O revanchismo é uma atitude agressiva e odiosa provocada ou estimulada pelo desejo ardente e obcecante de desforra polÃtica. O revanchismo visa, acima de tudo, causar danos fÃsicos e morais, ou instigar o ódio e a violência contra os adversários polÃticos. Em poucas palavras, o revanchismo tem o carácter intolerante e exclusivista.
No dia 26 de agosto de 2024, o Presidente do MPLA, João Manuel Gonçalves
Lourenço, diante os militantes de base dos Comités de Acção do seu Partido
(CAP), no seu Discurso musculado, imputou à Oposição (FPU) toda a
responsabilidade do descalabro da sua desgovernação, nos termos maquiavélicos,
sem ter escrúpulos, moral e ética. Isso vê-se claramente neste trecho
abaixo: “O MPLA é um grande edifÃcio, o maior edifÃcio polÃtico-partidário
que Angola conhece desde os anos cinquenta. Por isso cuidemos das suas fundações,
dos seus alicerces que são os milhares de Comités de Acção do Partido, porque
são eles as bases da sua sustentação contra as tempestades criadas pelos nossos
adversários, que não fazendo oposição, encorajam e fomentam a desordem,
organizam e lideram a subversão, como ficou evidente agora na aprovação da lei
contra a vandalização dos bens públicos, tendo ficado provado o que já era
evidente, que estão por detrás destas práticas antissociais e criminosas.” Fim
de citação.
Ao ouvir e ao ler este pronunciamento do João Manuel Gonçalves Lourenço,
nas vestes de Presidente do MPLA e de Presidente da República de Angola, eu
fiquei bastante escandalizado e espantado pela gravidade de acusações feitas e
pela incitação à violência contra a Oposição. Isso ficou bem-evidente de que se
tratava de acusações infundadas dirigidas directamente contra a UNITA sendo uma
«força motriz» da Frente Patriótica Unida, que congrega no seu seio as forças
vivas da Nação Angolana.
Como sabemos, estamos perante uma UNITA temperada na luta polÃtica,
diplomática e militar, imbuÃda do espirito patriótico e nacionalista, de matriz
africana, que combateu o colonialismo português, que enfrentou a ocupação
russo-cubana. Uma UNITA que tinha sob sua alçada mais de 70% do território
angolano, reconhecido formalmente como um Estado dentro do Estado pelas Nações
Unidas, pelas Potências Ocidentais e por um conjunto dos PaÃses Africanos. Uma
UNITA que lutou afincadamente pelo Estado Democrático e de Direito. Uma UNITA
que foi Parceiro da Comunidade Internacional e do MPLA (em pé de igualdade) em
todos os Acordos da Independência, da Paz, do Multipartidarismo, do Parlamento
Multipartidário e do Governo da Unidade e da Reconciliação Nacional. Portanto,
não se trata de um «Partidêco» qualquer, como alguma vez dizia Doutor Jonas
Malheiro Savimbi.
Por regra, um Chefe de Estado é um Patriarca de uma Nação, que está acima de
todas as formações polÃticas, tendo a responsabilidade acrescida de «unir» e
«congregar» toda gente sem distinção alguma, nomeadamente de etnia, de estrato
social, de cultura, de lÃngua, de local de nascimento, de raça, de cor, de
sexo, de crença, de filiação partidária ou de orientação polÃtica.
Acima de tudo, um Chefe de Estado deve assegurar a supremacia da Constituição e
salvaguardar os direitos, as liberdades e as garantias fundamentais. Como diz
em latim: “pati quam ipse legem fecisti.” Em Português: «sofre a lei que tu
próprio fizeste». Noutras palavras, as leis são de cumprimento obrigatório por
todos e sem excepçao nenhuma. Nestes termos, um Chefe de Estado é uma
personalidade digna, honesta e respeitável, que tenha o prestÃgio e a
credibilidade, cujas palavras devem inspirar a confiança, a fé e a esperança
dos seus concidadãos.
