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O Cúmulo da Incompetência - Gerson Prata

 Quem, como eu, já passou pelas pedonais da Shoprite do Palanca, da Ponte Partida (próximo da Comarca de Luanda), da Ponte Amarela em Viana ou da Gamek Vila, sabe bem o que é assistir ao cúmulo da incompetência da fiscalização em Luanda. Aquilo que se vê ali é vergonhoso. Como cidadão, sinto uma profunda tristeza ao constatar que as autoridades, em vez de resolverem os problemas da população, permitem que as passadeiras se tornem mercados improvisados.

Esta é a realidade quotidiana da capital: cidadãos forçados a disputar espaço com bancas, lixo e desordem, enquanto quem devia impor ordem permanece em silêncio — ou de braços cruzados. As pontes, em vez de servirem para garantir a segurança dos peões, são hoje praças a céu aberto, onde se vende de tudo, menos respeito pelo espaço público.

Será mesmo necessário o Presidente João Lourenço intervir para acabar com esta pouca-vergonha? Onde andam os seus auxiliares? Excluo, desde já, o novo governador de Luanda, Nunes, cujo trabalho na Huíla e em Benguela fala por si. Este problema não é novo — e muito menos responsabilidade dele. O verdadeiro entrave está na fiscalização: inoperante, desorganizada e, sobretudo, corrupta.

Segundo as próprias zungueiras, bastam duzentos kwanzas para garantir o “direito” de ocupar a ponte. É um negócio à vista de todos, mas que ninguém parece querer enfrentar. O resultado é trágico: risco constante para quem vende, perigo para quem circula e montanhas de lixo deixadas à mercê da natureza.

Se a fiscalização nem sequer consegue impor ordem nas pedonais, como poderá fiscalizar situações mais complexas, que envolvem milhões de kwanzas? A resposta é evidente. Por isso, não surpreende que os escândalos financeiros, quando vêm à tona, sejam recebidos com descrença generalizada.

Quando a AGT desvia fundos dos contribuintes sem consequências políticas, tudo se torna claro. Quando os presidentes dos conselhos de administração de empresas públicas acumulam regalias injustificáveis — carros topo de gama, cartões de supermercado, subsídios infindáveis — percebe-se que o problema é mais profundo do que se quer admitir.

Um país assim, governado sob estas condições, está condenado ao fracasso. Não é por acaso que a vida do angolano está cada vez mais difícil. Não é por acaso que milhares de jovens — e muitos adultos também — procuram emigrar.

Se somos incompetentes nas coisas simples, não seremos competentes nas mais complexas.

É tempo de parar. De olhar com seriedade para o que estamos a fazer. É tempo, sobretudo

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