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Uma Lembrança Histórica Aos Angolanos - Carlos Kandanda

 No final da Guerra Mundial II, em 1945, os EUA, a Grã-Bretanha e a França, no esforço de criar um Estado para o Povo Judeu, pressionaram o Soberano Português, António de Oliveira Salazar, para ceder um espaço territorial em Angola, isto é, o território de Benguela e uma parte do Cuanza Sul e do Huambo. Esta proposta foi declinada categoricamente por Salazar. Haviam intensas démarches diplomáticas de persuasão em torno do líder Português, mas sem êxito. Salazar afirmava: «Angola é parte integrante de Portugal, e como tal, nunca Portugal havia de ceder um palmo da sua terra aos outros».

Foi nessas circunstâncias em que Angola safou-se de ser transformada pelos EUA num Estado Judaico, sob alçada de Washington, como seu Estado Satélite para a Expansão Territorial na África Subsaariana. No fundo, os Estados Unidos visavam retomar o Projecto de Portugal, do Mapa Cor-de-Rosa, que Portugal apresentou na Conferência de Berlim. Este Projecto encontrou uma resistência forte da Grã-Bretanha, que chegou ao ponto de ameaçar declarar a guerra contra Portugal se insistisse neste Projecto.

Enfim, o Mapa Cor-de-Rosa foi o mapa representativo da pretensão de Portugal para exercer a soberania sobre os territórios entre Angola e Moçambique, nos quais hoje se situam a Zâmbia, Zimbábue e Malawi, numa vasta faixa de território que liga o Oceano Atlântico ao Oceano Índico. De acordo com dados históricos parece que este Projecto foi apresentado inicialmente em 1886 pela «Sociedade de Geografia de Lisboa». O Projecto colidiu frontalmente com o Plano Estratégico da Grã-Bretanha que visava construir uma Linha Férrea Transcontinental, partindo do Cairo (Egito), ao longo do Mediterrâneo, até a Cidade do Cabo, na afluência entre os Oceanos Atlântico e Índico – na África do Sul.

No dia 11 de Janeiro de 1890, Londres mandou um telegrama ao Governo Português, cujo conteúdo exigia a retirada imediata das forças militares portuguesas mobilizadas nos territórios entre Angola e Moçambique, que correspondem aos atuais Zimbábue e Malawi. Caso Portugal não procedesse desta forma isso seria entendido como a Declaração de Guerra. Assim que Portugal teve que abdicar-se da sua pretensão ousada – que consistia no Mapa Cor-de-Rosa.

Em 1903 iniciou a construção do Caminho de Ferro de Benguela e terminou em 1929, ligado o Porto do Lobito ao Dilolo, no Congo. Este Projecto foi idealizado por Robert Williams, em nome do empresário britânico, Cecil John Rhodes, residente na África do Sul, na Colónia do Cabo. A construção do CFB esteve a cargo da Companhia do Caminho de Ferro de Benguela SARL (CCFB), com a participação dos Caminhos de Ferro de Katanga.

Para dizer que, a Grã-Bretanha, a Bélgica, a França, o Portugal e os Estados Unidos da América fizeram parte dos grandes investimentos da construção do Caminho de Ferro de Benguela. Porém, o outro Projeto do Cecil John Rhodes para a construção de uma Linha Férrea – do Cairo até a Cidade do Cabo – não ficou materializado até aos dias de hoje. Apenas permaneceu no papel.

Dizendo que, o Corredor do Lobito, que tanto se fala hoje, como se fosse uma novidade, fazia parte da estratégia das potências europeias, não apenas como veículo da transportação de mineiros do interior da África, mas sobretudo, para a ocupação dos vastos territórios do interior da África entre os Oceanos Atlântico e Índico. Agora, com o surgimento das potências asiáticas (China e Rússia), que disputam o mercado africano e a geopolítica mundial, o Corredor do Lobito tornou-se o «epicentro» da geoestratégia mundial.

Só que, entre nós, não temos a mínima noção geopolítica do Corredor do Lobito e do Corredor do Rio Nilo, que atravessam o coração da África. O Sahel está dentro desta realidade geopolítica da África, que liga o Norte e o Sul de Sahara. O destino da África está intrinsecamente ligado a três regiões estratégicas: O Mediterrâneo, o Sahel e o Corredor do Lobito, este último, que liga à República Democrática do Congo – o Pulmão da África.

Portanto, os olhos das Potências Mundiais estão postos sobre as três regiões africanas, como zonas de disputas e de conquistas. O que passa atualmente no Médio Oriente não tem nada a ver com as narrativas de armas nucleares do Irã, mas sim, a conquista do Mediterrâneo com fim de proteger a Europa, estancar a expansão russa e reconquistar o Continente Africano.

Voltando ao nosso assunto, suponhamos que Portugal abdicasse e cedesse à pressão dos EUA, da Grã-Bretanha e da França para entregar alguns territórios angolanos para a criação do Estado Judaico, no contexto do Mapa Cor-de-Rosa, em que condições estariam os povos desta região? Vendo pelo aquilo que está a acontecer no Gaza, no Líbano, na Síria e agora no Irã. No Gaza vive-se um autêntico genocídio, quase da dimensão do holocausto. Repare que, os Judeus e os Palestinos são povos irmãos, da mesma etnia, da mesma raça e da mesma origem histórica – vindos da Mesopotâmia, que situava entre os rios Eufrates e Tigres, no que hoje se chama Iraque.

Se o Israel age com tanta carga de violência e de ódio, como seria com os povos africanos da raça negra? Não se trata de antissemitismo, até pelo contrário, eu abracei sempre a causa do Povo Judeu. Eu residi 15 anos na Alemanha, em Munique, na Vila Olímpica (Olympia Zentrum), no Conolly-strasse, perto do local onde a Equipa Israelita foi atacada pelos terroristas palestinianos no dia 05 de Setembro de 1972. Eu e as minhas duas filhinhas (Ngueva e Sandra) visitávamos o local todos fins de semanas.

Somente não esperava que, quem foi vítima de holocausto, adotasse o «genocídio» como política do Estado contra os seus próprios irmãos e irmãs. O que passa no Gaza é uma tragédia humana. O mais grave é ver que, quem está por detrás deste «genocídio sistémico» é a maior potência mundial (EUA), que devia ser o Garante do Direito Internacional. Vejamos o que a Rússia está a fazer na Ucrânia. Tal igual como o que está a passar no Gaza. São duas superpotências mundiais que estão inclinadas ao genocídio.

Este contexto mundial deve despertar as nossas consciências. A África nunca foi amiga de ninguém. Ela sempre foi vítima de outros povos. Mesmo hoje, há ingenuidade e ilusão nas mentes das elites africanas que fecham os seus olhos aos factos reais e materiais, fingindo como se fosse nada estivesse a acontecer em nossa volta. A África é uma zona de disputa das potências industrializadas, em busca de recursos minerais e terras raras.

Só que, nos enganamos quando pensamos hipoteticamente sermos parceiros estratégicos do A, do B, ou do C. Uma Utopia. Quo Vadis África?

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