O embaixador de Angola nos Estados Unidos da América, Agostinho Van-Dúnem, destaca que à parte do tradicional interesse no domínio dos hidrocarbonetos, o país hoje conta com financiamentos e investimentos daquele país nas áreas da Energia, Água, Infra-estruturas de transporte, Telecomunicações, Ciência, Tecnologia e Agricultura. Ao Jornal de Angola, o diplomata assinala o facto de, pela primeira vez, em 30 anos de relações diplomáticas, uma missão empresarial do sector agrícola vir fazer prospecção do mercado e conhecer as oportunidades de investimento e parcerias com os empresários nacionais.
O que significou o último encontro entre os Presidentes João Lourenço e Joe
Biden para cooperação entre Angola e os Estados Unidos da América?
O encontro entre o Presidente João Lourenço e o Presidente Joe Biden
significa que, ao mais alto nível político, existe o compromisso de elevar os
níveis das relações de amizade e cooperação entre os dois países.
É um impulso para que os diferentes protagonistas nos sectores público e
privado de ambos os países possam fazer mais e melhor, considerando os
benefícios e interesses mútuos.
Os dois países estão já a trabalhar nessas áreas?
Estas são as áreas para as quais estamos a trabalhar intensamente com os
Estados Unidos da América, para agregar valor às acções do Executivo e do
sector privado angolano, no sentido de diversificar e fazer crescer a nossa
economia, aumentar os níveis das trocas comerciais com os Estados Unidos e com
outros países, sobretudo da nossa região Austral.
Qual é o grau de interesse dos empresários e credores norte-americanos por Angola?
O grau de interesse dos empresários e credores norte-americanos por Angola
é, hoje, claramente mais elevado e notável. À parte do tradicional interesse no
domínio dos hidrocarbonetos, temos hoje financiamentos e investimentos dos
sectores público e privado americano nas áreas da Energia, Água,
infra-estruturas de Transporte, Telecomunicações, Ciência, Tecnologia e Agricultura.
Neste último sector podemos antecipar, que pela primeira vez, temos em
Angola uma Missão Empresarial Americana ligada ao sector agrícola, que veio
fazer prospecção ao nosso mercado e conhecer as oportunidades de investimento e
parcerias com os nossos empresários. Têm sido parceiros neste esforço o
Eximbank, o DFC e o Departamento da Agricultura Americano.
Quais são os outros sectores que despertam interesse?
Outros sectores importantes que despertam o interesse mútuo é o da Defesa e
Segurança. Para nós, é uma área necessária para manter e promover, em Angola e,
sobretudo, na região Austral de África, a paz, a segurança e a estabilidade
política como factores que proporcionam o desenvolvimento económico e social
dos respectivos povos.
Esta é uma posição que o país assume a partir da sua própria experiência…
Angola conhece o que é a instabilidade gerada por uma guerra civil e pode
aproveitar esta experiência para transmitir aos seus parceiros da região que o
diálogo é o melhor caminho para se resolver os conflitos. Queremos cooperar
neste domínio para infundir um ambiente de paz, segurança e estabilidade
política no continente africano. Sem prejuízo da parceria com outros países, a
conjugação de esforços com os EUA pode nos levar a atingir estes objectivos.
Como é que está inserida a diáspora angolana nos Estados Unidos da América?
A nossa diáspora está cá desde os anos que antecederam a independência
nacional. São várias as razões que fizeram com que os angolanos emigrassem para
a América em diferentes épocas e contextos.
Podemos destacar, se quisermos, três grandes momentos da emigração de
angolanos. A época pré-conflito interna, depois a fase de crescimento económico
em Angola, que se verificou com o boom da nossa indústria petrolífera, que
encorajou o Governo a enviar milhares de bolseiros para o exterior, incluindo
os EUA. E por último, nestes últimos 20 anos, por razões de ordem económica,
muitas famílias decidiram procurar melhores condições de vida aqui nos EUA.
Estaríamos a falar de quantos cidadãos em concreto?
Estima-se que mais de 10 mil angolanos estejam a residir nos Estados Unidos
da América, a trabalhar em diversos sectores, estudar e outros ainda a procura
da sua inserção na sociedade americana. Em breve vamos trabalhar com a nossa
comunidade para realizarmos o censo que nos vai permitir estar mais próximos do
número exacto da nossa diáspora.
Os angolanos não estão unidos?
