Apesar de as autoridades angolanas atribuírem os tumultos ocorridos em Luanda a “forças externas e às redes sociais”, altos funcionários do Governo admitem que a responsabilidade terá recaído sobre a própria Polícia Nacional, que não conseguiu agir atempadamente para travar os acontecimentos.
Segundo apuramentos, o Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) terá alertado a Polícia Nacional, 72 horas antes, sobre a natureza potencialmente violenta da manifestação, marcada para o dia 28 de Julho, recomendando o reforço do policiamento nas principais vias da capital. No entanto, a mensagem não terá sido devidamente acatada, uma vez que o comandante-geral, Francisco Ribas, se ausentou de Luanda no dia 24 para apadrinhar um casamento na província do Huambo.
A sua ausência impediu que a recomendação do SINSE fosse transmitida às diferentes cadeias de comando da polícia em Luanda, o que resultou numa resposta insuficiente e na ausência do número de efetivos sugerido em vários pontos da cidade. No dia da manifestação, o segundo comandante de Luanda, Catarino José Roque da Silva, que estava nas ruas a conduzir as operações, chegou a correr o risco de ser linchado por manifestantes e miliantes que saqueavam estabelecimentos comerciais.
Durante os protestos violentos protagonizados por taxistas em Luanda, que resultaram em 30 mortes confirmadas, o SINSE tornou-se alvo de duras críticas por parte da sociedade civil, analistas políticos e membros da oposição.
O SINSE tem como missão antecipar riscos à ordem constitucional, identificar focos de instabilidade e neutralizar ameaças à segurança nacional. Segundo o jornalista Jorge Eurico, num texto enviado ao Club-K, o SINSE “não previu o caos. Estava de férias. Ausente. Falhou. E o país pagou.”
Eurico e vários analistas consideram que a ausência de alertas prévios ou de medidas preventivas representa uma falência da inteligência estatal, especialmente num contexto de crescente tensão social. Por essa razão, altos funcionários do Governo têm justificado, nos últimos dias, que o SINSE terá cumprido o seu papel ao alertar a Polícia, mas esta não acatou as orientações devido à ausência do comandante-geral, que se encontrava no Huambo a participar num casamento.
O número de vítimas mortais resultantes dos tumultos provocados pela greve de taxistas em Luanda subiu para 30, segundo fontes locais e relatos de organizações da sociedade civil.
A paralisação, que começou como um protesto contra o aumento de 33% no preço do gasóleo, rapidamente degenerou numa onda de violência urbana. Taxistas, apoiados por associações como a ANATA, exigiram medidas de compensação e a revisão das políticas de transporte, enquanto o Governo apontou a infiltração de grupos criminosos como responsáveis pelos actos de vandalismo.
Numa mensagem à nação, o Presidente João Lourenço responsabilizou forças
externas e as redes sociais pela instigação dos protestos, tendo convocado o
Conselho de Segurança Nacional dias depois. Por sua vez, o Ministro do
Interior, Manuel Homem, reafirmou que as forças de segurança continuam a
investigar os acontecimentos e prometeu responsabilizar os envolvidos. “Estamos
perante uma situação que ultrapassou o âmbito de uma simples reivindicação e
assumiu contornos de ameaça à segurança e à paz social”, declarou.
A oposição e organizações de defesa dos direitos humanos apelam ao diálogo
e à contenção, alertando para o risco de agravamento da crise social. A Frente
Patriótica Unida (FPU) instou o Governo a abandonar a postura repressiva e a
promover uma concertação nacional.
A população de Luanda permanece em estado de alerta, enquanto se aguarda
por um novo pronunciamento oficial que confirme ou actualize os números de
vítimas e danos registados.
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