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Herdeiro universal da juventude - Jorge Eurico

 O ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação insiste, ufana e recorrentemente, numa ideia peregrina que atesta bem a sua falta de seriedade: O uso da tecnologia espacial em Angola para impulsionar, entre outras, as áreas das finanças e da banca. É uma estarolada daquelas. Dá para rir até perder o fôlego e as bandeiras despregadas. Discursos grandiosos, pouco fundamentados, que não reflectem a realidade do País. Há uma clara desconexão entre a promessa e a prática.

Exemplo? Se Angola estivesse de facto a beneficiar dos milhões de dólares investidos na construção e lançamento do Angosat-2, o servidor do Banco de Poupança e Crédito (BPC) poderia estar em qualquer ponto do território nacional mas nunca na Índia.

Página Dois - Angola tem vindo a reduzir, de forma sustentável, a sua dívida com a China, especialmente aquela colateralizada com petróleo, passando de 10 mil milhões para 8,9 mil milhões de dólares nos últimos dois anos. A meta é atingir os 7,5 mil milhões até ao final de 2025. Apesar desta redução, a dívida total continua elevada, situando-se nos 61,9 mil milhões de dólares, dos quais 45,2 mil milhões correspondem à dívida externa. O Governo tem recorrido mais ao endividamento interno, numa estratégia para depender menos dos credores estrangeiros.Nota-se maior disciplina na gestão da dívida. Mas o País permanece vulnerável à oscilação do preço do petróleo e à dependência externa. Há progresso, sim, mas também prudência: O discurso é de optimismo moderado e vigilância constante. Boa notícia!

Página Três - O mandato do presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) terminou em Agosto de 2024. Ainda assim, Isaías Kalunga mantém-se no cargo como uma pastilha colada ao sapato. Quer ser o herdeiro universal da juventude. Segue a cartilha de muitos políticos angolanos: Sair a tempo é para fracos. O líder do CNJ continua no cargo como se se tratasse de uma herança pessoal. Escuda-se numa nebulosa revisão estatutária que ninguém viu nem aprovou formalmente.

Kalunga quer ser “presidente vitalício” para continuar a representar uma juventude domesticada, bem controlada e usada como massa de manobra política. Pergunta simples: Isaías Kalunga ganhou gosto ou vício pelo poder? Decida o leitor.

Última Página - De um velho amigo da longa estrada da vida, recebi a seguinte mensagem: “Boa tarde, avó, como está o avô? É só para avisar ao avô que passei de classe. Não tenho saldo para estranhar com os outros. Fiz o possível para o meu avô ser o primeiro a saber.” E a mensagem termina assim: “
Este tipo de retórica fere a alma, Jorge Eurico”.

Minha resposta: Meu querido, meu velho, meu amigo. A mensagem dói. Mas é dor que ilumina.
Um neto sem saldo. Mas com a alma cheia, grita baixinho que passou de classe. Não há festa. Há dignidade. Não há luxo. Há ternura. É o conato, essa força teimosa de existir
mesmo quando tudo desiste de nós. Num País onde tudo falha, e por isso os enteados do poder instituído levam uma vida mais cruel do que a da escrava Anastácia (ícone da dor calada e da resistência negra no Brasil colonial), e sentem, na pele, o livro de Jó (paradigma bíblico do sofrimento injusto) escrito em carne viva, ainda pulsa o amor. Coragem, sempre!

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