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Para muitos analistas a greve dos taxistas foi orquestrada pelo regime com fins perversos - Joaquim Nafoia

O pequeno grupo que constitui a clique do regime que tem (des)governado Angola usou a intenção de greve dos taxistas para transformá-la exactamente no álibi de quem tem estado à procura nos últimos tempos para desencadear um cenário propício ao pretendido golpe constitucional, cujo fim último será o de congelar a realização das eleições previstas para 2027, sendo este o único meio que acha poderá viabilizar a sua permanência no poder.

Manifestações são sempre olhadas com grande desconforto, embora constituam uma ferramenta de Direito, imprescindível para o funcionamento equilibrado das sociedades nos Estados de Direito Democrático. No caso de Angola, a greve convocada pelos taxistas para a segunda-feira passada, dia 28 de Julho, contra a subida do preço dos combustíveis e seus derivados, também trazia este elemento de contrariedade por quem governa, mas contra o qual não há muito a fazer quando avaliamos a justeza que as reivindicações dos taxistas na verdade encerram.

Mas as acções de vandalismo, saques e pilhagens que inesperadamente entraram em cena, resultando num indesejado cenário de violência em lugar da simples paralização dos táxis, reúnem todos os ingredientes para concluirmos que terá havido uma mão oculta por detrás a provocar todo o caos. Há inúmeros indícios de que, sim, foi tudo orquestrado para o que se esperava que fosse uma simples greve de taxista redundasse em prejuízos materiais e perdas de vidas. Com que intenção, é que o veremos mais adiante.

Porque não andamos cá simplesmente a apanhar bonés e sabemos das coisas horrendas que o regime trama às ocultas, podemos e vamos dizer aqui, sem tergiversações, que as ocorrências nefastas desta segunda-feira e daí em diante foram claramente forjadas e com a intenção de resultar num cenário caótico. A clique mais sectária do regime que tem (des)governado Angola tirou proveito da intenção de greve dos taxistas para transformá-la exactamente no álibi de que tem estado à procura nos últimos tempos para desencadear um cenário propício ao pretendido golpe, o de congelar a realização das eleições previstas em 2027, sendo este o único meio que se acha que poderá viabilizar a permanência do regime no poder.

Não dizemos isto apoiados em nenhuma gratuita “teoria do caos”. Os sinais e as fagulhas têm andado no ar. O aumento do preço dos combustíveis e seus derivados, da tarifa do preço dos transportes e das propinas escolares foi apenas o estopim de uma estratégia tecida com esse fim: acender uma combustão de modo a inflamar as emoções das populações, sobretudo a franja juvenil, para forçar um levantamento social como as ocorrências de segunda-feira última, caracterizadas pela desordem, sem dúvidas, mas passíveis de serem milimetricamente controladas pelas forças de defesa e da ordem.

Aliás, podemos recuar para ir a um passado recente buscar um dos primeiros sinais de que os taxistas de Luanda já vêm sendo instrumentalizados e ensaiados como cobaias para forjar estratégias e cenários macabros já explicados acima.

Nada é inocente!

Basta que nos recordemos do dia 10 de Janeiro de 2022, altura em que decorreu uma outra greve de taxistas que também terminou em caos! Nessa ocasião, ficou evidente que o regime havia preparado grupos de vândalos que foram introduzidos no teatro das operações, na Comuna de Benfica em Luanda. Devidamente instruídos, foram tais grupos que queimaram o próprio comité local do MPLA, bem como um autocarro que transportava doentes e médicos.

Tudo isso foi deliberadamente orquestrado com o propósito de criar a desordem e o caos. À semelhança do que está a suceder por estes dias, já naquela altura o objectivo dos actos de desordem consistia em instilar, por entre os mais diversos segmentos da sociedade, sentimentos de ira e revolta direccionados contra a UNITA, acusada "aliás como sempre" da sua autoria. Tratar-se-ia, em última instância, de mais uma reedição de propósitos macabros como os que se verificaram nos conflitos pós-eleitorais de 1992, quando o regime criou as condições para a decapitação de parte da Direcção da UNITA em Luanda e o massacre de milhares dos seus militantes na capital angolana, sucedendo o mesmo naquilo que ficou conhecido como a Sexta-Feira Sangrenta de 1993.

Portanto, temos um regime especialista em montar tramas e expedientes políticos. Vamos a um roteiro recente, imediatamente antes do actual caos das vandalizações. Por exemplo:

De um tempo a esta parte, circulam nas redes sociais vídeos que apelam à violência disseminados por uma figura que todos sabem ligada ao sistema e, no entanto, se apresenta como presidente de um partido político opositor ao regime. Disfarçado de alguém “confuso”, a quem os menos atentos talvez considerem ter um parafuso a menos, passa ultimamente a vida a destilar nos tais vídeos conteúdos que reportam, essencialmente, ofensas e graves faltas de respeito a instituições públicas e órgãos de soberania.

