Artistas e investigadores consideram que a eleição do Semba como palavra do ano, pela Plural Editores, confirma o sentido de identidade e pertença que o estilo musical representa para os angolanos. O feito aconteceu meses depois da elevação do Semba a Património Imaterial Nacional.
As reacções de algumas personalidades ligadas ao movimento cultural, como
Cecília Gourgel, directora do Instituto Nacional do Património Cultural.
"O Semba não é apenas a palavra do ano, aconselho a ouvirem Paulo Flores e
Carlos Burity. O semba é a nossa bandeira”, ressaltou.
A funcionária sénior do Ministério da Cultura e Turismo recordou o processo
que culminou com a elevação do Semba a Património Imaterial. "Com o Semba
também colocamos no topo a dikanza e os trajes característicos das bessanganas,
outros elementos identitários nossos”, realçou.
Por sua vez, Albino Carlos, escritor que está a preparar uma trilogia sobre
a Música Urbana Angolana, considerou excelente esta notícia. "Pode
dar um impulso no processo de reconhecimento do Semba como Património Imaterial
da Humanidade, porque ele é o melhor intérprete que Angola escolheu para melhor
dizer e mostrar ao mundo o que somos. O Semba espelha a espiritualidade e alma
angolanas”, sublinhou.
A concluir, Albino Carlos reforçou que o Semba, "como mais nenhum outro
género musical, é o ritmo que mais dialoga com os demais estilos nacionais,
sendo uma prática sociocultural, um paradigma rítmico, um sistema composicional
e um modo expressivo que tem sido incorporado na gramática da música mundial,
no quadro do processo de afirmação internacional da cultura angolana”. No dia
18 de Janeiro, o académico e jornalista Albino Carlos dissertou sobre
"O papel da música na consolidação da identidade nacional: o factor
Semba”, na Academia Angolana de Letras.
Isaías Afonso, jornalista e realizador do programa "Poeira no
Quintal”, da Rádio Nacional de Angola (RNA), segue a mesma linha de pensamento
do colega e amigo Albino Carlos.. "O Semba é, hoje, uma palavra de ordem
no nosso mosaico sociocultural. Está na nossa identidade, daí termos um
movimento que contagia positivamente o país na dança, na canção e na
aprendizagem de instrumentos como a dikanza, o bate-bate, o ngoma e muitos
outros instrumentos de percussão que dão sustentação ao ritmo Semba”, realçou.
Nvula Muzenza, para os amigos, nas tertúlias do Semba, reforça: "Tal
como disse um dia o Mestre Liceu, ‘canção pura é a canção do rua’, o Semba é
mesmo particularmente nosso, com variantes que embelezam ainda mais o nosso
acervo musical, facilitam a criatividade dos compositores nacionais e
mexem com a cabeça dos instrumentistas, que hoje se dedicam a estudar os
nossos ritmos, seguindo, pois claro, os pioneiros da Música Popular Urbana
Angolana”.
"Os organizadores encontraram, penso eu, de forma
consensual, a palavra Semba, pelo privilégio de ter sido a mais
pronunciada no ano de 2023 em Angola”. Este foi o primeiro pronunciamento de
Dom Caetano, músico e investigador, que falou pela Galeria do
Semba.
O autor de "Sou Angolano” continuou dizendo que "as razões
são evidentes, por enquanto acresço que no ano de 2023 foi o culminar de um
trabalho árduo que elevou o Semba a Património Imaterial Nacional. Absorveu as
mais amplas discussões, debates e outros encontros sobre música angolana e
caracterizou o mercado musical como o estilo que mais se destacou na produção
musical, em festas, diversões e entretenimentos”, acentuou.
Para concluir, Dom Caetano considerou terem "acertado na mosca e
realizado um trabalho transparente e digno de louvor, que deve merecer da
classe musical nacional todo o respeito e consideração”.
Uma grande vitória
Manuel Claudino "Manuelito”, do Conjunto "Os Kiezos” é um
homem que muito contribuiu para a consolidação da música angolana, considera a
eleição do Semba a Património Imaterial Nacional uma grande vitória. "É um
ganho para quem como eu trabalhou muitos anos na construção do Semba e de
outros ritmos nacionais. Acho que há preocupação, a nível do Ministério da
Cultura e Turismo, no sentido de levar isso para instituições internacionais que
valorizem e qualifiquem o Semba como música e ritmo de Angola”, disse.
O Semba tem motivado vários concertos e encontros temáticos, sendo o
Muzonguê da Tradição um dos mais emblemáticos. Kuimbila Ni Kukina Semba, Praça
do Semba, no Quintal com o Semba, Semba na Calçada, Palco do Semba, Muzonguê do
Ngoló e Mestres do Semba são algumas iniciativas que confirmam esta tendência.
A Plural Editores elegeu o Semba como palavra do ano 2023, "o orgulho
de ser angolano”, lê-se na nota justificativa. "Ouve-se nas ruas, nas
casas, nas festas e agora tem lugar de destaque”, ao ser eleito Património
Imaterial Nacional.
Ainda de acordo com o documento da Plural Editores, um dos factores que
motivou a escolha da palavra foi a elevação como Património Imaterial Nacional
pelo Ministério da Cultura e Turismo. "Mesmo antes de se tornar oficial, o
Semba já era motivo de orgulho nacional, contando com diversas homenagens
musicais de grandes artistas”, reforçou a editora.
Esta foi a oitava edição da Palavra do Ano, iniciativa que já elegeu em
2023 a palavra Semba, e em anos anteriores os eleitores escolheram as palavras
zungueira, pandemia, IVA, esperança, exoneração e crise.
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