Finalmente, chegou o grande dia em que os nobres europeus puderam, ainda que por breves horas, experimentar a vida que tanto insistiram em exportar para as suas antigas colónias. Que emoção deve ter sido ver os semáforos apagados, os aeroportos paralisados e o povo vagando no escuro, sem telefone, sem internet e sem transporte público — uma verdadeira aula prática de “desenvolvimento sustentável ao estilo colonial”.
Em Lisboa e Madrid, o caos se instalou. Passageiros tropeçando nas estações
às escuras? Restaurantes a apodrecer sem luz? Voos cancelados como se
estivessem a depender da boa vontade do vento? Ah, que maravilha! Durante
séculos, África foi ensinada que isso era o "preço da civilização", e
agora, olha só: a civilização a preço de saldo e sem garantia de funcionamento.
O mais engraçado é ver o pânico instalado em poucas horas—como se viver sem
eletricidade e sem infraestrutura fosse uma violação dos direitos humanos.
Talvez agora entendam como é delicioso tentar ligar para pedir ajuda e ouvir só
o silêncio. Ou ficar parado num trânsito infernal, sem saber se algum dia
chegarão em casa. Bem-vindos à festa, senhores! Só faltou mesmo um calor de 40
graus sem ar-condicionado para a experiência ser completa.
E não, calma: não foi ataque cibernético, dizem eles. Claro que não! Porque
se fosse em África, a culpa já seria da “falta de competência”, “corrupção
endémica” ou "instabilidade política". Mas como foi na Europa, então
deve ter sido apenas uma "falha técnica muito sofisticada". Ah, os
privilégios da narrativa!
Que esse breve mergulho no colapso os ajude a valorizar aquilo que há
séculos fingem ensinar, mas raramente praticam: a resiliência. Ou, pelo menos,
que aprendam a andar no escuro com mais elegância — já que saber viver sem luz
é uma arte que aprenderam tarde.
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