Ticker

10/recent/ticker-posts

Segurança, Espionagem e Estratégias: A nova conjuntura do sistema internacional - Leonardo Quarenta

As várias tensões e conflitos regionais e internacionais, têm provocado instabilidades e corridas armamentistas entre as potências e actores políticos internacionais, levando os governos a cortarem verbas significativas dos sectores sociais em prol dos sectores de defesa, causando pânico e turbulências complexas globais: à nível econômico-comercial, diplomático e estratégico-militar.

As guerras e as crises no Médio Oriente (conflitos entre Israel-Hamas, envolvendo actores estatais, aliados um do outro, como o Irão e os EUA e organizações paramilitares como o Hezbollah e o Houthis), na Europa do Leste (conflito Russo- Ucraniano, com o envolvimento indirecto da NATO e da UE), na Ásia (tensões entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul e o Japão, envolvendo exercícios militares constantes entre esses últimos com os EUA, bem como as tensões entre a China e a Índia por causa do controle de Aksai Chin situada na Região da Caxemira; disputas territoriais entre a China e Taiwan e disputas no Mar do Sul da China (tensões entre a China com as Filipinas, Brunei, Malásia, Taiwan, Indonésia, Singapura e Vietnã); guerras e crises na Região dos Grandes Lagos, no Sahel e no Corno de África.

Todas esses conflitos e tensões acima citados e outras complexidades de insegurança regional e internacional, mudaram toda a conjuntura do sistema internacional; o direito internacional além de ser violado constantemente, os actores globais já não às observam por causa dos seus interesses nacionais e estratégicos.

A que se ter em conta também o alto nível de investimento na área da «Inteligência de Estado» (dinâmicas conjunturais estratégicas de colecta e análises de dados). Isso faz toda a diferença em todas as situações geopolíticas e geoestratégicas. Países como EUA (CIA e FBI), Israel (MOSSAD e IDF), Rússia (FSB), Reino Unido (SIS-MI6), China (MSE), França (DGSE), Alemanha (BND), entre outros Estados, têm sabido aplicar em prática seus “agentes especiais” referente às informações sigilosas.

Vários governos estão fazendo grandes movimentos diplomático-militares, transformando suas respectivas Embaixadas e Consulados, em “Departamentos e Quartéis” de mais alto nível de «Espionagem». As instituições diplomáticas e consulares são hoje uma espécie de extensão dos órgãos de Defesa e Segurança do Estado.

Países africanos investem pouco na «Inteligência de Estado», na verdade os serviços de inteligência africanos na sua maioria nem sequer praticam «Inteligência» no verdadeiro sentido da palavra, pois, além de perseguirem desnecessariamente seus

próprios cidadãos por motivos políticos, étnicos, religiosos ou por críticas aos partidos no poder, muitas das vezes seus agentes especiais fabricam relatórios, inventam dados e informações inexistentes e enviam aos seus superiores, e esses tomam suas decisões em base à tais informações mal colectadas e analisadas. Isso é muito frequente entre os diplomatas africanos e entre seus membros dos órgãos de Defesa e Segurança, que passam o tempo a fabricar relatórios... tenho centenas de provas sobre isso. Dá-se a necessidade de se preparar melhor os nossos diplomatas, militares e agentes especiais.

O Mundo da «Espionagem» é dinâmico, ela evolui dia após dia, o seu ritmo é progressivo e frenético, o que exige maior investimento por parte dos Estados. Pra nós político-militares e conselheiros sénior de segurança, é impossível garantir os interesses nacionais sem a aplicação eficaz e eficiente da espionagem, não falo de qualquer tipo de espionagem, falo particularmente da espionagem militar, espionagem diplomática, espionagem econômico-comercial (ou corporativa), espionagem sanitária, biológica e alimentar, por aí adiante, mas actuando de forma táctica, sobretudo de forma estratégica.

