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A PRIORIDADE DO EDIFÍCIO-ANDRÉ KIVUANDINGA, JORNALISTA E CRONISTA

 Nas palavras de um líder, frequentemente repousam as chaves para entender não apenas o presente, mas também os caminhos traçados no passado e os que se desejam trilhar no futuro. Ontem, 26 de agosto de 2024, o presidente do MPLA, com sua retórica habitual, lançou ao ar uma afirmação que despertou minhas reflexões profundas. Entre outras considerações, duas se destacaram: a admissão velada de que o nepotismo e a corrupção permeiam a ascensão aos cargos de direcção dentro do partido, e a audaciosa declaração de que o MPLA seria o maior e melhor edifício construído nos últimos 50 anos.

No primeiro ponto, o líder reconheceu um problema que, embora fosse evidente para muitos, raramente é confessado por aqueles que se encontram no topo. Ao admitir que membros dos comités de acção partidária (CAP) têm sido preteridos em prol de elementos com maior influência, o presidente escancara as portas de um sistema corrompido, onde a competência é frequentemente sacrificada no altar do favoritismo. E, no entanto, ao reconhecer o problema sem aplicar as devidas sanções, ele se torna cúmplice dessa injustiça. É como assistir a um incêndio se alastrar e, mesmo sabendo onde está a água, escolher não usá-la. A complacência, nesse caso, não apenas perpetua o mal, mas o legitima.

O segundo ponto toca uma questão ainda mais profunda, a relação entre o partido e o país. Ao declarar que o MPLA é o maior edifício construído em meio século, o líder parece confundir a obra com o terreno onde ela se ergue. Um partido, por mais forte e influente que seja, não pode jamais ser maior que a Nação à qual serve. A terra que Deus nos deu, com suas riquezas, suas belezas naturais e seu povo, é o verdadeiro edifício que devemos valorizar acima de tudo. Pois um partido, como qualquer construção, pode um dia desmoronar; mas a Nação, essa sim, permanece, sustentando gerações e sonhos que vão muito além de ideologias políticas.

Essa inversão de prioridades é perigosa. Ela sugere que, para alguns, o partido se tornou mais importante que a própria Angola, que os interesses políticos sobrepõem-se ao bem-estar do povo. No entanto, a história nos ensina que, quando um partido se coloca acima da Nação, ele perde a legitimidade de liderá-la. Governar é, antes de tudo, servir. E quem se esquece disso, por mais imponente que seja o edifício que construa, verá um dia suas paredes ruírem.


O verdadeiro legado de um líder e de seu partido não deve ser medido pela solidez de suas estruturas políticas, mas pelo bem que essas estruturas trouxeram ao povo e à Nação. O maior edifício que um líder pode construir é um país próspero, justo e livre, onde a terra e as pessoas que nela vivem são sempre priorizadas. Se isso for esquecido, o custo será pago não apenas pelo partido, mas por toda a Nação.

O discurso do presidente deveria servir como um chamado à reflexão. Não basta apontar os problemas; é necessário agir para corrigi-los. E, acima de tudo, é essencial lembrar que o partido é apenas um instrumento. O verdadeiro valor está no país, na terra que nos foi dada, e no povo que nela vive. Esse é o edifício que devemos sempre proteger e priorizar, pois nele reside o futuro de todos.

 

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