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UMA JORNADA ÉPICA PELAS ESTRADAS INEXISTENTES- ANDRÉ KIVUANDINGA

Ah, a saga da primeira viagem de Menongue para o Rivungo foi de Land-Rover, cor branca ou creme (essa já não se sabia definir, devido ao tempo e arranhões na chaparia provocada pelos paus), o motorista era o mano Wika, ao seu lado estava o chefe Paulo Chilombo Viegas, a trás estávamos eu, o médico, Maurício Chipaço e o chefe Aniceto Sunguhanga. Essa é uma história que mistura coragem, ingenuidade e uma boa dose de humor, como um verdadeiro conto de fadas africano moderno. Tudo começa com os preparativos na cidade de Menongue, onde a Land-Rover, reluzente e imponente, é preparada para enfrentar as adversidades das estradas inexistentes que levam ao remoto Rivungo, passando pelos desafios dos municípios do Cuito Cuanavale e Mavinga.

Com um mapa desactualizado na mão e um optimismo digno de exploradores destemidos,  partimos como aventureiros, ignorando os olhares preocupados dos locais que se perguntam se eles realmente sabem no que estão a se meter. "Estradas inexistentes? Sem problema!", exclama o condutor, confiante na habilidade off-road da Land-Rover e na promessa de aventura que o espera.

Os primeiros quilômetros são relativamente tranquilos, com a Land-Rover a deslizar sobre terrenos irregulares e esquivando-se habilmente de poças de lama que parecem ter vida própria. Mas à medida que adentramos os confins dos municípios do Cuito Cuanavale e Mavinga, a verdadeira odisséia começa a se revelar.

O que era para ser uma estrada transforma-se em um labirinto de trilhas indistintas, onde a Land-Rover parece mais um explorador perdido do que um veículo seguro. "Olha ali, uma zebra!", grita um dos passageiros, apontando freneticamente para uma mancha na distância que poderia ser qualquer coisa, menos uma zebra.

Entre os solavancos do terreno acidentado, surgem histórias mirabolantes sobre as lendas locais, como o dia em que uma manada de elefantes decidiu brincar de esconde-esconde com um comboio militar. "E as minas?", pergunta preocupado um dos passageiros, recebendo um aceno tranquilizador do guia local, que parece mais entusiasmado em contar histórias do que preocupado com qualquer risco real.


À medida que o sol se põe no horizonte, a ansiedade dá lugar a um humor irreverente. "Você já ouviu falar da estrada fantasma de Mavinga?", provoca um dos passageiros, lançando uma nova teoria sobre estradas que aparecem e desaparecem com a luz da lua. As risadas ecoam pelo interior da Land-Rover, misturando-se com o som dos pneus a enfrentar desafios que parecem sair directamente de um filme de aventura.

Finalmente, ao chegar ao isolado Rivungo, os viajantes são recebidos não apenas pela paisagem deslumbrante, mas também pela sensação de terem conquistado algo épico e inesquecível. "Próxima parada: o deserto do Kalahari!", brinca alguém, enquanto todos concordam que, apesar das estradas inexistentes e dos encontros com animais "ferrozes", esta jornada foi, sem dúvida, uma aventura para ser lembrada em futuras reuniões de família e festas de churrasco.

E assim, entre histórias de animais míticos e estradas que desafiam a lógica, a minha primeira viagem de Land-Rover de Menongue à Rivungo se torna uma crónica humorística sobre a audácia humana e a capacidade de encontrar risos até mesmo nas situações mais improváveis.

Essa crónica, a escrevi para lembrar e saudar os amigos que deixei no Rivungo, estendendo minha saudação à todo povo heróico deste pedaço de terra que faz parte do nosso país. Um forte abraço.

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