Ah, o lendário Mercado Roque Santeiro! Um lugar onde a realidade e a ficção se encontravam, não apenas por ter emprestado o nome da famosa novela brasileira, mas por ter se tornado o cenário de um espetáculo diário digno de qualquer festival.
Situado no coração do Sambizanga, o Roque Santeiro (criado
com o nome de mercado municipal do Sambizanga) foi muito mais do que um simples
mercado; era a única incubadora de empresas funcional criada pelo Homem Novo,
onde sonhos empreendedores se encontravam com a dura realidade angolana. De
1991 até seu encerramento em 2011, se tornou um verdadeiro ícone, um lugar
onde, como disse Pepetela, “Se não tem no Roque, é porque ainda não foi
inventado”.
Imagine um quilómetro de comprimento por 500 metros de largura
– o equivalente a cinco campos de futebol – repletos de barracas, bandas e
tendas, onde se vendia de tudo: de peixe fresco a electrónicos de última
geração, de tecidos coloridos a peças de carro. Era uma explosão de cores,
cheiros e sons, uma cacofonia organizada que só quem frequentava sabia
decifrar.
No Roque Santeiro, a candonga era a rainha. As mercadorias mal saíam do Porto de Luanda ou do Aeroporto 4 de Fevereiro e já apareciam magicamente nas bandas do mercado antes mesmo de chegarem às lojas. O que era contrabando para uns, era logística eficiente para outros. Afinal, por que esperar a burocracia quando o Roque Santeiro tinha tudo à mão?
Os comerciantes eram verdadeiros empreendedores natos. Cada
um com sua história, sua luta diária para ganhar o pão de cada dia. A Zunga, a
venda ambulante, ganhou ainda mais força quando o mercado foi fechado pelo
Homem Novo em 2011, sob a promessa de requalificação do Sambizanga. O Roque
Santeiro fechou suas portas, mas o espírito de comércio do povo angolano não
foi silenciado.
Hoje, a memória do Roque Santeiro vive nas histórias
contadas, nos sorrisos saudosos e nas crónicas bem humorísticas que celebram a
capacidade de um povo de transformar qualquer espaço em um mercado vibrante e
funcional. Afinal, onde mais se poderia encontrar, num só lugar, desde uma
galinha viva até uma televisão importada, passando por um remédio milagroso que
curava qualquer dor?
O Roque Santeiro foi, sem dúvida, a mais bem-sucedida
incubadora de empresas do país. Não foi criado em um prédio moderno com
ar-condicionado, mas nas ruas quentes e movimentadas do Sambizanga. E é essa a
verdadeira essência do empreendedorismo: a capacidade de se adaptar, de inovar
e de prosperar, mesmo nas condições mais adversas.
E assim, nas páginas da história e nas lembranças de quem viveu aqueles dias, o Roque Santeiro continua vivo, como uma prova de que o espírito empreendedor não pode ser contido por encerramentos ou requalificações. O mercado pode ter sido desmontado, mas as sementes plantadas ali continuam a florescer por toda Angola, onde cada zungueira e cada comerciante carrega um pedaço do legado do Roque Santeiro
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