Existem algumas associações que têm procurado abnegadamente unir os
angolanos e nós aplaudimos e apoiamos este esforço. As associações comunitárias
ajudam o nosso trabalho e são porta-vozes junto das entidades diplomáticas e
consulares.
Isto tem facilitado as nossas próprias acções de apoio à comunidade. Fica,
também, mais fácil perceber as suas dinâmicas e desenvolver com a própria
comunidade propostas que ajudem o Executivo a aumentar o número de políticas
públicas dirigidas para as diásporas angolanas nos processos sociais,
económicos e políticos do nosso país.
Quando se refere a políticas públicas, está a falar de quê, em concreto?
Quando me refiro às políticas públicas, por exemplo, quero citar que
recentemente, o Governo criou condições em algumas Embaixadas e consulados para
a emissão de documentos nacionais. Isto só é possível, e só podemos melhorar e
ampliar os serviços, se tivermos uma percepção de onde está a nossa diáspora, o
número da nossa comunidade e qual é a situação documental ou migratória dos
nossos cidadãos.
Mesmo no estrangeiro, os angolanos devem merecer a atenção do Estado…
Sim. Os membros da nossa diáspora devem sentir-se tão angolanos como outros
e contribuir, tal como os demais que vivem no país, para o seu desenvolvimento.
É dever do Estado, através dos serviços consulares e da Embaixada, criar todas
as condições possíveis para que os angolanos tenham, nestas instituições, uma
retaguarda segura para responder às suas expectativas.
Há angolanos bem-sucedidos na América?
Temos angolanos que estão a ser bem-sucedidos na Academia, quer como
académicos, quer como estudantes. Temos angolanos bem-sucedidos no desporto, na
cultura, no jornalismo e outros empreendedores. É por tudo isso que queremos
trabalhar com a comunidade para apoiá-la, quer no contacto com as autoridades
locais, como na conexão intercomunitária e com o Executivo, para que todos se
sintam cada vez mais apoiados e realizados na América e em Angola.
A imigração ilegal para os EUA não afecta os angolanos?
Temos uma preocupação com a imigração ilegal de angolanos que está a
aumentar por via das redes ilegais, que criam falsas expectativas aos jovens
angolanos.
Há números?
Actualmente, temos o registo de mais de 1.500 angolanos presos nas
fronteiras entre o México e os Estados Unidos da América, devido ao crime de
imigração ilegal. Muitos nem sequer conseguem provar o seu estatuto de cidadão
nacional, além do passaporte. Entretanto, isto não impede que façamos o nosso
trabalho.
A Embaixada de Angola nos EUA também está a concluir os procedimentos para
criar o Conselho das Comunidades Angolanas residentes na América do Norte. É
uma iniciativa piloto que pode desembocar noutras idênticas lá onde há uma
considerável presença de angolanos.
Disse que mais de 1500 angolanos estão detidos na fronteira com o México. Há contactos com estes cidadãos?
Sim, há contactos frequentes entre a Embaixada de Angola e as autoridades
americanas e mexicanas no que respeita aos cidadãos angolanos e aqueles que se
apresentam com documentos angolanos ou se declarem como tal.
Há igualmente visitas dos nossos sectores consulares a alguns cidadãos
presos, que nos permitem avaliar as condições em que se encontram e o modo como
a Embaixada e os consulados podem intervir. Estamos a coordenar com o Serviço
de Migração e Estrangeiros(SME) uma visita de trabalho a estes centros de
detenção para aferirmos as condições dos detidos.
Como é que vai funcionar o Conselho das Comunidades Angolanas?
Será um órgão de aconselhamento ao embaixador para as questões da
comunidade. O mesmo vai integrar os cônsules, dirigentes comunitários e outros
cidadãos angolanos capazes de gerar um diálogo inclusivo entre angolanos na
diáspora. Uma das suas contribuições poderá ser a de ajudar o Executivo a
promover políticas públicas para os cidadãos que residem no estrangeiro.
O que tem a dizer sobre o programa de assistência técnica do Departamento do Tesouro?
Estamos a acompanhar, junto do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos
da América, o programa de assistência técnica que visa dotar os técnicos e as
instituições angolanas no domínio financeiro e no apoio ao combate dos crimes
económicos, nomeadamente o branqueamento de capitais, financiamento do
terrorismo. É um dossier muito importante, sobretudo para reforçar a confiança
no nosso sistema financeiro e melhorar o nosso ambiente de negócios. Nós
queremos que esta cooperação se mantenha até que os resultados esperados sejam
alcançados.
