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João Lourenço e a Fuga das Autarquias: O Diabo Contra a Cruz - Hitler Samussuku

Se há um assunto que faz João Lourenço tremer nas bases, é a institucionalização das autarquias locais. Fugir delas, ele faz com uma habilidade que até o diabo invejaria ao se afastar de uma cruz. Desde que assumiu o poder, o presidente angolano e seu partido, o MPLA, vêm evitando esse tema como quem escapa de uma maldição, adiando, protelando e, sobretudo, inventando desculpas.

Os deputados do Grupo Parlamentar da UNITA, ano após ano, mantêm um apelo firme e incansável sobre a necessidade das autarquias locais como motor de desenvolvimento comunitário. Para eles, e para grande parte da população angolana, a descentralização do poder é um direito consagrado pela Constituição da República de Angola e, mais do que isso, uma promessa que nunca foi cumprida. Porém, o MPLA, no seu costumeiro jeito de governar, fecha os ouvidos e levanta barreiras sempre que o assunto vem à tona.

O que João Lourenço parece temer nas autarquias? É que elas representam algo que seu regime jamais aprendeu a lidar: o empoderamento local e a autonomia popular. Dar ao povo o poder de escolher seus próprios líderes municipais seria abrir uma porta perigosa para um regime centralizado e controlado como o angolano. Desde 1975, o MPLA tem mantido um pulso firme no controle do país, e as autarquias seriam um rompimento dessa centralização, um passo em direção à democracia real que o partido insiste em negar.

E assim, o tempo vai passando. João Lourenço, tal qual seus antecessores, segue fugindo das autarquias, sempre com uma desculpa na ponta da língua. A desculpa da vez? As condições ainda não estão criadas. O que eles não mencionam é que as condições nunca estarão criadas sob os olhos de quem tem medo da mudança.

Enquanto isso, Angola continua sendo uma excepção na região. Países vizinhos como a África do Sul, Namíbia, Zâmbia , Congo, Botswana, Malawi, Rwanda e Moçambique realizam eleições autárquicas e demonstram que o desenvolvimento comunitário floresce quando o povo tem a oportunidade de participar ativamente nas decisões locais. Angola, entretanto, permanece à margem, estagnada, à espera de que seus líderes finalmente reconheçam que o futuro do país passa pela descentralização.

Mas se João Lourenço foge, os deputados da UNITA não recuam. Quanto mais o presidente tenta escapar, mais a oposição insiste, pressionando, desnudando a hipocrisia e revelando o que de fato está em jogo: o medo de perder o controle. A insistência da UNITA na institucionalização das autarquias não é apenas uma batalha política, é uma batalha moral, uma luta pelo futuro de um país onde o poder deveria estar nas mãos do povo, e não concentrado nas elites de Luanda.

Enquanto João Lourenço continuar fugindo, a imagem que ele constrói é a de um presidente que teme a democracia real, que se esconde atrás de promessas vazias e discursos grandiosos. Mas quanto tempo mais ele poderá correr? A cruz das autarquias, cedo ou tarde, o alcançará, e, nesse momento, o povo saberá que não há mais como fugir.

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