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No país onde o patrão é o povo - Ramiro Aleixo

A imagem documenta um dos resultados do balanço da "intervenção moderada da polícia nacional", que segundo o seu porta-voz, foi "positiva", contra manifestantes que apenas fizeram uso de um direito constitucional, sem cometer qualquer acto de vandalismo. Imagine-se se tivessem cometido.

Depois de um passado com tantas mortes e violações de direitos fundamentais, a Polícia Nacional não precisa desses excessos, para exercer a sua autoridade. Neste país, que em breve assinala 50 anos de independência, ninguém mais deve morrer ou sofrer qualquer tipo de sevícia, porque a pretexto da Ordem Pública, a Polícia Nacional, defende interesses de uma minoria que se divorciou do seu próprio povo.

Se o objectivo foi enviar uma mensagem, que dá conta do que o empregado pode fazer ao patrão, se decidir abdicar dele por justa causa, que reflictam também sobre a possibilidade do efeito ser contrário. Não copiem o que outros fizeram de mau.

Mostrem que são diferentes e melhores, racionais e patriotas. Os interesses podem até ser divergentes, mas nada, absolutamente nada, obriga à essa postura selvagem, insensível, desumana. Até porque não é o povo, o responsável pela descrença nos actos, programas, políticas e má gestão de quem governa. Má gestão sim, porque só os loucos fazem empréstimos para organizar festas de agrado a estrangeiros.


E na perspectiva do que poderá acontecer nos próximos dias e nos dois últimos anos de gestão do Presidente João Lourenço, marcados pela elevação do nível de conflitualidade entre o poder e a população, se servir para alguma coisa, alerto que não gostaria de ver o ministro Manuel Homem, nem os comandantes geral, provinciais ou municipais da Polícia Nacional em Tribunal, depois de 2027, para serem julgados por se terem tornado responsáveis ou co-responsáveis pela morte seja de quem for. Ainda que, de um só angolano.


Sabemos que, eventualmente, poderão existir "ordens superiores". Mas, nenhuma delas os obriga a empunhar armas ou mandar, para matar ou mutilar o seu próprio povo (patrão). Nada ou obriga a seguir essa via.


A força das armas, não deverá suplantar a força do diálogo. E, pelo que nos foi dado a ver, essa manifestação serviu para demonstrar porque razão, se gastaram milhões de dólares (ou se contraiu mais uma divida) para equipar a Polícia Nacional, cujos efectivos também têm famílias, que vivem os mesmos problemas que os manifestantes.


Ao Presidente João Lourenço, também o nosso alerta: a questão que se põe, já não é se vai deixar a Presidência da República, mas como fará esse exercício. Mas faça uma transferência pacífica desse poder, tal como recebeu. Quem complicou, foi mesmo o senhor.


Se der para torto, a história não vos absolverá. Não se sintam orgulhosos defendendo uma causa, passando por cima de mortos e feridos.

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