E como está a questão dos correspondentes bancários em dólares?
O trabalho que fiz referência é, também, importante para ultrapassarmos a
dificuldade que temos na relação com os correspondentes bancários em dólares.
Esta dificuldade, como sabe, dificulta a atracção do investimento privado e,
por um lado, dificulta a dinâmica da nossa própria economia e a vida das pessoas
em última instância.
O turismo é também um sector importante nas relações entre os dois países…
O turismo também é um assunto importante na relação com os EUA. Devemos
fazer o trabalho de casa para atrair o turista americano. Em 2023, a indústria
do turismo gerou receitas de quase 4 triliões de dólares e Angola deve
trabalhar para fazer parte deste circuito para conseguir uma parte destas
receitas.
Nos últimos tempos tem havido um interesse de americanos descendentes de famílias que saíram de Angola como escravas…
Sim. Há uma diáspora ancestral que são os americanos descendentes de
famílias angolanas que foram trazidas para as américas durante o período do
tráfico de escravos. Mais de cinco milhões destas famílias são provenientes de
Angola. Hoje, esta franja da população americana tem o potencial para ajudar
Angola a promover o turismo e o intercâmbio cultural com benefício para os dois
povos.
É mais uma oportunidade que se abre para Angola…
Para Angola, em particular, o fomento do turismo é também uma forma de
diversificar a economia, promover mais emprego e riqueza para as nossas
comunidades e população. Estamos a estruturar iniciativas com universidades e
associações americanas, das quais podemos citar a Fundação da Família Tucker,
que tem impulsionado o turismo de afro-americanos para Angola. Foi assim que
muitos países africanos (Quénia, Nigéria, Ghana) conseguiram aumentar as suas
receitas com o turismo ou captar mais investimentos e know-how para o país. Há
coisas que só precisamos imitar os bons exemplos.
Quais são as principais áreas de interesse dos empresários do sector agropecuário que se encontram em Angola?
Nesta primeira missão do sector agrícola americano, os Estados Unidos
trouxeram um conjunto de empresários produtores de carnes mais interessados em
identificar compradores nacionais. Obviamente que os nossos objectivos passam,
antes, pela deslocação e transferência de tecnologias para que esta produção se
realize em Angola. Temos as condições necessárias e a grande disponibilidade de
terras com excelente topografia, ideais para mecanização, o clima propício e
água em abundância, que são factores imprescindíveis para a prática da
agricultura. Temos condições que garantem safras produtivas em Angola.
O que é que impulsiona o interesse pela área do agronegócio?
O interesse em áreas como o agronegócio em Angola é impulsionado por vários
factores, a começar pela necessidade da diversificação económica. Angola tem,
historicamente, dependido muito do sector petrolífero para as suas receitas. No
entanto, a volatilidade dos preços do petróleo destacou a necessidade de
diversificação económica. O agronegócio oferece uma oportunidade para reduzir
essa dependência, contribuindo para uma economia mais estável e resiliente.
Garante também a segurança alimentar…
De facto. Isto é o mais importante e tem sido uma das bandeiras do
Presidente da República. O agronegócio é essencial para garantir a segurança
alimentar da população. Ao desenvolver a produção agrícola interna, Angola pode
reduzir a sua dependência das importações de alimentos e garantir um
abastecimento confiável para os seus cidadãos. E isto gera outras vantagens
como a criação de empregos, exportações e geração de receita e o
desenvolvimento rural.
Para isto, queremos contar com os investidores americanos que têm uma larga
experiência neste domínio e podem ser os parceiros ideais para algumas áreas do
agronegócio.
Como a isenção de vistos para turistas norte-americanos pode impulsionar o turismo?
Foi bom o Executivo ter assumido a medida de isenção de vistos para
impulsionar o turismo. A medida em si mesma não encerra algum tipo de vantagem
imediata que impulsione a economia nacional, se não for acompanhada de acções
de promoção do turismo nacional, como a melhoria do sistema de saúde, segurança
pública, mobilidade e a promoção dos locais e sítios históricos.
O que é que a missão diplomática de Angola nos EUA tem feito a este propósito?
Ao nível da nossa missão diplomática em Washington temos estado a procurar,
através de acções, um pouco tímidas, colocar Angola no roteiro dos turistas
americanos. A longo prazo poderemos sair dos «estáticos» 3.7 por cento da
contribuição do turismo para o nosso PIB para percentagens mais condizentes com
as potencialidades internas.
