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Lumumba foi traído por Kasavubu – Mobutu aproveitou-se e o Congo sangrou por isso

No dia 30 de junho de 1960, o mundo testemunhou o nascimento de um novo Estado africano: o Congo, recém-libertado do domínio brutal da Bélgica.

Redacção

A cerimônia de independência contou com presenças ilustres: o rei belga Baudouin, o novo presidente Joseph Kasavubu e o primeiro-ministro Patrice Émery Lumumba. A imprensa ocidental esperava um evento cerimonial e submisso. Mas Lumumba surpreendeu a todos com um discurso que entrou para a história. Nenhuma linha do nosso discurso foi escrita para agradar os colonizadores”, disse Lumumba. “A nossa independência não foi um presente da Bélgica, mas uma conquista arrancada pela luta do povo congolês! Foi a primeira traição percebida pelos antigos colonizadores: um africano ousando falar com altivez, denunciar o passado e exigir soberania total.

 Mas o que mais choca é que a traição mais letal viria de dentro: de Joseph Kasavubu, um congolês que, ao invés de proteger a nação nascente, entregou-a de bandeja ao neocolonialismo. Quem era Joseph Kasavubu? Kasavubu era líder da ABAKO (Aliança dos Bakongo), um movimento regionalista e conservador.

Representava os interesses da elite étnica Bakongo e tinha uma visão limitada de independência — mais simbólica do que real. Ao contrário de Lumumba, não defendia a unidade nacional verdadeira nem o rompimento com os interesses externos. Durante os primeiros meses da independência, o país mergulhou em caos: motins no exército, secessão da província de Katanga (com apoio da Bélgica), e instabilidade por todos os lados.

 Lumumba tentou manter o país unido, pediu apoio da ONU, que o ignorou, e então recorreu à URSS — algo que alarmou os EUA em plena Guerra Fria. A traição consumada Em 5 de setembro de 1960, Kasavubu destituiu Patrice Lumumba do cargo de Primeiro-Ministro, sem base constitucional.

 Lumumba tentou resistir, convocando o parlamento. Mas foi tarde demais: o jovem coronel Joseph Mobutu, incentivado por potências ocidentais, deu um golpe militar. Lumumba foi preso em 1º de dezembro de 1960. Kasavubu não só não interveio como legitimou o golpe. Dias depois, Lumumba foi entregue às autoridades da província separatista de Katanga, onde foi espancado, humilhado e assassinado em 17 de janeiro de 1961. O crime contou com a cumplicidade da Bélgica e dos EUA, mas só foi possível graças à traição política de Kasavubu, que permitiu que os inimigos de Lumumba agissem livremente. Impacto continental e legado Lumumba tornou-se um mártir, um símbolo da resistência africana.

 Sua morte brutal chocou o mundo, mas acendeu a chama do pan-africanismo. Líderes como Kwame Nkrumah (Gana), Julius Nyerere (Tanzânia) e Thomas Sankara (Burkina Faso) citaram Lumumba como fonte de inspiração.

Já Kasavubu é lembrado como um presidente sem visão, que colaborou com o sistema colonial disfarçado, colocando seus interesses pessoais e étnicos acima do projeto nacional. Em 2022, a Bélgica devolveu simbolicamente um dente de Lumumba o único resquício físico do líder após seu assassinato e dissolução em ácido.

Foi um gesto tardio, que não apaga a dor, mas relembra o mundo da barbárie cometida contra um herói africano. Conclusão: não esquecer é resistir A história de Lumumba é a história da África. Um homem simples, que enfrentou impérios com a força da palavra.

 Um patriota que queria um Congo unido, independente, sem tribos privilegiadas nem amos estrangeiros. E foi morto por isso. Joseph Kasavubu pode ter morrido com o título de presidente, mas a história o inscreveu como um traidor da pátria. A sua omissão, sua cumplicidade e sua fraqueza entregaram Lumumba à morte e com ele, os sonhos de um novo Congo.

Lumumba morreu, mas sua voz vive. Kasavubu sobreviveu politicamente, mas sua memória carrega a marca da traição. A juventude africana precisa conhecer essa verdade. Para que não repitamos erros. Para que sejamos, como Lumumba, corajosos o bastante para não nos ajoelhar nem mesmo diante da morte.

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