O País esteve à mercê da desordem durante três dias. Manifestações. Saques, confrontos. Mortes. O Serviço de Informação e Segurança do Estado (SINSE) não previu o caos. Estava de férias. Ausente. Falhou. E o País pagou. Foi a falência da segurança do Estado. A inteligência falhou, perderam-se vidas. Houve prejuízo de grande monta. Foram três dias e três noites de Estado ausente, mas com presença de morte e caos. Angola esteve vulnerável. Desprotegida. Só Deus protegeu os seus cidadãos. Todos sabiam que uma “bomba atómica” social podia explodir a qualquer momento. Todos, menos o SINSE.
A instituição encarregada de antever riscos e neutralizar ameaças à ordem
constitucional mostrou-se cega, surda e muda. Falhou redondamente. E, como
sempre, ninguém foi responsabilizado. Lavaram as mãos, como Pôncio Pilatos,
perante um País a ferro e fogo. Verdade sem protocolo nem paninhos quentes: O
SINSE não protegeu a paz. Não antecipou os focos de instabilidade. Não preveniu
a escalada da tensão social. E não o fez por falha técnica ou por cálculo
político. A inteligência angolana demonstrou falta de lucidez. Ou pior:
demonstrou que não serve (mal) os cidadãos, apenas o poder político.
A responsabilidade política pelo caos não se esgota no SINSE. Estende-se ao
ministro do Interior e ao Comandante-Geral da Polícia Nacional. Foram mais de
duas dezenas de mortos, de acordo com dados preliminares de organizações da Sociedade
Civil. Vidas que poderiam ter sido poupadas se as forças policiais estivessem
devidamente preparadas, coordenadas e instruídas. Não estavam. Foi necessário
recorrer às FAA, que patrulharam as ruas de Luanda durante as noites de segunda
e terça-feiras e regressaram aos quartéis nas primeiras horas da manhã
seguinte. Uma operação que, na falta de melhor termo, mais pareceu improviso do
que estratégia.
O comunicado do ministro do Interior foi um insulto à inteligência dos
cidadãos. Retórica oca. Frases recicladas. Nenhuma explicação sobre as mortes.
Zero responsabilidade assumida. Um exercício sonoro de fuga à realidade.
Barulho, sem substância. E, mais uma vez, o foco foi desviar a atenção da
origem do problema: A profunda crise social, económica e política em que o País
está mergulhado.
O caos expôs o óbvio: O ministro e o comandante-Geral não estão à altura.
São peças decorativas de um sistema que se arrasta, sem respostas nem rumo. E
não estão sozinhos. O SINSE falhou. OMinistério do Interior falhou. O silêncio
do Presidente da República acentuou ainda mais a sensação de abandono nacional.
Há uma cadeia de responsabilidades que a propaganda tenta disfarçar, mas os
factos falam por si. A actual equipa económica do Executivo, que alimenta a
ilusão de estabilidade enquanto o povo passa fome, também perdeu toda a
credibilidade. Das duas, uma: Ou o SINSE enganou o Presidente da República, ou
dizem-lhe a verdade e ele escolhe não ouvir. Nesse caso, o problema já não é a
Informação. É o poder.
O País aguarda um gesto de liderança. Um sinal. Uma palavra. Mas o
Presidente está em modo avião. Nenhuma comunicação. Nenhuma visita. Nenhuma
presença. O silêncio e a ausência começam a parecer mais do que contenção:
Parecem desinteresse perante o próprio Estado angolano. Se quem governa não
responde aos cidadãos nos momentos de crise, então não governa. Apenas ocupa o
cargo.
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