Há ainda muitas reclamações sobre a obtenção de vistos para os EUA. No âmbito da parceria estratégica existente, que soluções estão desenhadas para facilitar o processo?
Angola tomou uma decisão unilateral de isenção de vistos para turistas de
98 países. Isto não obriga que os nossos parceiros façam a mesma coisa por nós.
Por exemplo, os Estados Unidos da América concedem vistos a cidadãos nacionais
com um prazo de dois anos de validade e com múltiplas entradas. Esta medida
unilateral não exigiu reciprocidade por parte de Angola. A estratégia de
relançamento do turismo nacional e do investimento privado é uma iniciativa do
nosso Executivo.
Ou seja, nada pode ser feito…
Eu não posso falar sobre a reciprocidade esperada destes 98 países, mas
posso garantir que vamos sempre defender os interesses dos nossos cidadãos,
respeitando, como é óbvio, a soberania dos Estados Unidos da América.
Qual é a percepção existente nos EUA em relação ao actual momento que se vive em Angola?
O Presidente da República foi recebido no dia 30 de Novembro, pelo Presidente
Joe Biden, na Casa Branca. A visita do Secretário Blinken, do Secretário
Austin, da Secretária-adjunta da Agricultura Small-Torres, que acontece neste
momento, da presidente do Exim Bank e das delegações do PGII são um indicador
do estado das relações entre os nossos dois países.
Portanto, esta percepção traduz a realidade das relações entre Angola e os
Estados Unidos da América.
Até que ponto esta aproximação com os Estados Unidos belisca as relações históricas com a Rússia e a China?
A melhoria constante das relações comerciais, económicas e políticas e de
amizade com todo os países do mundo é uma prioridade do nosso país. As nossas
relações com os outros países devem estar fundadas nos interesses nacionais e
devem ter reflexo na vida dos angolanos. Para Angola, todos os países do mundo
são bem-vindos, quando há a promoção de interesses mútuos e o respeito da
soberania de cada um de nós.
Portanto, não existem quaisquer fricções com os dois aliados tradicionais por causa disso?
Países como os EUA e a China têm relações comerciais muito intensas no
interesse dos seus povos e países. Angola deve, por isso, relacionar-se com os
EUA, China, Rússia e outros países na base da reciprocidade e de benefícios
comuns. Apenas deve estar condicionada aos seus próprios interesses. São muito
boas as relações de Angola com vários países, incluindo a China.
Portanto, para responder a sua pergunta, se pensarmos nos interesses
angolanos, as relações com os Estados Unidos de modo nenhum beliscam as
relações de Angola com outros países.
Qual tem sido o papel da Câmara de Comércio EUA-Angola no intercâmbio entre os dois países?
Temos estado a trabalhar no sentido de aproximar mais as instituições que
funcionam como alavanca da nossa economia. E a Câmara de Comércio EUA-Angola é
uma destas instituições. É preciso perceber como podemos reforçar o papel de
facilitador entre as empresas e estas com os respectivos estados.
O Executivo tem feito a sua parte e muitas vezes as nossas acções têm
resultado numa maior facilidade no intercâmbio entre os sectores privados dos
dois lados.
Os angolanos estão a aproveitar as facilidades do AGOA para fazer negócios com os EUA?
Muito pouco. Diga-se. Só a Nigéria e a África do Sul dominam 75 por cento
deste mecanismo do AGOA (Lei norte-americana sobre Crescimento e Oportunidade
para África). O resto do continente não consegue sequer colocar no mercado
americano um quarto dos milhares de produtos abrangidos no âmbito desta
oportunidade.
O sector económico e comercial da nossa missão diplomática tem estado a
realizar encontros com a Secretaria do Comércio americano. Eu próprio tenho
estado a conversar com senadores americanos para perceber como é que países
como o nosso podem tirar maior partido do AGOA.
A que conclusão chegou?
Chegamos à conclusão que é preciso contratar os serviços de consultores
angolanos para virem aos Estados Unidos da América e perceber os padrões de
produção aceitáveis neste mercado e depois darem formação aos nossos produtores
e exportadores, ou em sua substituição, esta formação pode ser dada aos agentes
do Estado. O retorno do investimento é sempre superior.
Café angolano tem potencial para ganhar espaço no mercado dos EUA
Que produtos angolanos podem ser vistos no mercado norte-americano e quais têm potencialidades de serem comercializados?
