A caminho de três meses, continua nas celas desde que foi detido o cidadão Tomás António, Engenheiro de construção civil, em Outubro. Um processo, segundo a defesa, eivado de dúvidas tendo em conta os critérios que vêm sendo utilizados desde o acto da detenção, e seu encaminhamento ao estabelecimento prisional do Cambiote pelo Juíz de garantia, o que reforça as declarações das várias fontes, de ser uma detenção encomendada.
Tudo aconteceu por volta das 20h00 do dia 28 de Outubro de 2024, quando o
acusado teria recebido um telefonema de indivíduos que se identificaram como
agentes do SIC, com pretensão de o contactar. Sem nada temer, o visado forneceu
a sua localização e minutos depois foi alcançado por estes que imediatamente
efectivaram a detenção.
Levado às instalações do SIC para ser ouvido dia seguinte pelo Procurador
junto àquele organismo, o que não aconteceu até dia 30, data que foi colocado
diante do Juiz de garantia que depois de ouvi-lo, encaminhou para o
estabelecimento prisional do Cambiote.
Segundos juristas consultados pelo Club-K, trata-se de uma prisão ilegal,
pelo facto de a acusação que pesa sobre ele, (burla), não condizer com a
verdade, por se tratar de um negócio de uma parcela de terreno, que o suposto
ofendido, teria comprado a comunidade para fins de construção de uma
residência, facto que não ocorreu, porque o Gabinete Provincial de
Infra-estruturas e Serviços Técnicos, negou-se em atribuir-lhe a documentação
necessária para efeitos de legalização do espaço, como de costume, violando a
deliberação dos Tribunais, que deu razão aos nativos.
“Não se trata de burla uma vez que o espaço existe e não foi cedido a outra
pessoa, também não se trata de crime de abuso de confiança, pelo facto de o
comprador ter confrontado a documentação que legitima os vendedores como
donos”, explicou a fonte.
Impedido de construir, o lesado influenciado por funcionários do Gabinete
de Infra-Estruturas e Gabinete jurídico do Governo Provincial, exigiu a
restituição do valor aplicado na compra no total de três milhões e duzentos mil
kwanzas, com um acréscimo de juros em 80%, o que se considera extorsão
autêntica.
Segundo ainda a fonte deste portal, não existiu nenhum flagrante delito,
nunca antes tinha sido notificado para qualquer interrogatório sobre o processo
em causa do qual não tivesse comparecido para justificar qualquer desobediência
às autoridades. “Além do mais, é localizável, tem responsabilidades sociais
reconhecidas e autorizadas pelos órgãos do Estado”, reforçou.
À data da detenção, liderava a comissão das comunidades que está a negociar
com a administração Municipal, o processo dos terrenos não construídos na
centralidade do Lossambo e Bairro da juventude, restituídos aos nativos pelos
Tribunais, conforme reportado pelo Club-K nas edições passadas, um processo
antes tutelado pelo Gabinete Provincial de Infra-estruturas e Serviços Técnicos
do qual foi afastado devido a pedido das comunidades, por conta de várias
irregularidades que vinham sendo cometidas pelos senhores Domingos Mário
Sandambongo, Lemba, Francisco Neto e outros funcionários do mesmo gabinete,
tais como venda de terrenos dos camponeses, uso indevido da polícia para
intimidar, espancar e prender as vítimas, mais tarde o uso de marginais para o
mesmo efeito.
“Logo, não havia necessidade de deter o Engenheiro Tomás, presidente da
cooperativa, nos moldes que a mesma foi feita, se não fosse um acto
encomendado”, ressaltou outra fonte.
Na lista de detenções, constavam mais pessoas entre líderes comunitários e
membros da sociedade civil os mais destacados na defesa dos direitos daquelas
comunidades, cujos crimes, seriam engendrados de forma a não darem pistas de
qualquer ligação com os terrenos em disputa, cujo objectivo, era de
inviabilizar as negociações encabeçadas pelo Governador Provincial, que
estabelecem 60% de terrenos não construídos para as comunidades, sendo 40 para
os interesses do Estado.
Alertados por alguém que dominava a existência da lista que apontava para
detenções massivas, os visados convocaram de emergência, uma conferência de
imprensa, para denunciar o plano soturno do SIC, que vem se repetindo faz anos.
