No outro dia, dizia, a plenos pulmões – devia ser o secretário municipal do MPLA no Mungo, um município do Huambo – que a oposição só iria ganhar eleições, com a segunda vinda de Cristo à Terra ou nem mesmo nessa escatológica altura. É também no Huambo, onde no novo município da Galanga, uma ponte foi partida, vinte e tantos anos depois do fim das guerras civis, para que deputados do maior partido da oposição, a UNITA, não efectuassem uma visita à localidade. Tomou-se também conhecimento, pelas redes sociais, que num município de Benguela, populações, suspeitadamente comandadas “por forças ocultas”, não deixavam que a UNITA erguesse, algures, a sua bandeira.
Se tivermos em conta tudo o que, à luz de dia, se monta para fortificar o
bloqueio de qualquer tipo de alternância pacífica e saudável, dentro do nosso
proclamado Estado Democrático e de Direito, como não ficar altamente
preocupados com esses eventos e afirmações? Especialmente quando têm por
protagonistas, indivíduos já mais novos que os últimos dos nossos filhos?
Ainda não se apercebem que assim o país não avança?
Que só considerando a alternância como algo natural é que haverá progresso?
Que um partido, no poder, que obstrui todos os mecanismos funcionais da
alternância; que se afunila a si mesmo, mobilizando-se, eternamente, em torno
de um líder único, enquanto estiver vivo, como o aconselha o meu colega mais
novo e conterrâneo, Dr. Tito Cambanje, torna-se fonte de corrupção, miséria e
retrocesso?
Duas questões para terminar:
1- Estou com essa preocupação, hoje, 23 anos depois da Paz de 2002 que
aplaudi e 15 anos depois de aprovada a Constituição de 2010, sobre cujos
perigos alertei, ao formalizar práticas que não deviam continuar a ser
seguidas;
-para dizer que não faz sentido que mais novos e até alguns mais velhos me
venham atribuir culpas na fundação do regime que hoje nos rege;
2-Quem tem a faca e queijo na mão, hoje, é o MPLA actual e o seu presidente
e reconhecido como o efectivo e todo poderoso PR de Angola,
"camarada" João Manuel Lourenço.
-para dizer que deixem, alguns, de me censurar, porque não priorizo a mesma
crítica à eventuais elementos da oposição que tenham a mesma concepção totalitária
e paternalista do poder.
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