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Jovens angolanos em universidades de elite acusados de estarem presos ao sistema controlado por MPLA

A juventude angolana enfrenta hoje divisões profundas que, segundo especialistas, podem determinar o futuro político do país. Albino Paquisi, analista social e ex-sacerdote, disse a O Decreto que existem quatro grupos distintos de jovens: activistas da sociedade civil, alinhados com o executivo, fiéis ao partido a qualquer custo e jovens marginalizados sem educação ou oportunidades.

Segundo Paquisi, a influência das redes sociais tem permitido que muitos jovens fora do sistema acompanhem e critiquem abertamente as políticas do governo. “Alguns destes jovens já são ídolos nas redes, inspirando outros a questionar o sistema político vigente”, afirmou.

O analista ressalta que grande parte dos jovens do MPLA mantém o partido no poder mesmo quando percebem falhas no sistema. “Oitenta e cinco por cento estão alienados, defendendo o partido como se fosse um ópio, sacrificando princípios éticos e morais para manter cargos e privilégios”, afirmou Paquisi.

Mesmo jovens formados nas melhores universidades do exterior muitas vezes acabam colaborando com o sistema: “muitos deles estão presos ao sistema”. Paquisi alerta que “a ciência sem ética é inútil: conhecimento sem valores fortalece um sistema falido”.

Para ele, a mudança não depende necessariamente de entrar na política. Paquisi, que também é professor, acredita que formar consciência crítica nos jovens pode ter impacto mais duradouro do que cargos públicos.

A Igreja, segundo o analista, poderia ajudar na formação ética da juventude, mas muitas vezes acaba alinhada com o executivo. “Quando religião e política se misturam, enfraquece-se a capacidade de formar cidadãos críticos”, disse.

Há, entretanto, jovens que resistem ao sistema. Francisco Teixeira e Nelson Adelino Dembo mais conhecido Gangsta 77, foram citados por Paquisi como exemplos de jovens que defendem valores éticos e morais, inspirando uma nova geração a questionar práticas políticas tradicionais.

O analista alerta que a transformação política e social em Angola não será imediata. “A mudança exige pelo menos dez anos de esforço contínuo, mas a consciência crescente da juventude já representa uma força capaz de pressionar o sistema”, disse.

Paquisi prevê que a reação do regime à contestação juvenil poderá gerar rupturas se não houver abertura para reformas. Ele alerta que a coesão social do país está em risco, com pobreza extrema e desigualdade afetando milhões de angolanos.

Segundo o especialista, a verdadeira mudança depende de jovens preparados e éticos, dispostos a colocar o bem comum acima de interesses partidários. Ele afirma que apenas dessa forma Angola poderá evoluir para um sistema mais justo, transparente e inclusivo.

O analista também criticou a condução do governo actual, afirmando que, apesar de avanços em infraestrutura, os problemas sociais persistem. “É preciso resgatar valores e ética na política para garantir um futuro melhor”, disse.

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