Segundo a fonte bem posicionada, uma vez, a comissão de negociações afecta
aos nativos, toda direcção da cooperativa e líderes das comunidades mais
influentes presos e condenados por crimes diversos, estariam afastadas todas
possibilidades de acordos, encerrar-se-ia o processo, com argumento de não
existir ninguém com quem negociar em representação das comunidades, o que
deixaria caminho aberto para os prevaricadores viciados na venda de terrenos.
A mesma fonte, conta que a morte recente em condições estranhas do Engenheiro,
João Banga, então chefe do Departamento urbanístico em substituição de,
Domingos Sandambongo, o único da comissão do Governo que reconhecia o direito
dos nativos e pressionava para que o processo fosse mais célere, depois do
Governador Pereira Alfredo, não deve ser considerado um caso isolado, uma vez
que as detenções em massa de acordo a lista, coincidiriam com o seu passamento
físico, que ocorreu quase no mesmo período em que foi detido o Engenheiro
Tomás, tudo indica que foi devidamente planejado, até porque circulam rumores
entre os funcionários do Gabinete dos serviços técnicos, que o malogrado foi
vítima de envenenamento por colegas, com interesses nos terrenos do Lossambo.
Tornou-se moda, em que todo Governante que se solidariza com aqueles camponeses,
é imediatamente exonerado, foi assim com Vice-Governador, Sapalo, mais tarde
com Fernando Ferreira Vicente, ex administrador do Município do Huambo,
indivíduos a quem a Governadora Lotty em fases diferentes, havia delegado
poderes para negociarem com a cooperativa e comunidades com a finalidade de se
ultrapassar o diferendo. Agora, pior perdemos um colega. Deve haver alguém
muito poderoso no meio disso. Concluiu.
A partir de um funcionário cujo nome não será revelado por questões de
segurança, mostrou ao Club-K, como estão sendo preenchidos a partir dos mapas,
os espaços não construídos.
Baseando-se na carta geral dos terrenos em volta do Lossambo, numa suposta
base de dados, os espaços são atribuídos a indivíduos fantasmas com nomes
fictícios, ou parentes de forma desonesta, com croquis de localização em nome
deste, para depois dar a entender, que a maior parte do terreno não construído,
já foi cedido.
O funcionário dos serviços técnicos, confidenciou ainda, que são quase
inexistentes os interesses do Estado nos terrenos do Lossambo, “existem sim,
interesses de Governantes, Juízes, Procuradores e líderes religiosos, com
colossais projectos com fins lucrativos. São as figuras, que usando o Sr.
Domingos, estão na base da detenção do Engenheiro, Tomás, cujo factos estão a
pôr em causa a imparcialidade dos órgãos de justiça na Província”.
Conhecer o instrutor do processo, ser ouvido pelo Procurador, o chamamento
à custódia e responder em liberdade quando não existe perigo de fuga, são
direitos que a CRA confere aos cidadãos, direitos estes, que foram negados ao
Sr. Tomás, pelo facto de a detenção ser proveniente de ordens superiores.
“Para piorar a vergonha nos órgãos de justiça no Huambo, o pedido da
alteração da pena pelo ministério público, não foi tido em consideração pelo
Juiz da causa, assim como passados dois meses, não existe qualquer suporte
sobre o habeas corpus. Estamos diante de um cárcere privado formalizado, pelo
facto de o detido se encontrar num estabelecimento prisional estatal mas, as orientações
dependem de privados”, lamentou.
Recentemente, um grupo de jovens vindos de vários pontos de Angola, viajou
para o Huambo, para realizar uma manifestação para repudiar a forma pouco clara
em que a detenção do Engenheiro Tomás, também membro da sociedade civil, foi
feita.
A manifestação, que aconteceria no dia 07 de Dezembro, foi inviabilizada
por ordens do Vice-Governador para área técnica. Este, convocou um encontro de
emergência com os jovens dia 08, para esclarecer o motivo da inviabilização da mesma,
tendo prometido resolver o assunto com a cooperativa num prazo não superior a
quinze dias.
Sem cumprir, no encontro convocado pelo Governador Pereira Alfredo,
ocorrido a 3 de Janeiro, Elmano, prometeu ter o assunto resolvido no prazo de
trinta dias. Durante o encontro em que participaram membros da sociedade civil
e da cooperativa, Pereira, garantiu aos presentes, que seu maior desejo, é ver
conflito terminado e estabelecer harmonia entre Governos e as comunidades.
Ainda sobre a detenção, está em curso um abaixo-assinado pelas organizações
da sociedade civil, para solicitar a liberdade do Engenheiro Tomás António.
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