolvimento só fazem sentido quando estão acompanhados pela capacidade de as pessoas participarem activamente na vida colectiva.
Portanto, é urgente que a juventude angolana compreenda que não se trata apenas
de vencer individualmente, mas de vencer colectivamente. Só assim construiremos
uma nação mais justa, solidária e sustentável.
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