Nos últimos dias, Angola tem sido palco de uma onda de agitação social, impulsionada pelo recente reajuste no preço do gasóleo — uma medida difícil, porém necessária, no contexto de uma reestruturação econômica nacional. À medida que imagens de protestos, confrontos e detenções circulam pelas redes sociais, o verdadeiro risco não é apenas o comprometimento da ordem pública, mas a fragmentação da coesão nacional. É hora de parar, refletir e reconstruir — não através do confronto, mas pela cooperação.
Ao contrário das narrativas alarmistas promovidas por alguns setores políticos e mediáticos, a decisão do Governo de rever os subsídios aos combustíveis não é fruto de insensibilidade ou autoritarismo, mas sim uma resposta racional e fundamentada a distorções fiscais insustentáveis. Durante anos, tais subsídios beneficiaram desproporcionalmente camadas mais favorecidas da sociedade, drenando recursos públicos que poderiam ser direcionados para setores essenciais como saúde, educação e infraestrutura.
As alegações de repressão generalizada e gratuita por parte das forças da ordem carecem de contextualização honesta. Embora seja imperativo investigar episódios de uso excessivo da força, também é verdade que muitos dos protestos degeneraram em atos de vandalismo, violência e saque — comportamentos que nada têm a ver com o exercício legítimo da cidadania. Queimar autocarros, atacar agentes da ordem e destruir bens públicos não é expressão democrática: é um ataque ao tecido social da nação.
O povo angolano — resiliente, trabalhador e digno — merece mais do que slogans inflamados e oportunismo político. Merece soluções duradouras, diálogo transparente e um projeto comum de futuro. Essa construção não se faz nas ruas em chamas, mas nas mesas de negociação, nos fóruns comunitários e nas urnas democráticas.
As organizações da sociedade civil devem assumir o seu papel histórico: transformar as queixas populares em propostas reais. Os jovens, cuja insatisfação é legítima, precisam ser orientados para a construção, não manipulados para a destruição. E o Estado deve, com a mesma firmeza, proteger os direitos dos cidadãos e garantir que as reformas sejam justas, inclusivas e sustentáveis.
Angola está diante de uma encruzilhada — não rumo ao colapso, mas à
renovação. Que este momento fique marcado não pela desordem, mas pelo despertar
cívico. Que a paz substitua o conflito. Que o diálogo vença o ruído. O futuro
da nossa pátria depende da sabedoria de hoje.
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