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O PR João Lourenço não pode fazer milagres em relação à RDC Congo - Nsambanzary Xirimbimbi

 A mediação e resolução de conflitos é ineficaz, se as partes não estiverem a negociar de boa fé. Angola é um bom exemplo disso, falhou Bicesse, falhou Lusaka e todas as outras tentativas, antes dos Acordos do Luena em 2002.

É isso mesmo, a mediação e resolução de conflitos dependem fundamentalmente da boa fé das partes envolvidas. Sem um compromisso genuíno com a negociação, qualquer acordo se torna apenas papel sem substância. Angola é, de facto, um exemplo claro disso. Tanto os Acordos de Bicesse quanto os de Lusaka falharam porque, apesar das assinaturas, havia falta de confiança mútua e, muitas vezes, agendas ocultas que priorizavam interesses políticos e militares acima da paz.

Foi somente com os Acordos do Luena, em 2002, que se conseguiu um avanço significativo, e isso ocorreu porque as condições mudaram drasticamente, e as partes perceberam que a guerra já não tinha mais razão de ser. Esse caso mostra que, sem boa fé e uma real disposição para priorizar a paz acima dos interesses individuais ou de grupo, qualquer tentativa de mediação está fadada ao fracasso.

Os Acordos do Luena só foram possíveis porque houve uma mudança de contexto e de interesses estratégicos que tornaram a guerra insustentável. Essa lição é crucial para entender que a mediação só funciona quando há vontade política real e disposição de abandonar agendas ocultas.

O Presidente João Lourenço, ao mediar o conflito na RDC, enfrenta um desafio semelhante. Ele não pode fazer milagres se as partes não demonstrarem compromisso sério com a resolução pacífica. A história de Angola serve como um alerta: sem confiança mútua e boa fé, nenhuma negociação trará paz duradoura. É preciso mais do que assinaturas; é preciso acções concretas que demonstrem uma verdadeira busca pela estabilidade e pelo entendimento.

Culpar injustamente o Presidente João Lourenço pela situação na RDC, especialmente pelo facto de o M23 estar a violar os acordos, desconsidera essa realidade. Um mediador pode criar condições, facilitar o diálogo e propor soluções, mas não tem controle directo sobre as acções ou intenções das partes.

A tomada de no terreno de determinadas regiões e localidades na RDC, pelo M23 é, de facto, uma violação dos Acordos de Luanda, mas isso reflete a falta de compromisso e de confiança mútua entre os envolvidos, em particular a RDC e o Rwanda, que tem sido acusado de apoiar o grupo rebelde. Esse tipo de dinâmica destrói os esforços de mediação, pois enquanto há negociações, acções como essas mostram que uma ou ambas as partes estão a agir de má fé.

JLo pode estar a desempenhar o seu papel de mediador, mas não pode controlar os interesses estratégicos ou as intenções ocultas das partes. A responsabilidade por esse impasse deve ser colocada onde realmente pertence: sobre aqueles que não estão dispostos a priorizar a paz e a estabilidade na região. Sem uma mudança genuína de postura, nenhuma mediação terá sucesso duradouro.

JLo não poderia, simplesmente, pegar nas FAA, que até têm capacidade superior ao M23, Rwanda e RDC e impor a paz. Não é assim que a coisa funciona na vida real.
A mediação não funciona com imposições militares, mesmo que se tenha capacidade para tal. João Lourenço, como mediador, tem o papel de criar condições para o diálogo, promover entendimentos e incentivar compromissos entre as partes, e não de intervir militarmente para impor a paz.

O uso das Forças Armadas Angolanas para resolver o conflito na RDC seria uma violação dos princípios de neutralidade e imparcialidade que regem a mediação. Além disso, uma solução imposta pela força dificilmente seria sustentável, pois não resolve as causas subjacentes do conflito, apenas agrava as tensões e gera novos ressentimentos.

A verdadeira paz só pode ser alcançada quando as partes envolvidas se comprometem genuinamente com o diálogo e a reconciliação. Cabe ao mediador facilitar esse processo, mas não pode ser responsabilizado pelo fracasso, caso as partes não estejam dispostas a negociar de boa fé. A mediação é, acima de tudo, uma ferramenta de construção de pontes, não uma estratégia de imposição.

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