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AS PALAVRAS DO SILÊNCIO, ENTRE O RUÍDO E A ELOQUÊNCIA

 Olhou-me profundamente nos olhos e manteve uma postura difícil de identificar. Era o silêncio. O silêncio adentrou a minha alma e se adonou de palavras que um dia julguei serem minhas.

É curioso o modo como ele me abordou. Não se mostrou superior, nem inferior. É possível que num passado distante tivesse em si alguma emoção, mas quando de mim se acercou não lhe pude divisar qualquer movimento na alma. 

Sem emoção. Assim se mostrou o silêncio. Sem medo, nem coragem. Sem desejo, nem repulsa. Não cedeu ao ódio nem se deixou seduzir pelos afectos. Aí estava, o silêncio. Sem emoção. Apenas presente e verdadeiro. Sonoramente presente e profundamente verdadeiro. 

Olhei-o de volta para os olhos e, por breves instantes valendo mais que sete eternidades,  percebi as palavras com que o silêncio me estava a brindar: quando a mensagem não é clara, nem um milhão de palavras serão suficientes. Mas, quando as almas estão em sintonia a forma mais elevada e segura de comunicação é o silêncio. 

De que vale o mais belo dos versos, se no coração de outrem não fizer eco? Jamais completa estará a palavra que, uma vez escrita, não seja acolhida pela alma das gentes. Eis que o tempo passa, gerações se sucedem e as palavras violam o limiar da oportunidade sem que as atitudes as corporizem e novos sonhos as eternizem. 

O que direi eu ao silêncio? Que estou cansado ou que apenas parei por uns instantes para recuperar o fôlego? De que servem minhas palavras, quando as almas transbordam de vazias certezas? 

O que me diz o silêncio, quando mais duro se mostra cada passo? Aguenta-te homem! Posso não ter sílabas para ti, mas jamais te faltará o meu abraço. 



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