O presidente do Bloco Democrático, Filomeno Viera Lopes, fez saber que a sua organização política não vai embarcar na celebração dos 50 anos de independência nacional, sem que seja feita "uma reflexão sobre todo o percurso de oportunidades perdidas, denegação das liberdades, de repressão sangrenta da diferença e de uma guerra civil desumana que tanto prejuízo causaram ao País e aos angolanos"
"A celebração da grande conquista e a exaltação de júbilo pela
independência não pode servir a narrativa do poder hegemónico do regime de
Partido Estado", afirmou esta segunda-feira, 21, o líder do BD, quando
reagia ao discurso do Presidente da República sobre o estado da Nação.
"Um momento de verdade, em que os heróis têm que ser colocados perante as
suas responsabilidades históricas, segundo os referentes éticos que defendemos,
sem mitificação, nem culto de personalidade, para que as novas gerações do
próximo meio século não continuem, no plano simbólico, a ser colonizadas e
oprimidas por aqueles que são responsáveis pela nossa desgraça colectiva",
acrescentou o líder do BD.
De acordo com Filomeno Viera Lopes, as populações do País vivem, no dia-a-dia, imensas dificuldades para fazer face à doença, pela sua incapacidade de pagar exames médicos e os medicamentos receitados.
"Os orçamentos das famílias angolanas das classes baixas e médias não
suportam os elevados custos da saúde no País, porque as unidades
médico-sanitárias públicas, apesar da gabarolice dos governantes angolanos, são
conchas vazias", referiu.
Lamentou que o registo civil dos cidadãos angolanos continue por atingir a
universalidade e a normalidade, visto que mais de metade da população continua
sem o Bilhete de Identidade e esta é condição primária para o exercício de
cidadania.
Para o presidente do BD, "a reforma da justiça, que criou uma divisão político-administrativa, com a criação de tribunais de relação e de comarca, vieram tornar a justiça mais distante do cidadão e mais desigual".
Disse que o País se tem revelado incapaz de avançar na diversificação da economia e esta continua "fortemente" dependente da produção petrolífera.
De acordo com o político, "João Lourenço até agora não esclareceu a sua
posição em relação aos seus benefícios com a corrupção do regime, não sendo do
conhecimento público nem acto seu a devolução de activos, nos termos da Lei
contra a corrupção, e vem agora anunciar que vai ser aprovada uma nova
estratégia de combate à corrupção que deixa de ser persecutória e que vai
assentar mais na prevenção dos actos de corrupção, branqueamento de capitais e
financiamento do terrorismo internacional".
"O balanço do combate à corrupção da primeira fase é pobre, em comparação
com a dimensão da corrupção no País", referiu, sublinhando que a corrupção
no País tem crescido e muitos são os casos denunciados publicamente.
"É verdade que todos queremos fazer de Angola um País melhor para todos,
mas com a insistência na ditadura, com a negação da democracia local, com as
acções equivocadas e as prioridades estabelecidas, não chegamos lá, porque é
evidente que o rei vai nu e ainda não se deu conta do ridículo da sua
figura", concluiu.
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