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O vice-presidente da bolha analógica - Jorge Eurico

Xavier Jaime é médico de formação e político por vocação. Dizem que é bom médico. Quanto a político… nunca ouvi elogios, salvo talvez na categoria “fiel escudeiro”. O homem está colado a Abel Chivukuvuku há tantos anos que já devia ter aprendido a ler a sala ou, pelo menos, a usar as redes sociais. Segue-o para tudo quanto é canto e projecto. Teve até um “quarto especial” na CASA-CE. Agora ascendeu a lugar-tenente do líder do PRA-JÁ Servir Angola. Que carreira fulgurante!

Há dias, foi “arrastado” pela Imprensa para responder a umas perguntas. Entre banalidades e berlengas, soltou uma pérola que entrou directo para os anais do disparate político: Declarou, com todas as vogais e consoantes bem abertas, que “as redes sociais falam muito e à toa”. Imagino se Chivukuvuku ouviu a afirmação do seu vice com um sorriso amarelo ou com a mão na cabeça. Se Xavier Jaime quiser ser levado a sério pelo cidadão-eleitor, talvez deva cortar no “capassarinho” ou largar o “tabaco proibido pelo Governo” antes de se dirigir ao público. Evita, assim, dislates que façam João Lourenço (MPLA), Filomeno Vieira Lopes(Bloco Democrático) e Adalberto Costa Júnior (UNITA) rir em uníssono, mas cada um à sua maneira.

Hoje, só um político primário ou um cidadão com QI de jaca verde ignora as redes sociais. Ignorá-las é confessar atraso e surdez digitais. Em política, quem não comunica, evapora. Desprezar as redes sociais é desprezar o cidadão-eleitor. É como tentar pescar votos com anzol sem isco. Dizer que “as redes sociais falam muito e à toa” é redutor e politicamente suicida. Revela desprezo pela escuta popular e despreparo para o ambiente digital. Xavier Jaime acabou por nos oferecer uma aula prática de como perder votos, ignorar o século XXI e ainda rir da própria irrelevância. Um manual não-escrito do político offline.

O vice do PRA-JÁ sugeriu, na prática, que é um infoexcluído, um desconectado. Que vive numa bolha analógica. Admitiu que o PRA JÁ Servir Angola tem um vice-presidente digitalmente invisível. Um homem que, talvez, nem saiba abrir um e-mail. Dramático! Grave para qualquer partido que sonha ser Governo ou, ao menos, uma força relevante nas eleições de 2027. É certo que as redes sociais abrigam muita irresponsabilidade. São palco de ruído, de fake news e de julgamentos precipitados. Mas daí a dizer que “falam muito e à toa” vai um mundo. Vai a distância do Cabo ao Cairo.

A afirmação de Xavier Jaime pode sair cara ao PRA-JÁ Servir Angola. Pode afastar jovens, activistas e todo o eleitorado urbano que encontra nas redes sociais uma das últimas trincheiras de participação e vigilância pública. Trocando em miúdos: Com uma frase infeliz, Xavier Jaime ofereceu-nos o melhor exemplo de como perder votos, ignorar o século XXI e ainda rir da própria irrelevância. Se o PRA-JÁ quiser mesmo governar, é bom que perceba que quem não comunica no digital, evapora no político. E em 2027, não há capassarinho nem garfo que sirva para tomar a sopa eleitoral.

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