Apesar de tudo o que faz e diz configurar claros casos de polícia, o indivíduo em questão deambula pelo país num perfeito à-vontade e tem seguidores que vão replicando aquelas mensagens. O problema é que as mentes menos preparadas captam o conteúdo espúrio que esse falso “político maluco” tem veiculado, podendo cada um aplicá-lo consoante o meio e o contexto. É espantoso, de resto, que as autoridades, sempre ciosas da imagem das instituições de soberania, ainda não tenham tomado providências para acautelar as consequências perversas das acções do indivíduo.

II. Na mesma lógica, circulam vídeos de um indivíduo a disseminar convites para qualquer cidadão com instruções sobre como aterrorizar e desestabilizar os agentes das forças de defesa e segurança, por via de manifestações e acções de baixa visibilidade.

Para as pessoas mais atentas, a forma como esse “proponente do terror” se apresenta e aborda as questões mais sensíveis, em público e sem disfarces, indica logo que se trata de um agente do sistema; provavelmente um agente dos serviços de inteligência envolvido na estratégia da “bandeira falsa” que o regime pretende desencadear no processo constitucional apregoado e muito desejado por uma parte dos militantes do MPLA. Para que melhor se entenda, “bandeira falsa” é uma operação ou acção dissimulada que se realiza com a intenção de atribuir a responsabilidade do acto praticado a outra entidade, indivíduo ou adversário. Normalmente, as técnicas usadas, neste tipo de operações, são as da auto-vitimização, desinformação e manipulação para confundir a opinião pública.

III. Outrossim, não é por acaso que circulam nas redes sociais textos e pôsteres de militantes do MPLA a incitar o Presidente da República a suspender a Constituição, dissolver o Parlamento, ilegalizar os partidos políticos na Oposição e decretar o estado de sítio sem limites. Os autores dos referidos textos e pôsteres acusam a UNITA e a 1oposição interna do próprio MPLA de constituírem obstáculo à concretização do programa estratégico do Presidente João Lourenço.

Ora, estabelecendo uma associação com os factos acima elencados, facilmente se chega à conclusão de que a greve dos taxistas é algo minuciosa e deliberadamente pensado, idealizado e posto em acção pelo regime com o objectivo de provocar os tumultos e convulsões sociais de que se necessita agora, como pão para a boca, para engendrar um cenário de golpe constitucional.

De resto, o folhetim macabro em torno da greve dos taxistas, que tem todos os indícios de orquestração, também se presta justamente a que levantemos toda a sorte de questionamentos, a saber:

1. Quem é o taxista? O taxista é o dono do carro em serviço de táxi ou é o motorista?

2. Quem são os líderes dos taxistas que convocaram a greve na primeira hora? Por que desistiram logo à primeira hora? Quem foi que os coagiu? E porque foram coagidos?

3. O presidente de uma associação de táxi se autoindica ao cargo ou é eleito entre pares?

4. Terão reunido ou não com os associados antes da convocação da greve de três dias?

5. Como é que o grupo acabou por se dividir, ao ponto de surgirem vozes discordantes depois da negociação mantida com o Governo Provincial de Luanda?

6. Por que é que a desconvocação da greve não foi em sede do comunicado conjunto a exemplo da primeira reunião que convocou a respectiva greve?

7. Como é que uma greve para ficar em casa se transforma em manifestação?

8. Primeiro, o que é que o Governo tratou e fez com as associações de taxistas?

9. Que garantias terá dado o Governo para uma parte dos associados desconvocar a greve?

10. Em que tipo de acordos terão os órgãos de comunicação social públicos se baseado para o ruído feito em torno da desconvocação da greve dos taxistas? Com que intenção o terão feito? Manipulação e desinformação? Em benefício de quem?

11. Se o Governo acha que não tem nenhuma culpa, como é que fica refém dos taxistas, tratando-se de uma entidade privada?

12. O Governo interferiu na esfera privada desses entes de forma tão grosseira porque? Terá exigido algum serviço mínimo para o decorrer da greve?
Em resumo: salta à vista que a greve dos taxistas constitui um expediente premeditado. O regime instalou dentro das associações os seus tentáculos. Sendo pela segunda vez que isso acontece, não sobram dúvidas das verdadeiras intenções que o grupo sectário do regime pretende alcançar.

Por tudo isso é que consideramos não ter havido apenas vandalismo, mas algo que na verdade foi forjado. Carente e faminto, o Povo simplesmente aproveitou a oportunidade perversamente aberta pelo regime, para visar lojas e outros estabelecimentos. Acreditamos que pelo meio dos populares genuinamente revoltosos terão sido introduzidos vândalos verdadeiros que abriram caminho para o saque, a pilhagem e a destruição de bens públicos.

Seja como for, tudo isto na verdade, apenas acontece porque o Governo dá o flanco. Em lugar de governar para servir o Povo, criam-se expedientes espúrios com vista à manutenção do poder, o que, por seu turno, permite que se possa continuar, de forma pretendida perene, a espoliar o erário em benefício de uma pequena elite.

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