As imagens do novo mapa de Angola foram a sensação da semana. De repente, os nossos bilhetes de identidade nos dão uma naturalidade diferente da actual realidade. É um pouco desconfortável, para dizer o mínimo, porque alguns ficaram mesmo apavorados, especialmente os que passaram a ser “das províncias” da noite para o dia. Novas linhas, novos nomes e novos vizinhos foram aprovados pela Assembleia Nacional, numa votação que demonstrou que estamos divididos em dividir o nosso território.
As suspeitas de costume estão corretas - a nova DPA “é uma jogada
política”, primeiro porque foi proposta por políticos e aprovada por eles.
Afinal, tanto os membros do Executivo quanto os Deputados são todos políticos,
e nessa perspectiva das suspeitas de costume, tudo que é aprovado no Parlamento
dos políticos é uma jogada política.
A expansão dos municípios de 164 para 324 é uma “jogada política” ambiciosa
para integrar um território vasto e diverso, onde grandes regiões como o Moxico
e o Cuando Cubango, isoladas pela distância e infraestrutura incipiente, agora
se encontram no centro de uma nova visão de desenvolvimento. As duas províncias
juntas têm a fronteira mais extensa do país, com mais de 4 mil quilômetros,
fazendo fronteira com a Namíbia, Zâmbia e República Democrática do Congo. A
instalação dos órgãos do Estado para o controle do território respeita a
Divisão Político-Administrativa, estando, nesse momento, as fronteiras entregues,
na maioria dos casos, ao controle de minúsculas administrações comunais
isoladas a centenas de quilômetros, com dificuldades de oferecer os serviços
sociais básicos.
A “jogada política” acabou com os contrastes de Luanda (Capital), onde o
luxo e o lixo andam de mãos dadas, integrou as regiões remotas à economia
nacional e vai reforçar a segurança nas fronteiras. Ao melhorar a presença do
Estado nessas áreas, o país aumenta a capacidade de monitoramento e combate ao
contrabando, assim como fomenta o comércio legítimo e a cooperação regional,
numa altura em que o livre comércio em África é um processo irreversível e o
Corredor do Lobito é um “a fênix que renasce das cinzas”. Embora a economia do
país ainda esteja em recuperação, no médio/longo prazo, as novas unidades
territoriais vão atrair mais investimentos directos estrangeiros em
setores-chave como a mineração e a agricultura.
É, de fato, uma jogada política corajosa. E não é a primeira vez que o país
se divide quando são necessários actos de coragem. Uns se abstêm, outros ficam
contra e se auto combatem. Não foi diferente na Luta Armada de Libertação
Nacional, em que a maioria só começou a acreditar na Independência Nacional
depois do 25 de Abril de 1974, quando os corajosos já lutavam há 14 anos, desde
1960.
Nas imagens dos novos mapas, vemos além de novas linhas a inexistência do
imenso vazio que caracterizava a Região Leste. Vemos as novas linhas do fluxo
de tudo - bens e serviços mais tarde, mas a informação pode chegar agora,
porque uma estrada ou uma linha férrea não superam o poder que um sinal de
rádio e televisão têm na mudança de mentalidade das pessoas.
Vamos capitalizar esse recurso barato - a informação - para disseminar o
conhecimento e com isso reforçar a nossa identidade nacional em todo o
território, “partilhar ideias, matar saudades, estar próximo de tudo que
amamos. A nossa Bandeira, a nossa gente” mais próxima. Porque os gastos do
passado mostraram que, afinal, o nosso problema não é o betão ou o alcatrão,
mas a mentalidade e a autoestima das pessoas.
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