Café. Angola produz café de alta qualidade e há uma crescente procura por
café especial nos Estados Unidos. O café angolano tem potencial para ganhar
espaço no mercado de cafés especiais dos EUA devido ao seu sabor distinto e
qualidade.
O que temos mais para além do café?
Frutas tropicais e produtos agrícolas. Além das frutas, Angola também
produz uma variedade de outros produtos agrícolas, como milho, feijão, mandioca
e batata-doce. Estes produtos têm potencial para serem comercializados nos
Estados Unidos, tanto na forma bruta quanto processada.
E, finalmente, peixes e frutos do mar. Produtos como o camarão, lagosta e
peixes têm procura significativa no mercado norte-americano e podem ser uma
fonte importante de receita para o país.
Ou seja, Angola pode aproveitar essas oportunidades…
Sim. Angola pode capitalizar nessas oportunidades, investindo em
infra-estrutura, qualidade e promoção dos seus produtos no mercado
internacional.
Há alguns produtos feitos em Angola que já podem ser comprados nalguns
locais, como a fuba, kisaka, mandioca etc. Queremos incentivar empresas como a
Foodcare, que tem estado a trazer para o mercado americano alguns produtos
nacionais.
Como classifica a comunidade angolana nos EUA?
A comunidade angolana nos Estados Unidos da América é muito diversa e tem
origens muito dispersas, desde logo a mais antiga saíu do país no auge da
colonização e antes da independência em 1975. Houve uma segunda vaga por razões
políticas e a última por razões académicas e procura de novas oportunidades.
Poderíamos contar com aquela de origem ancestral com quem temos mantido também
intenso contacto. Portanto, a nossa comunidade é muito dispersa, mas mantém os
factores de identidade coesos.
Como está o interesse de afro-americanos em descobrir as suas origens?
As famílias afro-americanas cujas origens são de Angola têm manifestado um
intenso e profundo interesse em conhecer o nosso país. Muitos destes cidadãos
já estiveram em Angola em roteiros co-organizados por nós. Um exemplo é a
família Tucker.
Creio que a promoção do turismo nacional deveria contar com estes cidadãos
que têm ligações ancestrais com Angola. É um projecto que devemos levar em
consideração. Aliás, Cabo-Verde, Ghana, Costa do Marfim e o Senegal têm tirado
proveito destas ligações.
Como é o trabalho do embaixador de um país como Angola nos EUA, a maior potência mundial?
Desafiante. Envolve uma variedade de funções complexas e estratégicas, que
visam promover os interesses nacionais, fortalecer as relações bilaterais e
melhorar a posição do país na arena internacional. Temos tido contactos
regulares com membros da comunidade angolana, particularmente a residente em
Washington DC, Virgínia e Maryland. Até porque estão mais próximos
geograficamente.
Qual é a rotina do embaixador?
Entre a minha residência e a Embaixada a rotina pode envolver encontros com
as instituições locais no âmbito das minhas funções diplomáticas e outras
tantas vezes compromissos culturais e desportivos. É preciso conhecer os
Estados Unidos da América além da literatura. Ficcional ou técnica.
Perfil
Agostinho de Carvalho dos Santos Van-Dúnem
Nascido a 1 de Junho de 1971, no Sambizanga (Luanda), em Angola.
Foi nomeado pelo Presidente da República para a função de embaixador de
Angola nos Estados Unidos da América desde o dia 28 de Março 2023.
Formação académica
- Mestre em Governança e Gestão Pública (FGV)
- Licenciado em Relações Internacionais
pela Universidade
do Minho
Actividade profissional
Iniciou a carreira em 1998 como assistente da assessoria diplomática da
Presidência da República de Angola
Durante mais de 20 anos, colaborou activamente na estruturação de dossiers
relevantes sobre as relações internacionais do Governo de Angola,
principalmente no continente africano.
Exerceu a função de Secretário-Geral do MIREX, tendo desempenhado o papel
fundamental na concepção e implementação de novos modelos de gestão das missões
diplomáticas, a par da participação em dossiers da política externa e
diplomacia.
Deputado da Assembleia Nacional 2017-2022 e na V Legislatura 2022-2027,
Foi membro da Comissão de Assuntos Constitucionais e Jurídicos e
vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Cooperação Internacional e
Comunidades Angolanas no exterior, tendo sido igualmente eleito membro da
Comissão de Paz e Segurança do Fórum Parlamentar da CIRGL (Conferência
Internacional da Região dos Grandes Lagos).
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