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Veneno no ar - Jorge Eurico

A secretária de Estado do Comércio, Augusta Fortes, anunciou para Dezembro a primeira fase do Parque Industrial do Alumínio na Zona Franca da Barra do Dande, província do Icolo e Bengo. Um investimento de duzentos milhões de dólares que ameaça a saúde de mais de duzentas mil pessoas. Veneno no ar. Necropolítica com assinatura do Executivo.

Augusta Fortes fez o anúncio recentemente toda contente da vida. Augusta ignorância. Fortes sinais de irresponsabilidade política. Falta de cultura ambiental. Descaso em relação à saúde pública.

A criação do Parque Industrial do Alumínio na Barra do Dande é um mau investimento. Jogar dinheiro para o lixo. Ou melhor: investir na futura morte dos moradores da Barra do Dande e arredores. Um risco real para a saúde pública. Veneno no ar. Os cidadãos vão respirar toxinas. O ar ficará contaminado. De uma coisa tenho a certeza matemática: Os animais de Icolo e Bengo não foram consultados. A promessa de Auzilio Jacob foi incumprida.

Alumínio é veneno. Altamente tóxico. Persistente no corpo humano. Pode causar doenças respiratórias, renais e neurológicas. Quem o diz é a OMS: A exposição prolongada provoca efeitos neurotóxicos e danos pulmonares. Nos Estados Unidos, trabalhadores de fundições apresentaram taxas elevadas de cancro do pulmão, bexiga e distúrbios neurológicos. Na Alemanha, mortes por doenças pulmonares e neoplasias foram registadas junto a fundições. No Japão, estudos da Universidade de Osaka ligaram estas indústrias ao aumento de casos de cancro do pulmão, bexiga e cérebro.

Países desenvolvidos estão a fechar fábricas de alumínio por estes riscos. Nos EUA, a Alcoa encerrou operações em Indiana e Nova Iorque. A Alemanha reduziu a produção em 50% e fechou a planta de Hamburg. No Japão, a Sumitomo Chemical abandonou o negócio do alumínio primário há mais de uma década. Relatórios da OCDE, publicados em 2024, confirmam que vários países reduziram drasticamente a produção devido ao impacto tóxico e energético do alumínio. O Executivo angolano faz o contrário. Sempre a caminhar na contramão.

Instalar uma fábrica de alumínio numa área povoada é expor pessoas ao risco de morte lenta. Mais de duzentas mil pessoas vivem nas imediações da Barra do Dande. Duzentos milhões de dólares para matar silenciosamente. O escritor camaronês Achille Mbembe definiu necropolítica como a escolha do Estado sobre quem pode viver e quem deve morrer. Os cidadãos de Icolo e Bengo vão ser vítimas dessa lógica com assinatura do Executivo. É irresponsabilidade política. Angola precisa de indústrias limpas, não de fábricas de veneno. Não há estudo de impacto ambiental nem consultas públicas, conforme prevê a Lei de Bases do Ambiente.

O Executivo deve esclarecer se esta aposta é dolosa ou ignorante. Exige-se fiscalização rigorosa. Estudos de impacto e consultas públicas. Os ambientalistas têm de se pronunciar. A Sociedade Civil deve opor-se a esta fábrica. Os locais precisam de ser tidos e achados. Os ministérios da Saúde e do Ambiente devem dar explicações claras. Os deputados do círculo eleitoral de Icolo e Bengo devem colocar o tema na agenda política. Levá-lo à Assembleia Nacional para discussão e análise.

O cidadão-eleitor merece respostas. O País inteiro deve exigir responsabilidade. Sensatez. O investimento industrial não pode ser sinónimo de doença. Não há desenvolvimento verdadeiro onde a vida humana é ignorada. O fumo não traz progresso. Traz tosse. Febre e funerais discretos. Quem governa deve colocar a saúde acima do lucro e do prestígio político. Convocatória geral. O País tem de escolher: A vida ou o lucro! Está lançado o Grito de Ipiranga ecológico para salvar os habitantes de Icolo e Bengo, mais concretamente da Barra do Dande, da morte por envenenamento. Começa em Dezembro.

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