Li o texto do advogado e professor universitário Tito Kambandje, publicado no Club-K, com o título: O Catilina da Shein e a Conspiração contra a República. Nesse texto, Kambandje faz uma absurda e inapropriada comparação entre Lúcio Sérgio Catilina e Adalberto Costa Júnior, invocando a Primeira Catilinária de Cícero, que começa com uma pergunta, proferida quando tomou a palavra no Senado Romano, no ano 63 antes de Cristo: Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Tito Kambandje escreve assim, ao iniciar o seu argumento, para interrogar
ACJ: "Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Até
quando a tua loucura vai continuar a rir-se de nós? A que extremos se há-de
precipitar a tua audácia sem freio?”
Como bom manipulador, Kambandje não explica quem foi Catilina, muito menos
expõe a razão do discurso de Cícero. Catilina liderava uma conspiração para
tomar o poder pela força, sob o pretexto de acabar com a corrupção e as
injustiças sociais no governo romano. Já o objectivo de Cícero era denunciar
esse golpe, convocar a defesa da República contra os conspiradores e justificar
medidas de repressão contra os envolvidos.
O que sucedeu a Catilina? Foi morto pelas autoridades.
Ora bem, Adalberto Costa Júnior, presidente da UNITA, não lidera uma
conspiração para tomar o poder pela força. Não pode, por isso, ser comparado a
Catilina! Daí a pergunta: até aonde Tito Kambandje quis chegar com estas
comparações? Kambandje não é um cidadão qualquer. É advogado e professor
universitário. Tem responsabilidades acrescidas. Não pode andar a espalhar o
seu ódio da forma como o faz. Que exemplo estará a dar aos seus estudantes?
Como advogado, que moral transmite à sociedade?
Se quiser continuar a seguir esta postura, dificilmente será catapultado
para cargos que bem poderia exercer. Só não o é por se revelar nocivo aos novos
tempos. É demasiado bruto com os adversários políticos. Parece que ainda não
compreendeu que os tempos são outros. Sendo professor universitário, como gosta
de enfatizar, deveria ser dos primeiros a promover a tolerância. Toda a crítica
que fizesse deveria ter um carácter pedagógico, e não demagógico.
Será que podemos reformular a pergunta: até quando, oh Kambandje? Quanto
tempo mais teremos de esperar para que te tornes num professor exemplar e num
advogado inspirador para a juventude? Tens capacidade. Eu admiro-te bastante.
És inteligente. Coloca-te no teu devido lugar. Pelo teu tamanho, é
desconfortante, imagino, viver permanentemente abaixado para lamber botas. Não
precisas de adoptar essa postura para viveres com dignidade. Serás mais útil a
ti próprio e à Nação se usares a tua inteligência para o bem.
Chega de bajulação. Chega de continuares a prejudicar a tua própria
carreira enquanto jovem promissor. Levanta a cabeça e olha à tua volta os
milhares de jovens angolanos desempregados que já não sabem como se virar. Até
quem trabalha está a passar dificuldades. Não consegue pagar as contas. Tudo só
sobe. Não há salário que aguente. Sai ano, entra ano, e as coisas só tendem a
piorar.
É sobre isto que o digníssimo professor deveria matutar, para ajudar quem
decide a resolver os verdadeiros problemas do povo. Infelizmente, prefere o
caminho mais fácil: bajular o líder.
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