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PRA-JA “é mais-valia” para a democracia angolana - politólogo

O politólogo David Sambongo disse hoje que a legalização do PRA-JA Servir Angola é uma “mais-valia” para a democracia angolana, apostando num sistema “bipartidário imperfeito”, com MPLA e UNITA no topo, seguidos pelo partido de Abel Chivukuvuku.

“A legalização do partido político PRA-JA Servir Angola é, efetivamente, uma mais-valia para a nossa democracia, porquanto não se faz democracia sem partidos políticos (…). A forma mais acabada de participação política em função daquilo que está desenhado na nossa Constituição são os partidos políticos, que detêm o monopólio da ação política em Angola”, afirmou David Sambongo.

À Lusa, o politólogo angolano considerou que a legalização do partido de Abel Chivukuvuku constitui “mais uma alternativa” para os cidadãos angolanos, porque, justificou, “mais forças estarão ali para lutar, concorrer e apresentarem o seu projeto de sociedade”.

Para o analista político, a legalização do PRA-JA Servir Angola “vai mudar muita coisa” no panorama político angolano, sobretudo por ter à cabeça o “experiente, carismático e animal político” Abel Chivukuvuku, que “consegue galvanizar os cidadãos”.

Para Sambongo, a nível do espetro político partidário angolano, o país poderá ter um “sistema bipartidário imperfeito", com "as duas grandes forças que são o Movimento Popular de Libertação de Angola [MPLA, no poder desde 1975] e a União Nacional para a Independência Total de Angola [UNITA, maior partido na oposição] e, provavelmente, o PRA-JA como a terceira força”.

O PRA-JA “pode ultrapassar as restantes forças político-partidárias com exceção do MPLA e da UNITA e se tornar o 3.º partido político a nível do nosso xadrez político, deve ser uma força que vai perturbar o sistema político entre os dois maiores”, argumentou.

O PRA-JA Servir Angola anunciou na quarta-feira que recebeu o despacho de anotação do Tribunal Constitucional angolano, permitindo ao projeto político de Abel Chivukuvuku transformar-se em partido político.

A decisão põe fim a um processo que se arrastava desde 2019, ano da apresentação do projeto, que acabou por ser rejeitado em 2020 pelo tribunal, obrigando a esperar quatro anos para nova tentativa de legalização.

Sambongo admitiu, por outro lado, que esta legitimação do PRA-JA como força política poderá “abalar” a Frente Patriótica Unida (FPU) – plataforma político eleitoral composta pela UNITA, Bloco Democrático (BD) e PRA-JA e que conseguiu 90 deputados nas eleições de 2022 pela lista da UNITA -, sobretudo no que diz respeito ao BD.

“A FPU pode estar um bocadinho abalada e o mais prejudicado desta ação poderá ser, se não se trabalhar com afinco, o Bloco Democrático, que poderá ser a [força política] mais sacrificada neste processo”, já que “a UNITA tem militantes fiéis e também o PRA-JA pode ter muitos militantes", frisou o politólogo, questionando qual a ideologia política do PRA-JA Servir Angola.

Em relação ao discurso do presidente do MPLA e chefe de Estado angolano, João Lourenço, que disse, quarta-feira, na abertura da reunião do Comité Central, usando uma metáfora futebolística, que o seu partido está longe de eleições internas, esta declaração, para David Sambongo, traduz-se em “deixem-me terminar o meu mandato”.

João Lourenço “está a dar recado que ainda está no gozo do seu mandato, está no seu período a nível de liderança e que precisa, a nível da estrutura do Estado, cumprir com o programa de governação sufragado em 2022”, referiu.

“A política é um jogo e como em qualquer jogo, competição, só vencem as equipas cujo jogadores ou atletas se submetem à organização e disciplina do coletivo, e respeitam as regras do jogo e orientação da equipa técnica", disse João Lourenço na abertura da reunião do Comité Central.

João Lourenço passou o recado a “aquelas pessoas que se pontificaram, como Higino Carneiro, que abertamente se prontificou que vai concorrer para a sucessão de João Lourenço no 9.º Congresso Ordinário de 2026, e, portanto, é um alerta que está a dar que precisa de terminar o seu mandato e que a questão das eleições não se pode colocar neste momento”, rematou David Sambongo.

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