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João Lourenço “amarra” Angola a dívida de mais de mil milhões de euros aos “amigos” MCA

Contratos de execução das obras de protecção e estabilização das encostas da Boavista, Sambizanga, construção de infraestruturas ao longo da Rua Ndunduma, estradas de Ondjiva, Uíge, Malanje, Bié, Moxico, Lunda-Norte, Lunda-Sul e Benguela levam Angola a uma dívida de mais de mil milhões de euros a amigos de João Lourenço, neste caso o grupo MCA – Manuel Couto Alves.

FONTE O DECRETO

João Lourenço é presidente de Angola desde 2017, tendo sucedido na liderança do país, José Eduardo dos Santos. Manuel Couto Alves actua em Angola desde 2013, mas as grandes adjudicações directas (sem concursos públicos) registam-se no tempo de João Manuel Gonçalves Lourenço, levando o país a uma dívida com credores internacionais superior a mil milhões de euros ao “amigo” Manuel Couto Alves.

Em 2025, a dívida externa de Angola é estimada entre 46 e 47 mil milhões de dólares. Em comunicado recente, o grupo MCA negou qualquer ligação com o actual executivo de João Lourenço.

Entretanto, uma investigação feita pelo O Decreto ilustra que o grupo empresarial M. Couto Alves (MCA), através das suas subsidiárias MCA Deutschland GMBH e M. Couto Alves – Vias, S.A., foi repetidamente beneficiado por ajustes directos milionários com o Estado angolano nos últimos anos.

De acordo com sete Despachos Presidenciais publicados no Diário da República entre 2017 e 2025, consultados pelo O Decreto, o Grupo MCA arrecadou mais de 1,7 mil milhões de euros e cerca de 44 mil milhões de kwanzas em contratos de obras públicas, projectos solares e infraestruturas urbanas, sem concorrência pública visível.

Em destaque

Entre os projectos de que o grupo beneficiou, destaca-se o de 1,02 mil milhões de euros, adjudicado em 2022 para a eletrificação de 60 comunas com sistemas híbridos de energia. Em 2024, novas adendas foram assinadas para ampliar os projectos – igualmente sem concurso público – nas províncias de Malanje, Bié, Moxico, Lunda-Norte e Lunda-Sul, sem contar com os contratos anteriores para obras rodoviárias e urbanas, incluindo infraestruturas em Luanda e reabilitação de vias no interior do país.

Fontes próximas do sector energético questionam a transparência dos critérios de seleção e a repetição do mesmo grupo empresarial em adjudicações sucessivas de empreendimentos milionários sem os respetivos concursos públicos, pondo em causa a transparência na gestão do erário público.

Num outro Decreto Presidencial, o n.º 130/25 de 13 de maio, consultado igualmente pelo O Decreto e publicado no dia 30 de agosto de 2024, por via do Despacho Presidencial n.º 200, o Presidente da República, João Lourenço, em mais uma contratação simplificada, autorizou o Ministério da Energia e Águas a celebrar um contrato com a M. Couto Alves – Vias, S.A. e a M. Couto Alves, S.A., no valor de 2.742.046,00 euros (dois milhões, setecentos e quarenta e dois mil e quarenta e seis euros), para a execução do projecto de colocação de painéis solares nas localidades do Bailundo, Benguela, Biópio, Kuito, Lucapa e Saurimo.

Outras empreitadas beneficiadas

No Despacho Presidencial n.º 110/13, o Presidente da República aprovou o contrato de empreitada referente à construção das infraestruturas integradas das cidades do Uíge e Negage, na província do Uíge, no valor global de Kz 5.547.801.228,13, e autorizou o Ministro do Urbanismo e Habitação a celebrar o contrato com a empresa M. Couto Alves – Vias, S.A.

O grupo beneficiou ainda da aprovação dos contratos de empreitada para a construção de infraestruturas integradas ao longo da Rua Ndunduma (ex-Rua das FAPLA), na província de Luanda, conforme o Despacho Presidencial n.º 77/14, celebrado com a empresa MCA – M. Couto Alves, S.A., no valor global de Kz 1.740.000.000,00.

A segunda circular Luanda–Kifangondo/Funda/Catete, Pacote 1, na província de Luanda, foi adjudicada pelo valor global de Kz 19.900.000.000,00. Para a reabilitação da Estrada Ondjiva–Cuamato–Naulila, na província do Cunene, foi celebrado contrato com a empresa MCA – M. Couto Alves, S.A., no valor global de Kz 9.690.000.000,00. Já para a reabilitação da Estrada Luena–Luéa–Lumeje, na província do Moxico, foi autorizada a celebração de contrato no montante global de Kz 7.425.000.000,00, pelo Ministro da Construção.

O Grupo MCA ainda não prestou declarações. O Decreto enviou um pedido formal de contraditório com prazo de resposta de cinco dias úteis, mas até ao fecho desta matéria, os gestores do referido grupo não se pronunciaram.

O Despacho Presidencial n.º 77/14, publicado no Diário da República Iª Série n.º 85 de 7 de Maio de 2014, aprova os contratos de empreitadas de construção de infraestruturas integradas ao longo da Rua NDunduma, da 2.ª Circular Luanda-Kifangondo/Funda/Catete, da reabilitação da Estrada Ondjiva/Cuamato/Naulila e da Estrada Luena/Luea/Lumeje, todos a serem celebrados com a empresa MCA — M. Couto Alves S.A., no valor total de Kz: 38.755.000.000,00, autorizando o Ministro da Construção a celebrar os referidos contratos; e o Despacho Presidencial n.º 110/13, publicado no Diário da República Iª Série n.º 216 de 8 de Novembro de 2013, aprova o contrato de empreitada para construção de infraestruturas integradas nas cidades do Uíge e Negage, na Província do Uíge, no valor de Kz: 5.547.801.228,13, autorizando o Ministro do Urbanismo e Habitação a celebrar o contrato com a empresa M. Couto Alves Vias, S.A.

Quem é Manuel Couto Alves

Manuel Couto Alves, Presidente do Conselho de Administração, faz parte da terceira geração de uma família empresarial portuguesa envolvida no setor da construção. De 1986 a 1998, foi sócio de capital do Grupo ACA, tendo supervisionado a construção global de infraestruturas. Em 1998, fundou o MCA Group. Desde então, liderou o processo de internacionalização da empresa, diversificou as suas actividades comerciais e montou uma equipa com mais de mil funcionários. Entre 2021 e o início de 2023, ocupou o cargo de Presidente Não Executivo do grupo, antes de retomar a presidência executiva em 2023.

Principais colaboradores

  • Carlos Amado, COO de Energias
  • Elisabete Alves, COO de Infraestruturas Internacionais
  • Paulo Oliveira, CFO
  • Vítor Hugo Lima, COO de Infraestruturas Ibéria
  • Fernando Marques da Costa, membro não executivo
  • Luís Amado, membro não executivo

 

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