O Presidente da RepĂșblica de Angola e Presidente em exercĂcio da UniĂŁo Africana, JoĂŁo Lourenço, defendeu hoje, na 4.ÂȘ ConferĂȘncia Internacional para o Desenvolvimento, uma acção coordenada e urgente da comunidade internacional para promover a paz mundial, aliviar a dĂvida soberana africana e reformar o sistema financeiro global, de forma a garantir o desenvolvimento sustentĂĄvel dos paĂses mais pobres.
Discursando diante de chefes de Estado e de governo, do Rei de Espanha, Felipe VI, do primeiro-ministro Pedro Sånchez e do secretårio-geral da ONU, António Guterres, João Lourenço sublinhou que o mundo vive "momentos convulsivos e carregados de incertezas" e alertou que, sem paz e segurança, "nenhum passo serå dado rumo aos objectivos da Agenda 2030 da ONU e da Agenda 2063 da União Africana."
CrĂticas Ă corrida armamentista e Ă negligĂȘncia com o desenvolvimento
O Chefe de Estado lamentou que, apĂłs o fim da Guerra Fria, a humanidade tenha retomado a corrida armamentista, canalizando recursos que poderiam estar destinados Ă educação, saĂșde e inovação. “Estamos a assistir ao desvio de avultados recursos que deviam servir ao bem-estar dos povos, especialmente nos paĂses em desenvolvimento”, afirmou.
DĂvida soberana e infraestruturas: entraves ao progresso
Um dos principais focos da intervenção foi o impacto devastador da dĂvida
externa africana. Lourenço destacou que, em muitos paĂses, os pagamentos da
dĂvida superam os investimentos combinados em saĂșde e educação, minando
qualquer possibilidade de crescimento sustentĂĄvel. Saudou, por isso, a
Declaração de Lomé, adoptada em Maio deste ano pelos Chefes de Estado
africanos, que propÔe reformas estruturais, como mecanismos multilaterais mais
justos para reestruturação da dĂvida, clĂĄusulas de suspensĂŁo em caso de choques
externos e maior uso de moedas locais.
O presidente angolano salientou ainda que a falta de infraestruturas adequadas Ă© um dos maiores obstĂĄculos ao progresso econĂłmico do continente. Citou como exemplos a escassa produção e transporte de energia elĂ©ctrica, as fracas redes rodoviĂĄrias e ferroviĂĄrias, e o subinvestimento em tecnologias de informação. Para responder a esses desafios, anunciou que Angola acolherĂĄ em Outubro deste ano uma grande conferĂȘncia africana sobre "Infra-estruturas como Factor de Desenvolvimento", com o objectivo de mobilizar investimentos internacionais.
Apelo por uma nova arquitectura financeira global
Lourenço defendeu uma "refundação da arquitectura financeira
internacional", que leve em conta as prioridades de Ăfrica e dĂȘ voz activa
aos paĂses mais vulnerĂĄveis nas decisĂ”es globais. “SĂł com reformas profundas
evitaremos que os Objectivos de Desenvolvimento SustentĂĄvel sejam reduzidos a
meras intençÔes”, alertou.
O lĂder africano reforçou o compromisso de Angola com a mobilização de receitas internas, o combate Ă fuga de capitais e a promoção de uma tributação internacional mais justa. Destacou os avanços nas negociaçÔes da Convenção das NaçÔes Unidas sobre Tributação Internacional como um passo promissor rumo Ă equidade fiscal global.
Crise climĂĄtica: Ăfrica exige justiça e compensaçÔes
Lourenço lembrou que Ăfrica Ă© uma das regiĂ”es menos responsĂĄveis pelas emissĂ”es de gases de efeito estufa, mas uma das mais vulnerĂĄveis aos seus impactos. Pediu mais financiamento climĂĄtico, apoio Ă transição energĂ©tica justa e incentivos Ă conversĂŁo de dĂvida em acçÔes ambientais, defendendo que “a resiliĂȘncia climĂĄtica deve andar de mĂŁos dadas com o alĂvio da dĂvida”.
Mudança de paradigma e inclusão
Encerrando a sua intervenção, o Presidente angolano expressou confiança de
que a ConferĂȘncia de Sevilha marcarĂĄ um ponto de viragem. Apelou Ă criação de
um novo modelo de financiamento global, baseado em justiça económica e
inclusĂŁo, que garanta a Ăfrica "os recursos e as condiçÔes necessĂĄrias
para acelerar a sua transformação e fortalecer a sua posição na governação
financeira internacional."
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