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IV Conferência Pró-Albino denuncia falhas na implementação de políticas públicas e cobra respostas concretas do Estado

Sob o lema “Exigindo os nossos direitos: proteja nossa pele, preserve nossas vidas”, realizou-se no Memorial Dr. António Agostinho Neto a IV Conferência Nacional Pró-Albino de Angola. O encontro, que coincidiu com o Dia Internacional de Conscientização sobre o Albinismo, reuniu mais de 200 participantes, incluindo membros do governo, deputados, representantes da sociedade civil, líderes religiosos e associações de apoio às pessoas com albinismo.

A cerimónia de abertura contou com a presença da Ministra de Estado para a Área Social, Professora Doutora Maria do Rosário Bragança, da Ministra da Saúde, Dra. Sílvia Lutucuta, e do presidente da Associação de Apoio aos Albinos de Angola (4A’s), Dr. Manuel Vapor. Também marcaram presença representantes da Assembleia Nacional, do MPLA e da UNITA, além da CEAST e parceiros institucionais e internacionais.

Balanço preocupante: maioria das recomendações não foi cumprida
No centro dos debates esteve a avaliação do cumprimento das recomendações feitas nas conferências anteriores. Segundo o relatório apresentado pelo engenheiro Moisés Cardoso, Facilitador do Movimento Pró-Albino, apenas 1 das 18 recomendações da III Conferência, realizada em 2024, foi implementada totalmente, enquanto 3 avançaram parcialmente e 14 permanecem sem qualquer progresso. Somadas às pendências das edições de 2019 e 2021, totalizam 25 recomendações não realizadas.

Entre os entraves apontados estão a ausência de um plano de monitoramento, a falta de nomeação de um Secretário Executivo para o PAPPA, e a exclusão das organizações pró-albinismo do Conselho Nacional da Acção Social (CNAS). Foram também criticadas a inexistência de políticas públicas específicas para inclusão no emprego, a falta de acesso à habitação e a escassez de serviços médicos especializados fora da capital.

Governo admite falhas, mas aponta esforços em curso
Durante o encontro, o CNAS apresentou os trabalhos realizados nos últimos 12 meses, como o desenvolvimento de instrumentos metodológicos e reuniões de alinhamento com ministérios. Contudo, não conseguiu apresentar acções concretas com impacto visível na vida das pessoas com albinismo. O Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) destacou a criação do FUNEIA – Fundo Nacional de Emprego e Inclusão, e projectos do INEFOP voltados para a geração de trabalho por meio de cooperativas.

Apesar disso, os participantes apontaram falhas graves na comunicação institucional, pouca divulgação das medidas e ausência de coordenação entre os órgãos governamentais. O Ministério das Obras Públicas e Urbanismo e o Ministério da Justiça e Direitos Humanos foram criticados por não terem participado da conferência nem enviado representantes.

Saúde e inclusão social em foco
No painel sobre saúde e bem-estar, o Instituto Angolano de Controlo do Câncer alertou que a maioria dos casos de cancro da pele em pessoas com albinismo são diagnosticados em estágios avançados (III e IV), principalmente devido à falta de rastreios regulares fora de Luanda. O Colégio de Dermatologistas defendeu a criação de centros de referência e equipas multidisciplinares em dermatologia, oftalmologia e oncologia.

O Ministério da Acção Social (MASFAMU) informou que já distribuiu mais de 1.700 kits de protectores solares em diversas províncias, mas reconheceu os desafios logísticos e a necessidade de um plano nacional mais consistente.

Participantes exigem acção e responsabilização
No debate final, os conferencistas reiteraram que as acções administrativas e metodológicas não podem ser fins em si, mas sim instrumentos para melhorar concretamente a vida das pessoas com albinismo. Foi aprovada uma lista de 18 recomendações, que inclui:

A implementação imediata e monitorada do PAPPA, com orçamento e cronograma definidos;

A responsabilização legal de instituições públicas e privadas que desrespeitem os direitos das pessoas com albinismo;

A realização de um censo nacional específico sobre a população albina;

O combate ao bullying nas escolas e promoção de educação inclusiva;

O respeito às quotas de acesso ao emprego e habitação pública;

A realização da V Conferência Pró-Albino em 2026.

Apelo final: dignidade, inclusão e igualdade

Ao encerrar os trabalhos, o Secretário de Estado para a Saúde Pública, Professor Doutor Carlos Alberto Pinto de Sousa, reafirmou o compromisso do Executivo com a causa e destacou a importância de traduzir intenções em acções concretas: “A dignidade das pessoas com albinismo não pode esperar. O Estado deve garantir que todos tenham oportunidades justas de viver com saúde, segurança e respeito.”

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