O sistema internacional está caminhando para a direcção do caos sem precedentes, os conflitos tomaram conta do psicológico dos povos, ou seja, em nome da segurança nacional, as sociedades civis e não só, já não conseguem se opôr aos seus governos no que tange aos orçamentos de Defesa, os parlamentos democráticos ou não, estão aprovando valores exorbitantes para o sector da Defesa. Países que investiam pouco nesse sector também apertaram no acelerador da corrida armamentista, pois, a insegurança tomou conta de todos e as tensões só aumentam e não há como parar isso, a turbulência regional e internacional é o novo normal da comunidade internacional.

No final dos conflitos Russo-Ucraniano e Israel Hamas, assistiremos uma nova ordem, não uma nova ordem global, mas sim novas ordens regionais. Por exemplo Israel tem levado a cabo uma Ampla Operação de «Inteligência Estratégica de Defesa e uma Operação Generalizada de Aniquilação dos seus inimigos», com finalidade de garantir maior Segurança pro seu próprio Estado. O País Judeu ao eliminar o Chefe Político do Hamas e o Líder do Hezbollah e tantas outras figuras do topo das várias organizações terroristas e paramilitares pró-Irão, não apenas desestabiliza o Estado Persa, como também, ao mesmo tempo, vai estabelecendo uma Nova Ordem na Região do Médio Oriente sob seu comando e linhas estratégicas de Gestão Regional.

O mesmo poderá acontecer com toda a Região do Báltico assim que o conflito Russo-Ucraniano chegar ao fim, muita coisa irá mudar, as questões estratégico-militares terão uma nova dinâmica e abordagem prática, também se poderá dar lugar à novas cooperações estatais e regionais, basta pensarmos por exemplo no BRICS. Essa organização de carácter econômico-global, representa 1/3 do PIB Global, ou seja, 32% da economia mundial, deixando pra trás o G7 (este representa 30% da economia global). O BRICS também representa 46% da população mundial, contribuindo com 18% do comércio internacional e 50% do crescimento da economia mundial.

O BRICS por si só é uma alternativa concreta dos parâmetros econômicos tradicionais internacionais, e com o tempo esta poderá ser a principal ferramenta econômica do Mundo, o que reforçaria ainda mais a tal chamada de «Nova Ordem Mundial», não necessariamente uma ordem em termos universais, mas sim em termos regionais, visto que a dinâmica ocidental continuará sendo um «poder global» assim como o BRICS, juntos terão relevância global, mas actuando significativamente e de forma directa nas decisões de tipo regionais: as regiões ocidentais continuarão com o ocidente, Israel poderá comandar a Região do Médio Oriente, a Rússia ficará com a Região do Báltico, a China ficará com a euroasia, as regiões africanas estarão uma parte sob o comando ocidental e outra sob o comando da China e da Rússia. Assim será, mais ou menos a Nova Ordem Mundial, não haverá um único actor a comandar tudo e todos.

N.B: Acima mencionei o termo «Inteligência Estratégica de Defesa»... aconselho diplomatas e agentes especiais africanos a fazerem um estudo profundo sobre isso. Poucos têm preparação sobre isso. Os que estiveram no Laboratório “Planejamento Operacional Militar”, no passado dia 27 e 28 de Setembro, tiveram a oportunidade de me ouvir falar pragmaticamente sobre isso, como tudo realmente funciona, quais suas dinâmicas, projectação, programação, estratégias e toda sua estruturação na questão da Administração Militar... Isso é coisa séria, não é pra todos, é pra pessoas sérias, rigorosas e competentes, focadas nas questões de Segurança. Sinceramente estou muito preocupado com a Segurança Regional Africana, é urgente elaborarmos novos modelos e mecanismos de Segurança, isso não é uma opção, mas sim uma necessidade urgente.

Administração do Estado Inteligência Diplomática Inteligência Militar Diplomacia Militar Competências Internacionais.

Enviar um comentário

0 Comentários