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O astronauta dos passarinhos - Jorge Eurico

A expressão “laço do passarinheiro” é uma metáfora que remete à ideia de algo que prende ou captura de forma traiçoeira, semelhante ao laço usado por passarinheiros para apanhar aves. O Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MTTICS) também criou o seu: A Lei sobre a Disseminação de Informações Falsas na Internet. Impingiu-a ao Titular do Poder Executivo. Autoritarismo disfarçado de legalidade.

O escopo da sobredita lei é claro: Silenciar e criminalizar jornalistas, infundir medo em líderes de opinião e inibir a incipiente cultura de debate existente na sociedade angolana. Mas também tem um efeito colateral curioso: Ajuda a pôr fim ao chorrilho de abobrinhas com que certos activistas de ocasião entopem o espaço público. Outro motivo (talvez o principal) é igualmente evidente: O Governo quer controlar a verdade sem se submeter a ela. Boato, agora, vai dar cadeia. Para uns. Para outros, vai dar cargo ou ajudar a consolidar lugar no Executivo. Mentira com gravata vira estratégia; sem ela, vira crime. Vai ser assim a partir de agora.

O “laço do passarinheiro” proposto pelo MTTICS deveria, por coerência, abranger também as falácias dos próprios auxiliares do TPE. Se assim for, o titular do ministério proponente será um dos primeiros a cair no laço. Em Outubro de 2022, quando Angola lançou o segundo satélite, Mário Oliveira garantiu, emocionado, que o País daria primazia à formação de astronautas. Há poucos dias, voltou a brindar-nos com mais uma berlenga — desta feita ao Jornal de Angola — com a seguinte pérola: “Angola tem-se apresentado pioneira em África no investimento nas TICs.”

O ministro Mário Oliveira deve pensar que andamos todos a dormir de olhos abertos nesta vida. Nada disso! Sua Excelência tem a obrigação de saber que a responsabilidade também faz parte do cargo que ocupa. Mesmo que não venha escrita no seu cartão de visitas. O ditado é velho como Matusalém, mas continua actual: Mentira de pobre é feitiçaria; a de ministro, estratégia de governação. Pois! E assim vamos, cantando e rindo. Quem escorregar na verdade, se não tiver cartão de partido, tropeça é na cela. E por lá fica. Sem apelo nem plateia.

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