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Mais velhos e a responsabilidade política: a paz e os desafios futuros - Rui Kandove

Angola caminha há 23 anos em paz. Uma conquista que, para muitos da minha geração, é lembrada não como um dado adquirido, mas como o resultado de um processo político e humano exigente, sofrido, mas profundamente necessário. Neste contexto, é justo reconhecer alguns dos actores políticos que, com acertos e falhas, foram determinantes para chegarmos até aqui.

Para quem realmente esteja interessado em compreender os actores políticos do MPLA contemporâneo, é essencial analisar a sabedoria estratégica de José Eduardo dos Santos, a aceitação pública e equilíbrio institucional de Fernando Dias dos Santos “Nandó”, o respeito granjeado por Higino Carneiro e a firmeza inabalável do General João de Matos. Estes nomes foram, para mim e tantos outros, referências fundamentais num momento em que, na juventude, começávamos a distinguir o acessório do essencial.

Outro nome de destaque é Pitra Neto, figura muitas vezes nos bastidores, mas cuja influência na articulação do sistema político foi notável. A estes, e a muitos outros, o meu reconhecimento. Que fique claro: o percurso não foi perfeito. Houve falhas, incidentes e até acidentes políticos. Mas o saldo, no essencial, é positivo.

Jornalismo de Coragem

Não posso esquecer a coragem dos jornalistas que acompanharam este processo. Luís Domingos, João Ligio, Ernesto Bartolomeu, José Neto Alves Fernandes, Gonçalves Inhangica (pela TPA) e Edgar Rangel e Nelson Pedro (pela RNA), entre outros, documentaram com rigor e valentia os passos para a paz. A todos, a minha profunda homenagem. Vocês serviram a pátria com dignidade.

A Paz Chegou, Mas Falta o Desenvolvimento

Se a paz foi um marco, o mesmo não se pode dizer do desenvolvimento. A Angola que sonhávamos ainda está por se concretizar. No Kantinton, em Luanda, falta água potável. No Dirico, no Kuando Kubango, há carências no essencial. Estes exemplos não são exceções — são retratos da precariedade ainda vivida por muitos angolanos.

O desenvolvimento não pode mais ser adiado. Requer uma liderança inclusiva, comprometida e ética. A política deve estar à altura dos anseios do povo — daqueles que clamam, muitas vezes em silêncio, por dignidade.

Por Uma Nova Ética Política

Não há nada mais nobre do que servir a coletividade quando o motor dessa entrega são convicções e valores, e não interesses pessoais. Angola precisa urgentemente de um projeto político inclusivo, onde quem governa o faça com espírito de unidade, e não de exclusão.

O exemplo internacional pode ensinar-nos muito: em Portugal, Paulo Macedo serviu governos de diferentes partidos com competência. Por que não aplicar esse princípio em Angola? Um bom secretário de Estado do governo do MPLA pode — e deve — ter origem em outras forças políticas, desde que seja competente e comprometido.

Diálogo entre Gerações e Correntes

Acredito no valor do diálogo e da escuta entre gerações e correntes políticas. Por isso, tal como o fez António Venâncio, que se candidatou à liderança do MPLA, também eu estaria disponível para um café com Fernando Dias dos Santos, Isaías Samakuva , Pitra Neto e Higino Carneiro. O país precisa disso: pontes, não muros.

O futuro de Angola exige de nós um compromisso renovado. Aos que nos querem mal, não desejamos o mesmo. Pelo contrário: que o Criador os ilumine e os guie no caminho da sensatez, integridade e serviço ao bem comum.

A paz foi conquistada. Agora é hora de lutar pelo progresso. Que as novas lideranças saibam escutar, incluir e transformar. Que Angola avance — com todos e para todos.

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