Faço parte dos que têm a putativa candidatura de Higino Carneiro para presidente do MPLA, como um “não assunto” para a nação, que tem tantos e tão ingentes problemas por resolver. Do mesmo modo que as de António Venâncio, ou de Manuel Homem e Adão de Almeida.
O
mau ambiente e a instabilidade política em Angola têm sido instigados também
pelo Presidente da República. Faz tempo. E depois do que disse em Cazombo à
escassos dias, sem medir o impacto, o Presidente repetiu a dose do que tenho como
imprudência grave, no decorrer da entrevista passada pela TPA.
Por
falta de tato, de excessiva vaidade, ego e arrogância, de forma reiterada tem
dificuldade de fazer uma leitura de cariz político muito simples, mas que pode
ser decisiva no (seu) futuro: que está a seguir um rumo perigoso para a
segurança e a estabilidade do Estado; que num Estado de Direito e Democrático,
a oposição não é obrigada a levar ao colinho quem está no poder, e ainda mais,
por escandalosos 50 anos de má gestão; porque o Presidente da República tem
dificuldade de lidar com a opinião contrária, não só da oposição, mas de outros
extratos da sociedade e inclusive no interior do seu partido; que o remédio
para evitar críticas e a crise, é a boa governação, ouvir mais com ouvidos de
aceitar o que se ouve, e não para demonstrar para a fotografia que é dialogante
(com estrangeiros sobretudo).
Faço
parte dos que têm a putativa candidatura de Higino Carneiro para presidente do
MPLA, como um “não assunto” para a nação, que tem tantos e tão ingentes
problemas por resolver. Do mesmo modo que as de António Venâncio, ou de Manuel
Homem e Adão de Almeida, estes dois, como eventuais opções de João Lourenço
para assegurar continuidade, hipotética, como se espalha pelas redes sociais.
Por enquanto, é questão que diz respeito apenas ao(s) próprio(s). E se por
algum motivo essa pretensão (de Higino Carneiro e também de António Venâncio)
causa incómodo ao líder desse partido, então que nas vestes de presidente do
MPLA, convoque os seus consócios e resolvam o ‘kizango’ no interior desse
partido, à luz dos estatutos, respeitando a liberdade e os direitos nele
estabelecidos, ou com renúncias para que se tenha liberdade para outras opções,
como alianças com outros actores, como se faz no mundo civilizado. Não no
incivilizado, em que o Presidente quer que se permaneça.
Com
essa postura, insistentemente agressiva, ditatorial, disparatada, sem elevação
de estadista, os próprios militantes do MPLA deviam ser os primeiros a
reflectir profundamente sobre isso, porque percebe-se que, com João Lourenço na
liderança, estão mais próximos da cova do que de uma eventual vitória
eleitoral. Mas, ainda assim, isso é problema dos militantes do MPLA. A nação é
que não deve ficar refém dos caprichos do Presidente da República, nem deve ser
arrastada para essa birra de chefe, que insiste em jogar com regras caducas e
já “impróprias para consumo” nestes tempos, bem distanciados da ditadura e dos
princípios revolucionários que trouxeram das matas, responsável pelo aniquilamento
de milhares de jovens, sobretudo.
O
que temos vindo a assistir, a cada intervenção pública, é que o Presidente João
Lourenço, nessa promiscuidade de exercício de elevadas funções de Estado com as
de líder do seu partido, supera-se na criação de focos de tensão política e
social. Não mede consequências, o que exige de todos nós cautela e muito bom
senso, para não nos deixarmos arrastar por essa postura, que alguns sectores
têm denunciado como fazendo parte de uma estratégia para que o próprio e um
grupo de interesses associados, se mantenham no poder por tempo indeterminado,
impedido que está pela Constituição, de concorrer para um terceiro, quarto ou
quinto mandatos.
Infelizmente,
apesar de nosso “empregado”, não temos poder para exonerá-lo mesmo levando a
‘empresa’ à falência. Como o banco deles. E se decidir ficar, infelizmente, há
quem o apoiará e se necessário, até matará em sua defesa, em vez de, dos
superiores interesses da Nação e do “Patrão”. Para nós, isso, sim, é o que
constitui preocupação e não a eventual candidatura de Higino Carneiro que, se
se acha com esse direito, deve sim continuar a preparar-se. Tal como os demais.
Reunindo
ou não os requisitos para se tornarem presidentes do MPLA ou candidatos ao
cargo de Presidente da República, pelo que nos é dado a ver, o país até corre
menos riscos de instabilidade com a ascensão de qualquer das figuras acima
referenciadas, incluindo de Higino Carneiro (infelizmente pelo seu histórico),
do que com a permanência de João Lourenço, desde que o processo eleitoral
decorra com transparência, sem qualquer favorecimento ao partido-estado.
Quer
goste quer não, para o Presidente João Lourenço, o tempo está a esgotar-se, mas
também não lhe tem servido de maturação, como experiência para “correção do que
está mal e melhoria do que está bem”. Transmite-nos retrocesso, e a cada etapa,
passa uma imagem de maior despreparo para o exercício de cargo de tão elevada
responsabilidade.
Mas,
para ele, a culpa é da oposição. Nunca é sua. Tive um professor que dizia, que
o principal sinal e perigo da incompetência, é a dificuldade de o incompetente
reconhecer os seus erros, imputando-os a outros. Errar não é sinónimo de
incompetência, desde que se aprenda com os erros. Já imputá-los a outrem, como
recorrentemente faz o Presidente da República, não é próprio de quem passou
pela academia. Constitui mau exemplo para colaboradores, subordinados e até
para descendentes. Por outro lado, não se deve omitir que, a oposição que
temos, é aquela que resulta das dificuldades impostas pelo poder. Da mesma
forma que o que vai mal na saúde, na educação, em todos os demais sectores da
vida do país. Ou afinal, está tudo bem?
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