Toy Salgueiro é um artista de finos predicados. Serviu-se da música para ajudar a propagar a causa do partido no poder em Angola. Mas quando pegou na sua aljava musical para mandar flechadas contra a situação social e econômica vigente à época, foi politicamente castigado. Severamente! Foi um acto de denodada coragem do artista. Uma iniciativa de inaudita ousadia política.
Por isso (digo eu) o nome Toy Salgueiro deveria ser grafado em letras garrafais nos anais da história política pós-independência de Angola por ter tido a “insolência” de censurar a incapacidade da Pessoa Colectiva que gere os negócios do Estado angolano no sentido de criar condições condignas para os cidadãos. Na pista do tempo, corria o ano 1984. Doze meses antes do “II Congresso do Partido (MPLA)”. Estávamos em pleno período dos “anos de chumbo”(entenda-se de guerra e de partido único).
Eis a letra da música de Toy Salgueiro: (…) Já fiz Todas Diligências para Comprar/Um fogão e uma geleira/ E uma casa Para Morar/ Ah/ah/E formar o Nosso Lar/ Na Turbulência que É a Nossa Vida/ Você Sempre Me Deu de Nada/ Cada Fracasso Uma Olhada/ E você Sabe Muito Bem/ Ah/Ah/ É Meu Desejo Melhorar/ E o feijão Para Cozinhar E Não Temos Um Fogão/(…)
Foi com esta letra que Toy Salgueiro abalou as estruturas do Sistema. São passadas quatro décadas desde a composição da música intitulada “Fiz de Tudo”. A letra continua actual. A força telúrica da letra da música continua a fazer mexer o esqueleto de todos nós. O povo continua a trautear e a menear a cabeça por ela. Toy Salgueiro é um artista. É um homem de cultura. É um herói. É uma vítima. Vítima de uma “revolução cultural” injusta. Abusiva. Facciosa. Toy Salgueiro é um cultor da Oitava Arte que sentiu a mão pesada do partido por ter dado uma “palmatória” ao Sistema. Fê-lo devido ao descaso deste último face à situação social e econômica vigente no País, volvidos dez anos depois da sua emancipação política.
O artista foi banido dos palcos à boa maneira da “Enciclopédia Soviética”. Foi afastado sem fundamento da União dos Artistas e Compositores Angolanos (UNACA). Foi perseguido. Perdeu o emprego. Fecharam-lhe as portas. Todas! Toy Salgueiro teve de se reinventar para driblar a indigência com o fito de (sobre)viver com dignidade. O artista foi renegado. Mas a sua música, esta, continua a surfar nas ondas do rádio. Continua a animar festas diversas pelo País. É hora de reparar a injustiça contra Toy Salgueiro. É hora de se parar com a injustiça social, cultural e política que apenas traduziu em música uma realidade vivida e sentida pelo País inteiro. É chegada a hora de tirá-lo do “índex”. Seria da mais elementar Justiça.
Toy Salgueiro é a prova insofismável da intolerância política existente em
Angola. Mas é também a evidência de um homem afoito que - à falta de oposição
política - à época, mandou uma flechada musical que fez mossa ao Sistema. Ainda
paga caro por isso. Em nome da (re) conciliação nacional, é chegada a hora de
se reabilitar Toy Salgueiro. A menos que se queira tê-lo como paradigma da
incomplacência política reinante. Que se peça desculpas a Toy Salgueiro! Que se
reabilite o artista! Que se dê dignidade ao homem! Que o partido (MPLA) reconheça
o (seu) camarada!
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