Nos últimos anos, assistimos em Angola a uma movimentação política curiosa: o surgimento de novas figuras e partidos que, à primeira vista, pareciam representar uma renovação. Um exemplo foi a Dra. Bela Malaquias, uma mulher que, antes de criar o seu próprio partido, atacou duramente a imagem do Presidente Fundador da UNITA, Dr. Jonas Savimbi, chegando a publicar um livro e a protagonizar debates mediáticos.
O tempo passou, o seu partido conseguiu alguma notoriedade, sobretudo nas
eleições de 2022, quando foi a única mulher a concorrer entre sete homens. Isso
conferiu-lhe uma vantagem simbólica importante num cenário político altamente
masculino e patriarcal.
Entretanto, quase cinco anos depois, o contexto mudou. O próprio partido
que ajudou a fundar anunciou a sua expulsão, alegando violação dos princípios
internos e dos estatutos da organização. Não sabemos ao certo se essas
alegações são verdadeiras ou se fazem parte de uma jogada política. Mas o facto
é que a Dra. Bela Malaquias foi afastada do projeto político que ajudou a
erguer. E isso levanta suspeitas.
Será apenas coincidência, ou haverá interesses ocultos?
Vejamos o passado recente. Em 2017, quando o Eng.º José Eduardo dos Santos
passou a liderança do MPLA para o General João Lourenço, foi vendida a imagem
de “nova roupagem”, “mudança de pele” e “renovação política”. Mas, como bem diz
o povo: “a cobra muda de pele, mas não muda de carácter.” O resultado está à
vista de todos. O sistema manteve-se praticamente o mesmo, com os mesmos vícios
e as mesmas práticas.
Por isso, devemos refletir: se o partido no poder decidir, nas próximas
eleições, colocar uma mulher como cabeça de lista, será realmente uma novidade
ou apenas mais uma estratégia de marketing político?
As Mulheres no Poder: Entre Representação e Sistema
Angola já tem mulheres em cargos de grande visibilidade. A Dra. Laurinda
Cardoso é Presidente do Tribunal Constitucional. A Sra. Carolina Cerqueira
lidera a Assembleia Nacional. Mas sejamos sinceros: sabemos que essas figuras,
por mais competentes que sejam, estão limitadas pelas orientações do partido a
que pertencem. Não decidem sozinhas. Isto significa que o problema não está na
pessoa, nem no género da pessoa, mas sim na lógica de poder que domina o
sistema.
O que devemos esperar?
Se nas próximas eleições o partido no poder apresentar uma mulher como
candidata à Presidência, o debate deve ser mais profundo. Não basta dizer “é
uma mulher, logo é mudança”. Devemos perguntar: essa mulher terá liberdade real
para governar? Ou será apenas mais uma peça do mesmo jogo?
O país precisa de uma mudança verdadeira. E a mudança não depende apenas do
género da liderança, mas de uma nova forma de fazer política – mais
transparente, mais ética e mais comprometida com o bem comum.
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