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Os gatunos autorizados - Alexandra Simeão

 Sem grande inovação e ao longo de décadas, muitos sectores da administração pública angolana têm diversificado e multiplicado diversos esquemas de corrupção, tendo como suporte o compadrio e a militância, bem como a proximidade a centros de poder. O cabritismo que muitos quisemos acreditar que, a partir de 2017, iria conhecer um destino trágico surpreende-nos todos os dias não apenas pela voracidade, mas sobretudo pela ausência de medo e de vergonha na cara.

Uns bandos de pessoas sem inteligência emocional delapidam o país todos os dias. Têm as chaves dos cofres. As passwords da tramoia. Os carimbos originais. As assinaturas autorizadas. São a instituição. Dos tostões aos trilhões. Os factos são públicos. Os sinais exteriores de riqueza também não deixam dúvidas para quem não tem a mão de Midas. A maioria miúdos atrevidos e esfomeados pela banga do fatinho slim com o tornozelo à mostra. São arrogantes. Sentem-se impunes. O poder que os chefinhos têm é real. A cadeia de comando está oleada, é funcional.

Batem às portas. Negoceiam o Estado. Como li numa das redes sociais “um dia ainda vamos descobrir que o RUPE era conta da desbunda”. A credibilidade institucional está moribunda. São tantos casos. Ao mesmo tempo. Ainda não nos tínhamos refeito do contrabando dos combustíveis, nem da maka da recuperação dos activos e vemos os impostos a ser devorados na maior das calmas.

Durante anos fomos vendo diversos programas de luta contra a corrupção e a impunidade que no papel pareciam gigantescos, robustos, mas na prática eram pó de pedra atirado aos olhos dos eleitores. Nulos. Ineficazes. Seletivos. Uma administração que não respeita a coisa pública não pode exigir nada. As empresas e as pessoas singulares a fazerem das tripas coração, afogados num aperto sinistro para respeitarem as suas obrigações, veem o seu dinheiro, que devia ser tratado com respeito e canalizado para cumprir as obrigações que nos devolvem Direitos, a entrar nos bolsos de bandidos autorizados.

Um governo que vive de mão estendida aos empréstimos, financiamentos e doações internacionais para melhorar morgues, para reparar estradas, para a luta contra a tuberculose, malária e HIV, para a água para todos, não pode ter os seus agentes públicos a roubar o dinheiro do povo que apesar de pagar impostos quase não usufrui de nenhum Direito de forma gratuita, pois tudo tem um preço em Angola. Com um surto de cólera à porta devido à precariedade/inexistência de saneamento básico a nível nacional, as vacinas oferecidas pela OMS, não chegam para todos, de acordo com a imprensa.

Cada tostão que o Estado recebe do contribuinte não pode ser abandalhado por nenhuma razão. A teia deve ser combatida até à exaustão. Não basta punir os periféricos. É imperativo que se encontrem os chefes de todas as quadrilhas. O país precisa de 60 toneladas de ética e não de esquizofrenia.

A corrupção mata. Viola a integridade do Estado. Multiplica os pobres. A corrupção deve sim ser considerada um crime contra a Humanidade. O descaminho do nosso país não faz nenhum sentido quando é visível que o bem comum nunca foi um propósito, um fim a realizar para garantir a segurança coletiva e sem isto nunca seremos nem independentes, nem livres, nem prósperos, nem cidadãos.

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