Neste âmbito, importa salientar que um Chefe de Estado não pode ser um
malfeitor, que deixa-se cair em ridicularias, em mentiras, em intrigas, em
calúnias e em difamações – instigando ó odio, a violência e a divisão. Em
Direito diz-se que, «facti narratio non facit ius». O que significa em
Português: «a narração de um facto não constitui prova». Por isso, um Chefe de
Estado deve ser uma pessoa de bem, que sirva de modelo e de farol, e que tenha
um horizonte e um panorama global e realista do PaÃs e do Mundo. Ele deve ser
um depositário da herança cultural, da tradição e de costumes da sua Nação.
Importa dizer que, apesar dos seus passivos, que é humano, mas o malgrado José
Eduardo dos Santos foi uma pessoa astuciosa, reservada, introvertida e que
sabia ocultar a sua mente. Era difÃcil discernir o que andava na cabeça dele.
No domÃnio da doutrina polÃtica, convém sublinhar que os Partidos PolÃticos
constituem o «cerne» da democracia plural, representativa e participativa, cuja
«missão fundamental» consiste em educar a sociedade, despertar as mentes do
povo, defendê-los em todas as circunstâncias, elaborar programas governativas,
estabelecer ideários, divulgar os seus conteúdos, disputar o poder polÃtico
(através das eleições), governar e implementar os seus programas sufragados nas
eleições gerais, locais ou autárquicas.
O exposto acima se enquadra na liberdade de associação e da participação na
vida pública que compreende o direito de constituir ou participar em
associações e partidos polÃticos e de através deles concorrer democraticamente
para a formação da vontade popular e a organização do poder polÃtico.
Baseando-se no princÃpio de que todos os cidadãos têm o direito de tomar parte
na vida polÃtica e na direcçao dos assuntos públicos do paÃs, directamente ou
por intermédio de representantes livremente eleitos.
Portanto, cabem aos Partidos PolÃticos através dos Órgãos de Soberania do
Estado assumir o ónus da doutrina polÃtica, gerir as finanças públicas,
distribuir justamente a riqueza do paÃs, administrar a justiça, legislar,
fiscalizar, controlar, e acima de tudo, garantir o bem-estar social do povo e
prestar serviços públicos de alta qualidade. Isso, em conjunto, é que constitui
a essência da governação e que constitui igualmente a condição sine qua non da
existência do poder polÃtico.
Logo, os Partidos PolÃticos não existem para apenas estar na oposição, bater
palmas e levantar as mãos em unÃssono, conforme está subentendido no Discurso
do João Lourenço cujo trecho está exposto atrás. Repare que, «estar na
oposição» não é a «meta estratégica» da ciência polÃtica, mas sim, é uma
«condição transitória» para catapultar-se ao Poder do Estado – num processo de
alternância democrática regular. Portanto, a teoria do Presidente João
Lourenço, que consta do trecho acima, enquadra-se nas doutrinas absolutistas dos
regimes autoritários e ditatoriais que consideram a existência de partidos
polÃticos como sendo uma ameaça ao poder totalitário.
Nas condições actuais de Angola, de desgovernação total, da pilhagem
desenfreada do erário e da corrupção sistémica, se fosse num paÃs normal, com
instituições fortes, sólidas e republicanas, o Presidente João Lourenço teria
sido obrigado a demitir-se de imediato. Nem estaria na Cidade Alta porque ele
(em 2022) usurpou o poder pela força das armas, desrespeitando a vontade dos eleitores
expressa nas urnas.
Acima disso, ele tem estado a subverter sistematicamente a ordem democrática.
Causando discórdias e instabilidades enormes não somente nas Instituições do
Estado, mas sim, dentro do próprio MPLA, que agora se encontra de costas
viradas. Notemos que há um conjunto de factores polÃticos e socioeconómicos,
mal concebidos e mal geridos que estão na base do caos que se verifica no paÃs.
Ele é o «Ãºnico responsável» pela esta situação caótica e ele não deve, de modo
nenhum, imputar isso aos outros.
