A disputa entre métodos tradicionais e modernos na produção de sal em Angola atingiu um novo patamar, depois de o Ministério das Pescas e Recursos Marinhos (Minpermar) ter decidido suspender o licenciamento e encerrar unidades que utilizem lonas no processo produtivo. A medida, contestada por produtores que apostaram na inovação, ameaça travar o crescimento do sector e reacende o debate sobre a influência de interesses económicos na formulação de políticas públicas.
A queda do monopólio histórico dos produtores artesanais de Benguela —
liderados pelas famílias Calombolo (Adérito Areias), Casa Branca e Manuel —
abriu espaço à entrada de concorrentes com tecnologias mais avançadas. Entre as
inovações, destacou-se a utilização de lonas de polietileno de alta densidade
(HDPE) para acelerar e optimizar a evaporação da salmoura, método adoptado
desde 2023 e amplamente certificado a nível internacional.
Segundo fontes ligadas ao sector, grandes produtores artesanais terão
pressionado o Minpermar, liderado por Carmen dos Santos, para travar a nova
tecnologia, alegando riscos para a saúde pública — sem, no entanto, apresentar
estudos laboratoriais que sustentem a preocupação.
A 25 de Julho, a Direcção Nacional de Pescas e Sal emitiu um despacho
proibindo o licenciamento de salinas que recorram a lonas e ordenando o encerramento
imediato das unidades sem autorização. Salinas já licenciadas mas que utilizem
o sistema terão seis meses para se adequar às “regras higio-sanitárias” ou
regressar ao método tradicional.
Os produtores que investiram recentemente na nova tecnologia afirmam que a
decisão ameaça empregos, reduz a oferta e poderá levar ao aumento do preço do
sal no consumidor final. Defendem ainda que a higiene depende das práticas dos
produtores e não do material utilizado, recordando que produtos alimentares como
leite ou sumos são embalados em plástico sem contestação sanitária.
Estudos internacionais indicam que as lonas aumentam a produtividade entre
15% e 30%, reduzem o tempo de colheita e minimizam perdas. Países como o
Vietname, nação com longa tradição salineira, e várias regiões da América
Latina e do Médio Oriente adoptaram a tecnologia sem comprometer a segurança
alimentar.
Em Benguela, onde o sal é também símbolo de identidade e sustento para
centenas de famílias, o recuo imposto pelo Governo poderá reduzir a
competitividade de Angola no mercado regional, abrindo espaço à importação de
sal estrangeiro.
Especialistas sugerem que a decisão seja revista com base em estudos
independentes que avaliem de forma objectiva os riscos e benefícios de cada
método, equilibrando a preservação da tradição com a necessidade de modernizar
o sector.
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