Ah, as nossas gloriosas bandeiras dos 50 anos de independência! Que símbolo! Que emoção! Que... excelente oportunidade de negócio, não é?
É impossível não recordar o 11 de Novembro de 1975, quando a primeira
bandeira de Angola foi hasteada – feita à mão, com fibra de esperança, fio de
luta e costurada com patriotismo genuíno. Não tinha etiquetas "Made in
China", não tinha contrato milionário, não tinha nada... além de dignidade
nacional.
Hoje, meio século depois, cá estamos nós a festejar com pompa e... pano
caro. Muito caro. Segundo dizem, foram apenas 20 milhões de dólares para
adquirir 210 mil bandeiras. Só isso. Um singelo presente à pátria, num país
onde a fome ainda faz fila e o desemprego virou rotina.
E o mais irónico? Estas bandeiras nem sequer seram feitas por angolanos.
Num país onde se fala tanto de empreendedorismo, onde jovens são arrastados
para centros de formação técnica e profissional, onde se promove o “faça
acontecer” nos municípios – não se conseguiu, entre tantas costureiras,
alfaiates, cooperativas e oficinas comunitárias, produzir uma simples bandeira?
Com 20 milhões, poderíamos ter feito muito mais do que só pano com três
cores. Poderíamos ter aquecido a economia local, gerado empregos, incentivado o
orgulho nacional com produção interna. Mas não. Era mais prático importar da
China – onde, curiosamente, cada bandeira custa entre 1 e 3 dólares.
No final, resta-nos hastear a bandeira com lágrimas nos olhos… não de
emoção, mas de indignação. Resta-nos cantar o hino com um nó na garganta – não
de patriotismo, mas de vergonha.
Viva a independência! Viva o empreendedorismo de importação! Viva a
bandeira dos 20 milhões, feita lá fora, com o nosso dinheiro cá de dentro!
Porque, em Angola, até o patriotismo tem margem de lucro.
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