Vejamos, o nosso paÃs está vendido; o mercado angolano está entregue aos
estrangeiros e aos monopólios; os angolanos estão empobrecidos; a classe média
(emergente) decaiu; largas famÃlias comem nos contentores de lixo; agora se
alimenta de ossos, de pescoços, de tripas e de carcaças de frangos; regista-se
a queda sem precedente do Kwanza; ele perdeu drasticamente o poder de compra;
há escassez de divisas no mercado; nota-se a redução drástica de importações de
bens; verifica-se a inflação estrutural, de demanda e de oferta; o contrabando
tomou conta do mercado angolano; como consequência disso, o paÃs mergulhou-se
no abismo da delinquência, da corrupção, da intolerância e da pobreza extrema.
A tÃtulo de exemplo, uma reportagem feita pela TV-ZIMBO (29/08/2024) sobre a
indústria petrolÃfera angolana revelou que, “o peso do investimento das
empresas angolanas do sector petrolÃfero é de apenas 1,3%;” as empresas
angolanas ocupam somente os sectores mesquinhos, como de limpeza; além disso,
beneficiam apenas 2% dos investimentos deste sector estratégico, que representa
95% das exportações de Angola.
O que quer dizer que, o mercado petrolÃfero está totalmente sob a tutela das
empresas estrangeiras. Enquanto, no caso do Brasil, ele controla mais de 50% do
seu mercado petrolÃfero. Repare que, 96% das receitas públicas de Angola provem
da indústria petrolÃfera, que está nesta condição do domÃnio das empresas
estrangeiras. Então, onde estará a independência polÃtica e económica do nosso
paÃs?
Em sÃntese, gostaria de ressaltar três aspectos importantes: em primeiro lugar
é «inconstitucional» fazer uma lei (com penas de 15 a 25 anos) que visa, de
modo simulado, implicar os partidos polÃticos em actos de vandalismo com vista
a prender e emprisionar os seus dirigentes e militantes, como forma de
afastá-los da arena polÃtica. Visando, deste modo, as figuras mais influentes
da sociedade angolana, como forma de «destruir a oposição e a sociedade civil».
Um artifÃcio que serve de instrumento de repressão e da eternização do poder
polÃtico.
Em segundo lugar as investidas de destruir ou domesticar a UNITA não são de
hoje, são de muito tempo. Porém, nunca funcionaram, nunca tiveram êxitos e
nunca serão capazes de apagar a UNITA. Na verdade a UNITA passou por um perÃodo
dificÃlimo, turbulento e desafiante. Só que ela foi capaz de contornar esta
situação complicada e complexa, mantendo intacta a sua identidade, os seus
ideais, a sua personalidade e o seu horizonte.
A UNITA está enraizada na sociedade angolana e a Mama Muxima, no dia 01 de
Setembro de 2024, foi uma prova inequÃvoca da popularidade do Presidente
Adalberto Costa Júnior e da afirmação dos ideais da UNITA na sociedade
angolana. Por outro lado, o Festival Jaguar Negro dos Jagas, que ocorreu em Luanda
no dia 31/08/2024, fizeram-se presente (em peso) Jovens artistas: poetas,
músicos, escritores, escultores e cantores, que enalteceram o “Pensamento
Estratégico” do Doutor Jonas Malheiro Savimbi, o Fundador da UNITA e o
Protagonista do Manifesto do Muangai. Neste âmbito, à luz desta Escola de
Pensamento, a UNITA saberá sempre adaptar-se às condições concretas de
cada contexto a fim de remover os obstáculos e superar as investidas.
Em terceiro lugar os problemas no seio do MPLA (que são profundos) preocupa
todos os angolanos. Porém, este contexto não deve ser confundido com a UNITA
para que isso sirva de bode expiatório. Nós todos sabemos o que aconteceu
durante os «massacres» de 27 de Maio de 1977 que exterminou mais de 80 mil
angolanos inocentes. Ninguém deseja que isso venha acontecer mais uma vez no
nosso PaÃs. Portanto, todos temos o dever patriótico de cuidarmos da paz, da
unidade e da reconciliação nacional.
Por isso, devemos congregar as sinergias de todos os angolanos para
erradicarmos a fome e a pobreza extrema que alastram pelo PaÃs. Isso é que
aflige o povo angolano e que corrói neste momento a sua alma e revolta a sua
consciência. Porque não é aceitável uma situação desta natureza a acontecer num
paÃs que está cheio de recursos naturais. Mas que não beneficiam os Angolanos.
Esta é a Grande Questão.
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