Nos meandros das ruas de Luanda, nas conversas nos táxis e nas discussões acaloradas dos bairros, um tema emerge com uma intensidade crescente: a insatisfação com a desgovernação de João Lourenço .
Segundo o Afrobarometer, uma pesquisa que tem ganhado respeito por sua precisão e abrangência, a confiança do povo angolano nas acções do governo contra a corrupção está em declínio acentuado.
Em 2019, João Lourenço, o então recém-eleito Presidente, carregava
nas costas a esperança de um povo cansado de promessas vazias e escândalos
endêmicos. Naquele ano, 34% dos angolanos acreditavam que ele estava no caminho
certo, um número modesto, mas carregado de potencial. João Lourenço tinha
assumido o poder com uma plataforma que prometia quebrar os grilhões da
corrupção que sufocavam o país há décadas.
Avancemos para 2024. O cenário é dramaticamente diferente.
Oito em cada dez angolanos agora julgam que as acções de João Lourenço estão
erradas. O sonho de um combate eficaz contra a corrupção parece ter se
transformado em um pesadelo de decepções. A promessa de mudança se dissipou
como a névoa da manhã, deixando para trás um sentimento amargo de traição.
Para muitos, a corrupção continua a ser um câncer que corrói
o tecido social e econômico de Angola. As histórias de desvio de fundos,
nepotismo e favoritismo não são mais meros rumores; elas se tornaram parte do
cotidiano, um fardo que os cidadãos comuns são obrigados a carregar. As
tentativas de reformar as instituições e fortalecer a justiça parecem
insuficientes, fragmentadas, ou simplesmente ineficazes.
O Afrobarometer, em suas análises detalhadas, pinta um quadro
de um povo que perdeu a fé. A falta de transparência, a impunidade para os
poderosos e a lentidão das reformas são apontadas como as principais causas
dessa desilusão. Os angolanos, que uma vez olharam para João Lourenço como um
possível salvador, agora o veem como “inimigo” e parte de um sistema que
continua a falhar com eles.
Os números são mais do que estatísticas; eles representam vidas reais, expectativas frustradas e um futuro incerto. A insatisfação não é apenas uma crítica ao presidente ditador, mas uma expressão de um desejo profundo por um governo que realmente se preocupe com o bem-estar de seu povo. Em cada rosto, em cada esquina, a mensagem é clara: os angolanos querem mais do que promessas. Eles exigem acção, justiça e, acima de tudo, mudança real.
Neste cenário, a questão que permanece é: como João Lourenço
pretende sair do Poder: por via da força ou por transição pacífica ?Poderá ele
permitir a alternância política ou preferirá ser derrubado pelo povo? A
resposta a essas perguntas determinará o futuro de Angola e o legado de sua
liderança.
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